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França

Macron é criticado por autoritarismo após demissão de chefe das Forças Armadas

O chefe do Estado-Maior das Forças Armadas da França, Pierre de Villiers, pediu demissão nesta quarta-feira (19). Há uma semana, ele estava em conflito com o presidente Emmanuel Macron sobre o orçamento da Defesa, que sofreu um corte de € 850 milhões em 2017, cerca de R$ 3,1 bilhões, definido pelo governo.

O presidente Emmanuel Macron à frente do chefe do estado-Maior das Forças Armadas, Pierre de Villiers, no desfile militar de 14 de julho de 2017, em Paris.
O presidente Emmanuel Macron à frente do chefe do estado-Maior das Forças Armadas, Pierre de Villiers, no desfile militar de 14 de julho de 2017, em Paris. Michel Euler / POOL / AFP
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O general havia criticado o plano de economias do novo presidente francês em uma audiência na Comissão de Defesa da Assembleia Nacional. Irritado com o que considerou "um comentário indigno", Macron repreendeu duramente o militar. Após a troca de farpas entre os dois homens, a situação do general havia ficado insustentável. Mas a oposição viu na advertência severa de Macron uma atitude autoritária.

Em comunicado divulgado nesta manhã, o general De Villiers, 60 anos, disse não ser mais capaz de perpetuar o modelo de exército que acredita necessário para garantir a proteção da França e dos franceses. A demissão foi aceita por Macron, que constitucionalmente também é o chefe máximo das Forças Armadas. De Villiers estava no posto desde janeiro de 2014.

Em substituição ao militar afastado, Macron nomeou François Lecointre, que ocupava o cargo de chefe do gabinete militar do primeiro-ministro Édouard Philippe, para a função do Estado-Maior.

Sem papas na língua

O general De Villiers era um defensor do aumento do orçamento da Defesa até atingir a marca de 2% do PIB. No meio militar, são frequentes os comentários sobre o sucateamento dos equipamentos franceses e as dificuldades que os soldados enfrentam atualmente, envolvidos em várias missões no exterior. Ele também preferia investir na formação das tropas, em detrimento de armamentos caros e ultrassofisticados, nem sempre úteis em um contexto cada vez mais frequente de conflitos em zonas urbanas e densamente povoadas.

Apreciado por seus pares e subalternos, De Villiers é considerado um militar íntegro, áspero e discreto. Mas no dia 12, quando esteve na Comissão de Defesa da Assembleia, ele disse aos deputados que não se deixaria "f**** dessa maneira". Alguns colegas minimizaram a derrapada verbal, afirmando que os militares utilizam uma linguagem "franca e viril".

"Eu sempre defendi, desde a minha nomeação, um modelo de Forças Armadas que assegurasse a coerência entre as ameaças que pesam sobre a França e a Europa, as missões do exército que não param de crescer e os meios de capacitação e orçamentários para cumprir essas tarefas", declarou o chefe do Estado-Maior em seu comunicado de demissão. "Na mais estrita lealdade, que nunca deixou de ser a base da minha relação com a autoridade política e a representação nacional, estimei que era meu dever fazer parte das minhas reservas, em várias ocasiões, a portas fechadas, com toda transparência e sinceridade", acrescentou.

Na sexta-feira passada, dia do desfile militar anual de comemoração do 14 de Julho, De Villiers publicou uma tribuna no jornal Le Figaro defendendo "o princípio de coerência entre as ameaças, as missões e os meios" à disposição das Forças Armadas. Mas Macron, chamado de autoritário por opositores, considerou as críticas "indignas".

"Eu assumi compromissos e sou o seu chefe", retrucou o presidente. "Saberei cumprir o que prometi aos franceses, às Forças Armadas, e não preciso de nenhuma pressão ou comentários", rebateu Macron, escancarando em público suas divergências com o general.

Reações

A demissão do chefe do Estado-Maior provocou reações imediatas.

A deputada de extrema-direita Marine Le Pen, da Frente Nacional, afirmou que a demissão do militar "ilustra as graves e preocupantes derivas de Macron, tanto em suas atitudes quanto em suas políticas". De acordo com Le Pen, derrotada por Macron na eleição presidencial, "humilhar um homem como o general De Villiers diante de suas tropas não é digno de um verdadeiro chefe das Forças Armadas". "Decepar o orçamento da Defesa, desprezando a avaliação que se faz sobre os perigos no mundo, não é digno de um chefe de Estado lúcido e responsável", reiterou.

O senador de direita Bruno Retailleau, do partido Os Republicanos, disse que "a saída era inevitável, porque Macron fez uma escolha pelo declínio das Forças Armadas francesas". "Abaixamos a guarda em um momento em que deveríamos aumentá-la. A luta contra os déficits não deveria enfraquecer a luta contra nossos inimigos. É uma falta grave", disse o senador.

O ex-ministro da Justiça Jean-Jacques Urvoas, do governo socialista de François Hollande, afirmou que Macron não reconhece "o direito de o Parlamento ser informado sobre o que acontece no país".

O deputado de esquerda radical Alexis Corbière, do partido França Insubmissa, considerou que o general cumpriu seu dever ao se expressar livremente.

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