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França/Política

Descendentes de imigrantes vão ter mais influência na nova Assembleia francesa

A França inaugurou nas últimas eleições legislativas um laboratório político que será analisado nos próximos anos por muitos observadores. O movimento de mudança liderado pelo presidente Emmanuel Macron provocou a renovação de 75% dos deputados do Parlamento francês e em aspectos inéditos. A Assembleia Nacional ganhou, além de um perfil mais jovem, um número maior de parlamentares da diversidade étnico-cultural que compõe a sociedade francesa há décadas, mas que se viam alijados da vida política pela elite dominante.

Novos deputados franceses (esq. para dir.): Typhanie Degois (LREM), 24 anos; Mounir Mahjoubi (LREM), 33; Ludovic Pajot (FN), 23; Sarah El Haïry (MoDem), 28; Laetitia Avia (LREM), 31; Robin Reda (LR), 26.
Novos deputados franceses (esq. para dir.): Typhanie Degois (LREM), 24 anos; Mounir Mahjoubi (LREM), 33; Ludovic Pajot (FN), 23; Sarah El Haïry (MoDem), 28; Laetitia Avia (LREM), 31; Robin Reda (LR), 26. Fotomontagem RFI/Reprodução vídeo/ wikipédia/ @FN/@EM
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Sob um sol escaldante e temperaturas de 35°C, os deputados recém-eleitos passaram a semana visitando as instalações do Palácio de Bourbon, sede do Parlamento francês nas proximidades da praça da Concórdia, em Paris. As 577 cadeiras forradas de veludo vermelho se preparam para receber 435 estreantes na primeira sessão na nova legislatura, marcada para 27 de junho.

A inexperiência dos novos deputados suscita questionamentos. Assim como a ideia de um presidente da República todo poderoso, "jupteriano" como apelidou a imprensa. Alguns acreditam que Macron só conseguiu convencer os franceses a assumir um risco dessa dimensão pela fraqueza dos rivais e adversários. Mas há muitos aspectos positivos nessa reviravolta.

Em 2012, os chamados parlamentares provenientes da imigração eram apenas oito e todos do Partido Socialista. Neste mandato serão 35, principalmente da chamada França metropolitana, ou seja, descontados os deputados eleitos nos territórios ultramarinos, em sua maioria negros e mestiços pela herança colonial. Dessa nova safra de afrodescendentes, árabes e asiáticos, a maioria pertence ao partido de Macron, A República em Marcha (LREM).

Deputados representantes de minorias triplicaram

É o caso da advogada de família togolesa Laetitia Avia, 31 anos, eleita na zona leste de Paris com quase 65% dos votos. Bem articulada, ela virou um símbolo do "macronismo" por ter nascido na periferia, em uma família pobre de origem africana, e ter superado a segregação social por mérito próprio. A deputada ingressou na universidade Sciences Po de Paris, reservada a alunos brilhantes, graças ao sistema de cotas criado pela instituição para atrair alunos de bairros desfavorecidos.

Ainda na galáxia de Macron, outra estrela é o empresário Mounir Mahjoubi, 33 anos, filho de operários marroquinos. Ele destronou em Paris um cacique socialista que era deputado fazia 20 anos, além de ser nomeado secretário de Estado de Tecnologia Digital no governo do primeiro-ministro Édouard Philippe.

A sigla de Macron ainda elegeu como deputados Hervé Berville, nascido em Ruanda, a vietnamita Stéphanie Do, o senegalês Jean-François Mbaye e Huguette Tiegna, nascida em Burkina Faso, entre outros parlamentares descendentes de imigrantes.

"É uma melhora considerável, os representantes da diversidade mais que triplicaram", comemora a porta-voz do Conselho Representativo de Associações Negras da França (Cran), Thiaba Bruni. O ex-presidente Nicolas Sarkozy tentou aplicar uma fórmula semelhante, mas que ficou restrita a alguns cargos ministeriais.

O movimento da esquerda radical França Insubmissa também fez um enorme esforço para apresentar candidatos de diversidade étnico-cultural. Mas dos 17 eleitos, apenas uma mulher tem esse perfil. É a antropóloga Danièle Obono, militante feminista e antirracista, nascida no Gabão em 1980. Em compensação, a esquerda radical terá a mais jovem bancada da Casa, com uma média etária de 43 anos. O deputado Adrien Quatennens, 27 anos, foi eleito no norte do país depois de militar em defesa dos sem-teto e na associação antiglobalização Attac.

O pesquisador do CNRS Éric Kerrouche, especialista em sociologia dos eleitos, diz que os partidos franceses perceberam a incoerência da falta de diversidade  desde o início do ano 2000, mas não fizeram o suficiente para superá-la. Nesse quesito, a direita responde pelo maior atraso. Só há europeus na bancada de 101 deputados do partido Os Republicanos (LR), maior força de oposição. A situação é idêntica entre os dez deputados do Partido Comunista e os oito parlamentares da Frente Nacional, de extrema-direita.

Kerrouche observa, no entanto, que a presença de minorias "visíveis" na Assembleia não deve camuflar o fato de que 68% dos candidatos do partido de Macron são provenientes das classes superiores, segundo um estudo do instituto Cevipof.

Idade: 32 deputados têm menos de 30 anos
 

Outro aspecto marcante da nova Assembleia é o número de deputados com menos de 30 anos, que passou de um para 32 representantes. O partido de Macron lidera nessa categoria, com 22 eleitos. O troféu de mais jovem deputado, curiosamente, fica para Ludovic Pajot, 23 anos, da Frente Nacional.

O frentista Pajot, formado em Direito, estreou cedo na política, ocupando cargos na administração regional no norte da França desde 2014. Xenófobo de carteirinha, ele defende posições duras contra os imigrantes e propôs, em uma reunião da câmara municipal de Béthune (norte), a adoção da menção "cidade sem imigrantes".   

No final do mês, a nova Assembleia Nacional começará a analisar três projetos de lei: um sobre a moralização da vida pública – após uma campanha desencadeada por diferentes escândalos político-financeiros –, outro para reforçar as medidas de segurança contra o terrorismo e um terceiro – talvez o mais polêmico de todos – sobre a reforma das leis trabalhistas.

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