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Cacique Guarani Kaiowá está em Paris para denunciar perseguição a seu povo

O cacique Ládio Verón faz um giro pela Europa para alertar sobre a ocupação de suas terras tradicionais que ameaça a sobrevivência de seu povo. Neste sábado (20), ele participou de uma manifestação em solidariedade à luta dos Guarani Kaiowá em frente à Torre Eiffel, em Paris.

Manifestação em solidariedade ao povo Guarani-Kaiowá, com a presença do cacique Ládio Verón, em Paris, neste sábado 20 de maio de 2017.
Manifestação em solidariedade ao povo Guarani-Kaiowá, com a presença do cacique Ládio Verón, em Paris, neste sábado 20 de maio de 2017. MD18/Facebook
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Com um cocar de plumas brancas e azuis, o cacique disse que seu povo é vítima de genocídio no Mato Grosso do Sul. Ele foi eleito em assembleia para representar neste giro europeu os mais de 45 mil indígenas da etnia Guarani Kaiowá, uma das maiores do Brasil. O objetivo é divulgar a luta pela defesa de seus direitos à terra e pela autodeterminação.A campanha tem o apoio de ONGs e associações francesas como "France Amérique Latine", "Autres Brésils", "France Libertés", "MD18", entre outras.

Há mais de uma década, os Guarani Kaiowá tentam recuperar cerca de 9.300 hectares de suas terras. O Poder Executivo chegou a reconhecer esse território como terras tradicionais da etnia. Mas, atendendo à reivindicação de fazendeiros da região, o Supremo suspendeu por tempo indeterminado os efeitos desse reconhecimento em 2005, e os indígenas foram expulsos.

Desde então, vivem "confinados em pequenos pedaços de terra cercados de fazendas de gado e de extensas plantações de soja e de cana-de-açúcar", denuncia a Survival Internacional. "Alguns não têm terras e se veem forçados a acampar na beira da estrada", completa a ONG, defensora dos direitos dos povos indígenas. Desde que os indígenas iniciaram o processo de retomada de suas terras tradicionais, mais de 500 lideranças do povo Guarani Kaiowá foram assassinadas.

Cacique responsabiliza governo de Michel Temer

"Nossos direitos constitucionais estão sendo violados pelo governo brasileiro", afirmou Verón, que acusa o governo Michel Temer de impedir a demarcação das terras indígenas. Com a chegada de Temer ao poder no ano passado e com um Congresso sob forte influência da bancada ruralista, ganharam força iniciativas para restringir o direito dos indígenas de permanecerem em suas terras ancestrais. Exemplo disso é a reforma que tramita no Congresso, buscando transferir do Executivo para o Legislativo a competência para a demarcação dessas terras. De acordo com a ONG, isso suspenderia os processos em andamento.

"A Europa tem que saber de onde vem a soja que consome e como ela é produzida", declarou o cacique, que aceitou posar para fotos com alguns curiosos em frente ao monumento parisiense.

Giro europeu

Antes de Paris, Verón já passou pela Espanha, Grécia, Itália, Reino Unido, Alemanha e Áustria. Sua viagem tem também como objetivo criar uma rede de apoio para que cada país se comprometa a enviar observadores ao Mato Grosso do Sul para constatar a situação. "Em Madri e Barcelona, pudemos falar com vários parlamentares e ONGs para conseguir apoio", conta o cacique, animado com a boa recepção.

Na segunda-feira (22), ele participa de um encontro com autoridades dos povos autóctones da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), sediada em Paris, e na terça (23) de uma reunião pública no Senado francês, antes de seguir sua viagem. O cacique visita ainda três cidades francesas: Montpellier (sudoeste), Marselha (sudeste) e Lille (norte).

De acordo com o último censo (2010), 896.900 indígenas de 305 etnias vivem no Brasil. Eles representam 0,4% da população, de 202 milhões de habitantes e suas áreas ocupam 12% do território.

(com informações da AFP)

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