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Radar econômico

Transporte público gratuito em Paris: uma ideia viável?

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E se os transportes públicos fossem gratuitos nas grandes cidades? A ideia parece insustentável do ponto de vista econômico, mas metrópoles como Paris e Essen, na Alemanha, analisam implantá-la. Na capital francesa, os habitantes com mais de 65 anos e de baixa renda ficarão isentos do pagamento da rede de ônibus e metrôs a partir de junho.

Metrô de Paris é um dos mais completos da Europa.
Metrô de Paris é um dos mais completos da Europa. MARTIN BUREAU / AFP
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Na França ou na Alemanha, o principal objetivo do projeto é diminuir a poluição: a medida incitaria os motoristas a deixar os carros em casa e a adotar o transporte público. Na avaliação da prefeita socialista de Paris, Anne Hidalgo, trata-se também de promover mais justiça social, ao viabilizar acesso universal a um serviço que, para muitos, representa um peso considerável no orçamento. Atualmente, o bilhete único mensal na região de Paris custa 75,20 euros.

“Há pessoas que têm dificuldades de conseguir emprego porque não tem acesso aos transportes. A mobilidade deveria ser considerada um serviço de primeira necessidade”, explica o secretário municipal dos Transportes, Christophe Najdovski. “É uma questão econômica, mas também social, ambiental, humana. Temos que permitir que todos sejam móveis, em especial nas grandes cidades.”

Trânsito na rua de Rivoli, centro de Paris. Foto do 23/08/01
Trânsito na rua de Rivoli, centro de Paris. Foto do 23/08/01 JEAN-LOUP GAUTREAU / AFP

Resta a questão delicada do financiamento. O transporte público na região parisiense custa € 10 bilhões por ano, dos quais 28% são bancados pelos usuários – ou seja, seriam € 2,8 bilhões a menos para manter e melhorar a rede. A prefeitura parisiense encomendou um estudo sobre o tema para especialistas franceses e estrangeiros, que responderão se é possível ampliar a medida. Ao lado de Paris, a Alemanha estuda a aplicação da gratuidade em cinco cidades do país, como Essen e Bonn.

Na capital da Estônia, é grátis

O transporte gratuito já é uma realidade na capital da Estônia, Talin, e em dezenas de cidades do mundo. Nas pequenas, até 200 mil habitantes, muitas prefeituras conseguem proporcionar a gratuidade em toda a rede. É o caso de mais de 30 localidades francesas. Já nas metrópoles, como a capital da Noruega, Oslo, apenas algumas linhas ou certos horários dispensam o pagamento.

Talin adotou a medida por referendo, em 2013, e afirma ter conseguido compensar a perda financeira com a elevação da arrecadação na zona urbana. A gratuidade dos transportes fez a população crescer 6%, alega a prefeitura.

Na visão do economista Yves Crozet, especialista em transportes, essa solução é adaptada apenas para as cidades pequenas, com linhas e número de usuários limitados. Nestes casos, a gratuidade chega a sair mais barato, com a economia de custos de venda e controle de passagens.

Metrô de Paris é um dos mais completos da Europa.
Metrô de Paris é um dos mais completos da Europa. Anoushka Notaras

Mas, para financiar a medida nas metrópoles, só haveria duas soluções: elevar os impostos ou adotar um pedágio urbano para os veículos, a exemplo de Londres e Estocolmo. No caso da região parisiense, os 4 milhões de carros teriam de pagar cerca de € 60 por mês de pedágio para compensar a gratuidade dos transportes.

“Em resumo, a gratuidade só faz sentido quando o transporte coletivo é um fracasso, ou seja, quando há muito poucos usuários, como os estudantes, os idosos e os que não têm carro. Mas quando você precisa desenvolver os transportes públicos, investir, evidentemente a gratuidade se torna um problema a longo prazo”, afirma Crozet, professor da Universidade de Lyon.

Impacto negativo na política de mobilidade

Apesar de popular, a medida conta com pouco apoio junto a especialistas em mobilidade. O urbanista Frédéric Héran, da Universidade de Lille 1, argumenta que, em vez de incitar os motoristas a abandonar os carros, a proposta induz os ciclistas a aposentar as bicicletas. Depois, são os pedestres que prefeririam andar de ônibus e metrô, em vez de caminhar. Os jovens seriam os primeiros a ceder à “tentação”. Héran chama atenção para o aumento dos custos ligados a um problema de saúde pública: o sedentarismo.

“O potencial do uso da bicicleta em Paris é gigantesco: apenas 4% dos parisienses usam esse meio de transporte cotidianamente. Transformar o transporte gratuito significaria limitar esse potencial. Seria uma pena”, explica Héran. “Sem contar que hoje as pessoas são cada vez mais sedentárias: se elas pudessem ao menos se exercitar um pouco para ir ao trabalho, seria uma ótima ideia. Mas essa medida faria elas ficarem ainda mais sedentárias – e precisamos promover o contrário.”

Ampliação da rede ainda mais difícil

A questão da perda da qualidade também preocupa. Com mais usuários, os custos de manutenção se elevam, ao mesmo tempo em que as receitas, caem. Aumentar a rede se torna uma missão delicada.

A equação fica ainda mais complexa num momento em que a região parisiense se organiza para investir 50 bilhões de euros em transportes, para ampliar a rede de metrôs nas periferias, dentro do megaprojeto Grand Paris.

No Brasil, cerca de 15 cidades disponibilizam transporte grátis – a maioria tem no máximo 50 mil habitantes.

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