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França

Frente Nacional enfrenta crise após derrota em eleição presidencial

Os 10,6 milhões de votos para a líder da extrema-direita francesa, Marine Le Pen, não foram suficientes para evitar um colapso dentro do partido. A legenda, que registrou um desempenho inédito no segundo turno da eleição presidencial, protagonizou um fracasso aos olhos dos próprios militantes e corre o risco de viver uma nova derrota nas eleições legislativas, em junho.

Marine Le Pen, candidata à eleição presidencial francesa de 2017, ao reconhecer a derrota para Emmanuel Macron no último domingo (7).
Marine Le Pen, candidata à eleição presidencial francesa de 2017, ao reconhecer a derrota para Emmanuel Macron no último domingo (7). Fuente: Reuters.
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Nem mesmo 40% dos votos – esse foi o sentimento do eleitorado da extrema-direita após o anúncio dos resultados. Apesar das pesquisas apontarem há meses a vitória de Macron em caso de confronto com Marine Le Pen no segundo turno, a esperança de uma surpresa de último momento à la Donald Trump, não foi descartada pelos eleitores.

“De um lado foi uma derrota porque a Frente Nacional esperava obter um melhor desempenho no segundo turno e isso não aconteceu. Mas, se olharmos a história deste partido, sua performance foi um sucesso enorme: 10 milhões e 600 mil votos, duas vezes mais que seu pai [Jean-Marie Le Pen], 15 anos depois”, avalia o sociólogo Michel Wieviorka, autor do livro “Frente Nacional: entre o Extremismo, o Populismo e a Democracia".

Marion Maréchal-Le Pen deixa o partido

Além disso, os quase 11 milhões de votos não serviram para apaziguar o racha dentro do partido, que levou à perda, na terça-feira (9) de uma importante figura da legenda, a deputada Marion Maréchal-Le Pen. Aos 27 anos, a sobrinha de Marine Le Pen, considerada como a nova geração da extrema-direita, anunciou seu afastamento da carreira política alegando que quer dedicar mais tempo à sua vida familiar e expressando seu desejo de “se abrir a novos horizontes”, e talvez até mesmo trabalhar no mundo empresarial.

Logo depois do anúncio dos resultados do segundo turno, Marion Maréchal-Le Pen já havia expressado sua “decepção” à mídia francesa com o desempenho de sua tia e havia sugerido uma “reflexão” sobre a estratégia do partido. Nesta quarta-feira (10), o deputado da extrema-direita Gilbert Collard reconheceu ao canal francês LCI existência de desacordos entre a jovem deputada e o vice-presidente da Frente Nacional, Florian Philippot.

Para o diretor do Observatório de Radicalismo Político da Fundação Jean Jaurès, Jean-Yves Camus, há dois grupos dentro do partido: um liderado por Marine Le Pen e seu fiel escudeiro Florian Philippot e outro encabeçado por Marion Maréchal-Le Pen. De fato, a jovem deputada, que deu início a sua carreira política aos 18 anos, apresenta posições mais radicais que sua tia em questões sociais e ganhou a fama de ser “a linha dura” da Frente Nacional. “Há claramente uma oposição entre esses dois grupos e Marion Maréchal-Le Pen tem consciência do que acontece dentro da Frente Nacional. Na minha opinião, ela pensa que, no fundo, não existe possibilidade de mudar a ideologia do partido”, avalia.

“Deserção” de Marion Maréchal-Le Pen

O anúncio da pausa na carreira política da jovem causou reações diversas dentro da legenda, boa parte expressando solidariedade à Marion Maréchal-Le Pen. Mas o mesmo sentimento não é registrado dentro da própria família Le Pen.

Para o presidente de honra da Frente Nacional, Jean-Marie Le Pen, avô de Marion Maréchal-Le Pen, a decisão da jovem foi “uma deserção”. Dizendo-se decepcionado com a atitude da neta, o fundador da legenda espera que ela revise sua postura o quanto antes. “Marion representava uma esperança para muitos militantes e eleitores da Frente Nacional. Se, a seus olhos, minha opinião ainda tem algum valor, eu digo a ela: ‘Não, não abandonamos a linha do front’”.

Em sua conta no Twitter, Marine Le Pen também comentou a retirada da sobrinha. “Como dirigente política, lamento profundamente a decisão de Marion, mas como mãe, eu a compreendo”, disse, referindo-se à filha de 2 anos de idade a quem a jovem política alega que pretende se dedicar.

Reconstrução da Frente Nacional

A grande questão agora para a Frente Nacional é como se reerguer depois de dois episódios que abalaram o partido na mesma semana. No domingo (7), a líder da extrema-direita já havia expressado a necessidade de “transformar profundamente” a legenda – uma possibilidade descartada por Michel Wieviorka.

“Reformar radicalmente a Frente Nacional é esquecer o que é a base deste partido. Marine Le Pen fez essa declaração com o objetivo de mostrar que ela ainda tem o controle da legenda e que ainda tem algo novo para propor antes das eleições legislativas”, diz.

Por isso, segundo o sociólogo, a Frente Nacional deve trabalhar intensamente neste mês antes da votação, prevista para o dia 11 de junho, e passar aos franceses uma imagem de união. “Acredito que a crise atual vai se tornar especialmente visível após essa eleição. Será que o partido será capaz de superar seus problemas internos e se relançar? Hoje ainda é cedo para responder a essa pergunta, mas não excluo a possibilidade de uma decomposição da legenda no futuro”, afirma.

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