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RFI Convida

“Assassinato de Marielle foi recado enviado a ativistas e parlamentares de esquerda”, diz Marcia Tiburi

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A filósofa Marcia Tiburi vem se especializando nos últimos anos numa análise profunda da sociedade brasileira contemporânea. Depois do sucesso dos livros “Como conversar com um fascista” (Record, 2015) e “Ridículo Político” (Record, 2017), ela lança neste fim de semana no Salão do Livro de Paris a obra “Feminismo em Comum” (Rosa dos Tempos, 2018). Durante o RFI Convida desta sexta-feira (16), a escritora falou sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ), feminismo e política.

A filósofa e escritora Marcia Tiburi.
A filósofa e escritora Marcia Tiburi. RFI/Élcio Ramalho
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Marcia Tiburi que, além do Salão do Livro, participa do Primavera Literária Brasileira, evento promovido pelo professor Leonardo Tônus (Sorbonne) em Paris, falou sobre a possibilidade de uma reviravolta social após o assassinato de Marielle Franco, que ela conhecia e cujo trabalho apreciava. “É bem difícil avaliar isso nesse momento em que o Brasil está consternado, as pessoas estão nas ruas mas nós não sabemos se a população consegue manter esse clima efervescente, essa movimentação, para lutar pelas causas defendidas pela Marielle Franco”, avalia. “Tenho uma esperança que as pessoas se mantenham nas ruas, que se mobilizem, que os movimentos avancem, que os coletivos cresçam, mas ao mesmo tempo a nossa cultura política vai muito mal”, pontua.

“Marielle Franco representava muita coisa no Brasil, muita coisa no Rio de Janeiro, representava o pensamento mais crítico, a forma de fazer política mais desejável porque era uma jovem de 38 anos, negra, nascida na favela da Maré, que falava sobre Direitos Humanos e das causas mais importantes para o feminismo, o feminismo negro, uma lutadora da ação, da prática”, analisa a filósofa e escritora.

Assassinato de Marielle foi “recado”

“A impressão que eu tenho é que Marielle Franco foi assassinada para criar um exemplo, que serve tanto aos parlamentares mais críticos, como ela, e que estão numa posição indesejável para os donos do poder, aqueles que lutam por Direitos Humanos, aqueles que renunciam, aqueles que movem simbolicamente a população para um outro tipo de pensamento, antifascista, anticapitalista, antirracista, pelos direitos relacionados a gênero e sexualidade, como era o caso de Marielle”, diz.

 “É um recado enviado aos parlamentares de esquerda”, afirma Tiburi. “Mas é também um recado enviado à população: ‘nós podemos matá-lo’. Para jovens negros e jovens negras, militantes, ativistas, juvenis, mirins... Há uma matança dos jovens negros nas favelas brasileiras no Rio de Janeiro. Não é à toa a intervenção militar, com um cunho ‘espetaculoso’ e que visa sinalizar simbolicamente para a situação quem é que manda. Marielle foi exterminada e sacrificada neste sentido”, analisa.

Crime político faz o Brasil “retornar ao pior de sua própria História”

Marcia Tiburi afirma que o assassinato da vereadora foi um “crime político da pior espécie”. “É todo um projeto que envolve uma economia política que manda no Brasil hoje. Sabemos que vivemos na instauração de um neoliberalismo que tenta se aprofundar e que faz o Brasil retornar ao pior de sua própria História, sua escravização, hoje com a perda dos direitos trabalhistas, com a reforma da Previdência. Isso faz o Brasil voltar aos anos 1960, da ditadura militar”, contextualiza.

“Os procedimentos de matar algumas pessoas para dar exemplos que servem para todos, para aqueles que têm algum desejo de transformação, é para acabar com a ideia de que a democracia é possível. E para acabar, evidentemente, com o propósito de um outro mundo possível, que é o que a esquerda no Brasil tem tentado levantar como possibilidade”, critica.

Feminismo no Brasil

Antes de lançar o livro “Feminismo para todos” no Salão, Márcia participa de uma mesa ao lado de Adriana Calcanhoto na universidade Sorbonne, dentro da programação da Primavera Literária Brasileira em Paris. Na quinta-feira (15), a filósofa esteve em Rennes, falando sobre o atual panorama brasileiro.

“De fato no Brasil há um movimento feminista que cresce, que aparece, e com formas muito variadas, então hoje a gente vê as feministas brasileiras que eram jovens nos anos 1960 se reunindo com as garotas de 17, 18 anos, que fazem um feminismo diferente hoje. Isso é o que há de bonito no Brasil hoje em termos de política”, afirma. Marcia Tiburi conta que o livro “Feminismo em Comum” foi escrito em “tom de crônica”. “Eu falo da minha própria relação com o feminismo, de como eu me tornei feminista como professora de filosofia, como a minha politização tem relação direta com a compreensão do feminismo”, conta.

“No Brasil temos um feminismo muito diverso e algumas pessoas interpretam como sendo dividido. Eu sempre acho que essa ideia da divisão é muito plantada pelos algozes, pelos inimigos misóginos do feminino. Eu prefiro pensar que a gente vive uma característica política bacana que é o dissenso”, avalia.

Filiação ao PT

Marcia Tiburi, que já foi filiada ao PSOL e já criou a Partida, movimento político de mulheres, explica porque decidiu se filiar ao PT recentemente. “Eu me filiei ao Partido dos Trabalhadores primeiro para ir na contramão da História. Segundo, para ir na contramão dos ‘afetos odientos’ que hoje pesam sobre o Brasil. Também para propor mais gratidão e menos inveja em relação ao PT e sobretudo para estar junto do povo, porque o povo é petista e eu achei que isso era uma necessidade nesse momento”.

Para ver a entrevista, clique no vídeo abaixo:

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