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França/eleições

Depois da vitória de Macron, franceses acordam de ressaca da eleição

Um dia depois da eleição de Emmanuel Macron à presidência francesa, a RFI Brasil foi a um típico boteco francês para saber quais as expectativas da população em relação ao novo governo. Não resta dúvida: os franceses acordaram de ressaca da campanha, mas estão aliviados com o resultado.

Matthieu Al Mousli, patrão do bar "Les Baromaîtres", no 12° distrito, em Paris
Matthieu Al Mousli, patrão do bar "Les Baromaîtres", no 12° distrito, em Paris (Foto: Taíssa Stivanin/RFI Brasil)
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Os balcões dos botecos franceses, conhecidos como comptoirs, são palco de discussões políticas acaloradas. Cada francês costuma ter seu “refúgio favorito”, onde vai com frequência. Nesses lugares, democráticos por natureza, médicos discutem com varredores de rua sobre o futuro da nação de igual para igual. O café Baromaîtres, no 12° distrito da capital, é um bom exemplo. O bar está situado a algumas dezenas de metros de onde a candidata da extrema-direita Marine Le Pen, reuniu seus partidários para acompanhar a apuração e sua derrota por 33,99%, contra 66,1% para Macron.

Nesse dia 8 de maio, feriado na França que comemora a vitória dos aliados contra a Alemanha nazista, o clima no Baromaîtres é de ressaca geral. De um lado, uma senhora folheia o jornal Libération, de esquerda, e não esconde seu descontentamento com a eleição de Macron, “liberal demais” para seu gosto. “É um escândalo todo esse marketing”, balbucia. No fundo, dois garis da prefeitura de Paris fazem uma pausa tomando café.

Resultado lógico

Matthieu Al Mousli, o patrão, que votou em Jean Luc Mélénchon, da extrema-esquerda, no primeiro turno, recebe a reportagem sorridente. “Foi uma campanha particular, com muitos escândalos, que semeia muitas dúvidas no povo sobre a legitimidade da classe política tradicional na França", declara. Para ele, o resultado foi lógico. “Não tinha como a Le Pen passar, pelo menos em função do que eu ouvia atrás do meu balcão. Mas os comentários eram, na maior parte do tempo, fatalistas. Não há muito otimismo no ar”, diz.

A campanha francesa, atípica, foi marcada por denúncias de corrupção envolvendo o candidato François Fillon, do partido Os Republicanos, acusado de criar empregos-fantasma para mulher e filhos, e a própria Marine Le Pen, acusa de criar um cargo fictício para uma assistente no Parlamento Europeu.

“Espero que Emmanuel Macron cumprirá suas promessas”, diz o bancário Mikael, cliente do bar, que votou pelo candidato do movimento “Em Marcha” no 1° e 2° turno. “É um dos únicos capazes de reformar o país, que não vem de um meio político tradicional, e que tem uma visão global do povo de verdade. Espero que em cinco anos ele possa erguer o país, senão temo que a Frente Nacional possa vencer as próximas eleições.”

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No balcão do bar francês Baromaîtres

"A gente não aguentava mais ver a mesmas caras"

Renalde, aposentado, diz que espera para ver. “Leis, governo, parlamento. Temos que esperar e ver o que vai acontecer”, declara. “O verdadeiro debate vai começar agora, nas legislativas”, diz. Bem menos empolgado, o gari Mike, diz que não esperava por uma vitória de Macron, e que o fato dele ser um desconhecido da cena política pode ser um fator desestabilizante.

 “Há três anos ninguém o conhecia, e subitamente ele chega ao poder. Vamos ver o que vai dar. Desejo boa sorte e espero que ele trará as soluções necessárias para tirar a França dessa bagunça. Veremos.” A idade do novo presidente, de 39 anos, o mais novo da história da Quinta República, não é um problema para ele. “O lado positivo é que a gente não aguentava mais ver as mesmas caras, o ruim é que nos perguntamos se ele terá a força suficiente para o cargo.”

Mais tarde, longe dos microfones, Mike assume. “Vou dizer algo. No fundo, seria bom que Le Pen ganhasse, não porque seja uma boa candidata ou porque eu compartilhe suas ideias, mas para quebrar de vez esse sistema. O país vai mal e eu preciso de três empregos para pagar todas as minhas contas”. Esse discurso, mais comum do que parece, traz uma certeza: a França continua dividida.
 

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