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Saúde em dia

Uso inadequado de remédios provoca mais de 10 mil mortes por ano na França

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A utilização incorreta de medicamentos causa mais de 130 mil hospitalizações no país, segundo dados divulgados em março pelo LEEM, coletivo francês que reúne médicos, farmacêuticos, laboratórios, empresas ligadas à saúde e representantes da indústria farmacêutica.

Uso inadequado de remédios provoca mais de 10 mil mortes por ano na França
Uso inadequado de remédios provoca mais de 10 mil mortes por ano na França Divulgação EmpresasDivulgação LEEM/Michel Hasson
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Os números preocupam o governo francês e foram tema de um seminário organizado no final de março entre o coletivo, que também lançou um guia para a população, e a ministra da Saúde Agnès Buzyn, que considera a questão um problema de saúde pública. Os pacientes franceses mais afetados pelo uso inadequado dos remédios são os idosos entre 75 e 84 anos: eles tomam cerca de quatro comprimidos por dia e têm diversas patologias.

O médico francês Eric Baseilhac, diretor do LEEM, explica que há anos os profissionais da área tentam reverter essa situação. Entre 2015 e 2018, o coletivo criou um programa de ação que foi apresentado à ministra francesa durante um colóquio em Paris, em 22 de março. No encontro, foram detalhadas as dez metas para diminuir os casos fatais e hospitalizações decorrentes do uso incorreto dos remédios.

Uma delas é uma campanha para sensibilizar a população, que visa estimular o contato mais próximo entre o paciente e o médico. Erros de administração, na dosagem e na interação das substâncias podem provocar um fenômeno conhecido como iatrogenia: trata-se de doenças ou complicações resultantes do tratamento médico.

“O remédio não mata nem hospitaliza. Poder tomar remédio é uma sorte para os pacientes. O mau uso do medicamento, por outro lado, pode trazer consequências negativas. Sabemos que, na metade dos casos, os acidentes com as substâncias, fatais ou não, poderiam ter sido evitados”, diz Baseilhac.

Segundo ele, as interações medicamentosas são um dos principais problemas observados. “Se receitamos, por exemplo, um remédio que dá sono ou afeta a consciência, e ele é receitado para uma pessoa idosa, que toma anticoagulantes, há risco de queda e hemorragias que são potencialmente graves”, explica.

Os pacientes que usam várias moléculas também podem confundir os nomes dos remédios ou se esquecer de tomar os comprimidos. Por isso os profissionais da saúde também esperam que as embalagens sejam modificadas para que os pacientes possam identificá-las mais facilmente. Além disso, ele considera que a colaboração entre os profissionais de saúde é essencial, melhorando a relação entre o clínico-geral e o farmacêutico, por exemplo.

Uma das ideias é criar um programa de troca de mensagens instantâneas entre o médico da família e o farmacêutico, para que eventuais dúvidas sobre a receita e a posologia possam ser esclarecidas. Outra medida importante é possibilitar o acesso da farmácia ao dossiê digital do paciente, que terá o histórico de consultas e uso de medicamentos. A França, diz Baseilhac, está dando início à formatação desse tipo de dossiê, e está atrasada em relação a outros países europeus. “A colaboração é essencial”, afirma.

França é campeã de uso (e mau uso) de ansiolíticos

Uma das preocupações da ministra francesa Agnès Buzyn, que é médica, é o abuso de medicamentos vendidos sem receita. As substâncias têm concentrações cada vez mais fortes disponíveis no mercado, se tornando potencialmente mais tóxicas. Fazem parte desse grupo anti-inflamatórios como o ibuprofeno ou a aspirina. A França também é um dos países europeus que mais utiliza antibióticos e ansiolíticos, o que Buzyn considera um “triste recorde”.

“Em nível europeu, o consumo de medicamentos diminuiu na França em relação à média europeia, exceto em relação a duas categorias de remédios. Uma delas é a benzodiazepina, usada contra a angústia, muito prescrita para pessoas idosas, e que pode provocar quedas, desmaios e perda de memória, com efeitos muito negativos”. Para o médico francês, a prescrição excessiva dos ansiolíticos pode ser cultural. “É uma questão complexa, dizem que os franceses são menos animados do que outros povos. Não sei! Talvez seja o nosso lado resmungão que nos faz afirmar isso.”

Os franceses também usam cinco vezes mais antibióticos, em volume, do que seus vizinhos europeus. Um perigo para o paciente e para a população, já que uso excessivo de medicamentos como a amoxicilina, por exemplo, pode gerar uma resistência das bactérias obrigando os médicos a prescreverem moléculas mais poderosas.

Novas tecnologias a serviço do paciente

Os objetos conectados, explica o diretor francês da LEEM, também poderão, no futuro, ajudar pacientes e médicos a monitorarem o tratamento e o uso dos medicamentos de maneira mais adequada. Para discutir essas questões, o coletivo pretende propor à ministra da Saúde que, a partir de 2019, 22 de março se transforme no Dia “do uso correto do medicamento”.

Ao mesmo tempo, um Congresso Mundial sobre o tema será lançado na França, que deverá reunir médicos, farmacêuticos e enfermeiras, para falar de inovação e dos benefícios que ela pode trazer para controlar essa situação. “Esta será a ocasião para discutir o uso de ferramentas digitais, objetos conectados que vão ajudar o paciente a utilizar corretamente os remédios”.

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