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França

Macron esvazia partidos tradicionais e pode eleger 400 deputados

Os partidos de esquerda e de direita na França, que se alternam no poder há 60 anos, estão a caminho de sofrer uma nova derrota no próximo domingo (11), no primeiro turno das eleições legislativas. Os candidatos que se alinharam ao presidente Emmanuel Macron são favoritos, segundo pesquisas, e podem conquistar a maioria na Assembleia Nacional.

O partido de Emmanuel Macron deve conquistar ampla maioria parlamentar nas próximas eleições legislativas.
O partido de Emmanuel Macron deve conquistar ampla maioria parlamentar nas próximas eleições legislativas. REUTERS/Stephane Mahe
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As últimas pesquisas indicam que o movimento A República em Marcha (LREM), fundado há apenas um ano por Macron, aliado ao centrista MoDem, poderia eleger entre 385 e 415 deputados de um total de 577 vagas. Essa estimativa ultrapassa com folga a maioria absoluta de 289 cadeiras na Assembleia.

Há algumas semanas, parecia improvável que Macron, um centrista de 39 anos com pouca experiência política, pudesse conquistar uma maioria nas eleições legislativas de 11 e 18 de junho. Logo após a posse no cargo, em 14 de maio, sondagens mostravam que os franceses não estavam dispostos a dar carta branca a Macron.

Tudo mudou com as posições corajosas assumidas pelo jovem chefe de Estado em uma série de eventos internacionais. As declarações impactantes começaram no encontro do G7, na Itália, e continuaram na cúpula da Otan em Bruxelas, durante a visita de Vladimir Putin a Versalhes e no discurso em inglês em resposta a Donald Trump, depois que o republicano anunciou que os Estados Unidos iriam se retirar do Acordo de Paris sobre as mudanças climáticas. Os franceses redescobriram o prazer de ter um presidente, certamente impetuoso e mestre em comunicação política, mas que defende os interesses do país no cenário internacional. Ainda mais depois de cinco anos de titubeios do socialista François Hollande.

No plano interno, esta semana Macron lançou as bases do debate da reforma trabalhista, uma prioridade de seu governo, antes de conhecer o resultado das legislativas. O fato de estar cumprindo à risca o que prometeu na campanha, e dar a impressão de que não cederá a chantagens políticas, agrada a um bom número de franceses. A firmeza do presidente contra o terrorismo também é celebrada.

Uma pesquisa do instituto BVA mostra que 62% dos franceses aprovam a ação de Macron e do primeiro-ministro de direita, Édouard Philippe, de 46 anos, até então deputado e prefeito da cidade de Le Havre. Em 2012, François Hollande começou seu mandato com 61% de aprovação, enquanto Nicolas Sarkozy contava, em 2007, com 63% de opiniões favoráveis. 

"Melhor do que eu", diz Sarkozy

Sarkozy, aliás, estaria impressionado com o desempenho de Macron. O ex-presidente e adversário político teria dito a amigos que Macron tem se saído melhor do que ele em sua época. "Com a idade, tornei-me modesto: Macron é melhor do que eu. Ele é inacreditável. Até agora, fez tudo com perfeição. Se não cometer os mesmos erros que eu cometi, ele irá muito longe e ninguém poderá segurá-lo", teria dito Sarkozy a amigos, segundo relato do jornal Le Canard Enchaîné.

Caso os candidatos de Macron vençam as legislativas, essa vitória confirmaria a grave crise atravessada pelos partidos tradicionais franceses, com o surgimento de uma nova geração de deputados que renovaria profundamente a Assembleia Nacional.

O primeiro turno das legislativas dos franceses residentes no exterior, realizado no último fim de semana, foi uma prévia do "tsunami presidencial". O LREM liderou 10 das 11 cincunscrições eleitorais, incluindo a da América do Sul e do Caribe. Estas eleições são cruciais para o jovem presidente, eleito em parte por uma rejeição em massa ao partido de extrema-direita Frente Nacional (FN), de Marine Le Pen. Para governar e implementar sua ambiciosa agenda de reformas, o presidente pró-europeu precisa de uma clara maioria no Parlamento.

Contra um 'poder absoluto'

A três dias do primeiro turno, os partidos de esquerda e de direita alertam sobre os perigos de ter um Parlamento sem oposição. "Ter um jovem presidente trouxe um sopro de ar fresco para o país, o que é muito útil, mas isso não significa que ele deva governar sozinho", afirmou o ex-primeiro-ministro conservador Jean-Pierre Raffarin.

Na mesma linha, o líder da esquerda radical, Jean-Luc Mélenchon, que obteve 19,6% dos votos no primeiro turno da eleição presidencial de 23 de abril, pediu aos franceses que não deem a Macron um "poder absoluto".

A República em Marcha apresentou um total de 530 candidatos para as eleições parlamentares. Entre eles, apenas 28 são deputados em final de mandato e uma grande maioria são pessoas novas na política com diferentes perfis, como a ex-toureira Marie Sara, o matemático Cédric Villani ou a piloto de caça Marion Buchet. A idade média dos candidatos é de 48 anos e mais de 42% são mulheres.

O déficit de notoriedade ou a falta de experiência dos concorrentes parece não afetar o movimento, impulsionado pela imagem positiva do presidente. Mas nem todos os especialistas preveem um futuro fácil para Macron.

Pascal Perrineau, pesquisador do Centro de Pesquisa de Ciência Política Cevipof, estima que "neste enorme grupo parlamentar poderiam surgir grandes dificuldades internas". Já Emmanuel Rivière, diretor da empresa de pesquisa Sofres, opina que "o rótulo conta bastante em uma eleição legislativa, e o fato de ser totalmente desconhecido dos eleitores não é um fator excludente". "Os candidatos da sigla "A República em Marcha" partem com uma vantagem", avalia Rivière.

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