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Planeta Verde

2017: o ano em que duvidamos perigosamente do aquecimento global

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O ano de 2017 reservou para o Meio Ambiente aquilo que era impensável nas décadas anteriores: a maior potência mundial, os Estados Unidos, decidem se retirar do primeiro consenso planetário sobre o Clima, o Acordo de Paris de 2015. Energia nuclear, agrotóxicos, Cop23: entre altos e baixos, veja o que este ano que passou destinou à defesa (ou não) do planeta.

Maquete simbólica do planeta Terra em 6 de novembro de 2017, durante a Conferência do Clima COP23 em Bonn, na Alemanha.
Maquete simbólica do planeta Terra em 6 de novembro de 2017, durante a Conferência do Clima COP23 em Bonn, na Alemanha. AFP
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A eleição presidencial norte-americana de 8 de novembro de 2016 não redefiniu apenas um novo rosto e uma nova tendência de governança mundial. As consequências deste pleito estendem-se para fora do "America First" de Donald Trump, o slogan de sua campanha que preconizava uma ruptura definitiva entre os Estados Unidos e o resto do mundo.

A reiterada decisão do presidente Donald Trump de dar as costas aos compromissos selados durante o Acordo de Paris, de 2015, vem tendo efeitos colaterais em todo o mundo. Em entrevista à RFI Brasil, o professor de desenvolvimento sustentável na Sciences Po de Paris, Henri Landes, comentou o assunto, temendo um atraso de “um século”.

Trump gesticula se referindo às mudanças climáticas, durante anúncio da retirada dos EUA do Acordo de Paris.em 1° de junho de 2017.
Trump gesticula se referindo às mudanças climáticas, durante anúncio da retirada dos EUA do Acordo de Paris.em 1° de junho de 2017. REUTERS/Kevin Lamarque

"Donald Trump é um negacionista da mudança climática - é desta forma que ele mesmo se define. Segundo ele, o aquecimento global é algo criado pelos chineses para enfraquecer a economia americana. E, sobre isso, eu tenho vontade de dizer: 'no comment!'. Porque essa é uma consideração obscura. Para ele, proteger o meio ambiente é algo que prejudica a economia, o que é uma regressão em relação ao que o mundo inteiro acredita hoje", disse o professor, antecipando a tragédia.

O ministro da Ecologia francês, Nicolas Hulot, classificou o gesto de Trump como um “tapa” na humanidade. “Desculpem-me dizer isso, mas não é apenas o planeta que está em risco... O planeta, do ponto de vista geológico, se ele desaparecesse, seria um não-evento. O problema é a humanidade... Não quero forçar a barra, mas precisamos nos dar conta que estamos em um momento muito crítico, não era hora de receber este tipo de ‘tapa’ ", disse à RFI na ocasião do anúncio da saída dos EUA do Acordo de Paris.

Depósito de lixo eletrônico em Kualar Lumpur na Malásia
Depósito de lixo eletrônico em Kualar Lumpur na Malásia Manan VATSYAYANA / AFP

50 milhões de toneladas de lixo eletrônico

A perspectiva para 2017 já fazia tremer as barbas do velho Netuno - de acordo com o Programa para o Meio Ambiente da ONU, o Pnuma, a quantidade de lixo eletrônico descartado neste ano em todo o mundo deve chegar a 50 milhões de toneladas. A ambientalista Ana Maria Dominguez Luz, presidente do Instituto GEA, Ética e Meio Ambiente, explicou o perigo do descarte desses materiais como resíduo convencional. 

"Como dentro de um produto eletrônico há metais pesados como Mercúrio, Cádmio, Chumbo, se isso vai parar na rua, na beira de um rio ou em aterros clandestinos, você tem uma contaminação do meio ambiente em volta", explicou.

No Velho Continente, duas questões centralizaram as atenções este ano, sinalizando a necessidade de novos hábitos e procedimentos: o uso do polêmico agrotóxico glifosato  (conhecido como Round-up no Brasil) na agricultura e o abandono progressivo da energia nuclear.

Se os Estados-membros da União Europeia votaram no fim de novembro de 2017 pela prolongação da licença do glifosato por mais cinco anos, provocando a fúria das ONGs de proteção ao meio-ambiente e do governo francês, a saída do nuclear não será para agora: a França adiou a meta de redução de 50% da produção de energia nuclear de 2025 para 2035.

Mas nem tudo foi decepção para os defensores franceses do Meio Ambiente: o país ganhou em 2017 o primeiro partido político em defesa dos direitos dos animais, o Parti Animaliste (PA), e os sacos plásticos foram proibidos em todos os supermercados.

Manifestação durante a COP23, que terminou seu nenhum avanço concreto sobre o regulamento do Acordo de Paris.
Manifestação durante a COP23, que terminou seu nenhum avanço concreto sobre o regulamento do Acordo de Paris. REUTERS/Wolfgang Rattay

"Más notícias" vindas do Brasil

Já o Brasil foi extremamente criticado durante a sua participação na COP23, em Bonn, na Alemanha, pelas escolhas feitas pelo governo em 2017, consideradas pelo secretário-executivo do Observatório do Clima, Carlos Rittl, como "más notícias".

Perde o clima e perde também o país. A gente vai aumentar as nossas emissões e não vai ter ganhos na nossa economia. A gente está investindo numa economia do passado, apostando ainda muito em combustíveis fósseis, colocando muito pouco recurso na agricultura de baixo carbono e ameaçando as nossas florestas através desses retrocessos decididos em Brasília, por conta da crise politica, afirmou o especialista.

Artista plástico Frans Krajcberg foi condecorado em Paris
Artista plástico Frans Krajcberg foi condecorado em Paris Espace Frans Krajcberg

O ano não foi bom para as questões relativas ao Clima no Brasil. Para piorar a situação, perdemos Frans Krajcberg no final do caminho, e a estrada parece ainda ser longa. 

Nova cúpula de Paris: reunindo investimentos contra aquecimento global

Fechamos o ano tentando recuperar o tempo perdido e estancar a ferida aberta pela decisão do novo presidente dos Estados Unidos de retirar seu país dos compromissos assinados pelo Meio Ambiente. Dois anos depois da histórica Conferência do Clima de Paris, a capital francesa recebeu no dia 12 de dezembro uma nova cúpula, focada na ação da iniciativa privada e dos bancos de investimentos para financiar as ações contra as mudanças climáticas.

Segundo Nicolas Hulot, ministro da Ecologia da França, o dinheiro é sim um fator muito importante na luta contra o aquecimento global. “O dinheiro não resolve tudo, mas é uma questão central nesta guerra... Se não alinharmos os investimento públicos e privados de bancos multilaterais com os objetivos do Acordo de Paris, esses objetivos continuarão na gaveta...”, afirmou em entrevista à RFI, durante a cúpula de dezembro. 

Agora é torcer para que neste cabo de guerra entre forças progressistas e reacionárias, o Meio Ambiente e o planeta sejam os grandes vencedores em 2018, ao lado de novas tecnologias limpas e uma maior conscientização planetária sobre o aquecimento global.

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