Para os franceses, triar o lixo é quase tão importante quanto votar
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Pesquisas realizadas na França mostram que triar o lixo doméstico é considerado o segundo gesto cidadão mais importante para os franceses depois de votar nas eleições. A preocupação com a reciclagem do lixo aumentou com a consciência de que o modo de vida consumista ocidental favorece o aquecimento global.
A coleta seletiva do lixo foi introduzida na França nos anos 1990, quando as prefeituras instalaram contêineres para depósito de papel, plástico, vidro e metais nas ruas. Em 30 anos, o sistema evoluiu bastante. Hoje, os franceses são estimulados a triar o máximo de produtos na hora da compra, adquirindo embalagens que podem ser recicladas.
Na casa de um francês, nos prédios residenciais e comerciais existem quatro tipos de lixeira diferentes, que são recolhidas em dias alternados da semana. São lixeiras padronizadas, geralmente de cor cinza com tampas distintas: preta, para o lixo orgânico; verde para vidro; amarela para plástico, papelão e metal. Em algumas cidades existem latas de lixo com tampa azul, para coleta exclusiva de jornais, folhetos de propaganda e papéis.
A coleta de entulho tem um tratamento diferenciado. Em Paris, por exemplo, o morador telefona à prefeitura e pede a passagem do caminhão num horário a combinar. O serviço é gratuito.
Em cidades menores, os moradores podem colocar o entulho na calçada na véspera da passagem do caminhão, previamente comunicada pela prefeitura. A coleta acontece em dias fixos da semana, geralmente duas vezes por mês. É quando se vê muita gente nas ruas à caça de um eletrodoméstico velho, um colchão usado, móveis e outros achados.
Francês produz muito lixo
Um francês produz em média 580 quilos de lixo por ano, o dobro do que 30 anos atrás. Ainda é menos do que um americano, com uma média de 700 quilos por ano, mas é quase o dobro do que há cinco anos.
Um terço do lixo gerado pelos franceses é composto de embalagens recicláveis, cerca de 200 quilos são resíduos orgânicos. O problema é que um terço ainda se perde, não tem solução de reciclagem.
Um dos maiores desafios cobrados hoje da indústria é que se possa reaproveitar sistematicamente tudo o que é produzido, a chamada economia cíclica. Na França, a indústria alimentícia desenvolveu embalagens recicláveis para praticamente tudo o que é vendido nos supermercados. O reconhecimento se faz por um selo verde. Mas alguns produtos ainda escapam a essa tendência, sobretudo certos tipos de plástico usados em utensílios de cozinha e brinquedos – a boneca americana mais famosa do mundo, por exemplo, que é vendida em grande quantidade na França, não pode ser reciclada. Materiais de construção e jardinagem também não são reaproveitados como deveriam, segundo especialistas.
Supermercados aboliram sacos plásticos finos
A França aboliu o saco plástico para transporte das compras nos supermercados. O cliente é obrigado a pagar por uma sacola reutilizável. Na área de frutas e legumes, voltaram os sacos de papel de padaria, reciclados. Mesmo assim, a França ainda poderia fazer bem mais nessa área: no ranking de 28 países da União Europeia, os franceses ocupam a 13ª posição em reciclagem. Alemanha, Áustria e Eslovênia são campeões. Os alemães reciclam cerca de 67% do que consomem, contra 45% na média europeia. Eslováquia, Romênia e Malta são os últimos da classe.
Eletrônicos
O lixo eletrônico virou um desafio no mundo inteiro, já que a indústria de eletroeletrônicos é uma das que mais cresce atualmente. A França produz anualmente 1,3 milhão de toneladas desse tipo de lixo. Pontos de coleta específicos recolhem esses objetos descartados.
O país conta com uma legislação rígida sobre a questão, mas, há alguns anos vem enfrentado um outro problema: a presença do bromo, um elemento altamente tóxico, em quase 40% de seus produtos. O pó proveniente da reciclagem do plástico bromado é potencialmente perigoso para a saúde, o que levou o governo francês a terceirizar a reciclagem para outros países.
Pilhas, remédios e roupas
A reciclagem das pilhas é muito simples: nas empresas, supermercados e outros pontos de venda existem pontos de coleta. As farmácias recuperam os remédios vencidos. Já as roupas podem ter dois destinos: dois contêineres, um para doação de roupas ainda em bom estado e outro para tecidos muito estragados, recebem as peças. Associações humanitárias examinam o material e despacham para doação ou diretamente para reciclagem do tecido ou do couro.
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