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Macron e Le Pen realizam debate tenso, confuso e cheio de acusações

Os dois candidatos ao segundo turno da eleição presidencial francesa, o centrista Emmanuel Macron e Marine Le Pen, da extrema-direita, protagonizaram na noite desta quarta-feira (3) um debate tenso e confuso, cheio de ataques e acusações, inúmeras interrupções entre os adversários e momentos de ironia.

Le Pen e Macron posam antes do debate
Le Pen e Macron posam antes do debate Reuters
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Os dois debateram sentados ao redor de uma mesa, frente a frente, em um estúdio em Plaine-Saint-Denis, na periferia norte de Paris. O debate foi transmitido pelos canais TF1, France 2 e CNews e mediado pelos jornalistas Christophe Jakubyszyn e Nathalie Saint-Cricq, editores de política.

Le Pen, que falou primeiro, começou acusando Macron, que é ex-banqueiro, de ser "o candidato da globalização selvagem, da ‘uberização’, da precariedade, dos guetos, da guerra de todos contra todos, tudo isso pilotado por (François) Hollande”, atual presidente do país, de quem o candidato centrista foi ministro da Economia.

Macron escutou com as mãos no queixo, um meio sorriso, olhando fixamente para Le Pen, para depois dizer que “ela não era a candidata do 'espírito de fineza' nem da 'vontade de um debate democrático equilibrado e aberto'". Ele opôs o seu “espírito de conquista” ao “de derrota” da radical de direita.

A candidata chamou várias vezes Macron de “arrogante” e “irritado” ("acalme-se", chegou a dizer) e criticou o que considera seu clima de “já ganhou” - citando a polêmica festa que ele deu no restaurante chique La Rotonde, em Paris, para comemorar a vitória no primeiro turno. Ela insistiu que ele é "o queridinho do sistema e das elites" e que ela é "a candidata do povo".

Para este segundo turno, o centrista lidera as pesquisas de intenção de votos, com 59% contra 41% de Le Pen. Cerca de 18% dos franceses ainda estão indecisos, e os dois usaram todas as suas armas para tentar convencê-los - além dos que pretendem se abster, entre 20% e 22%.

"Grandes bobagens"

Macron disse que Le Pen apresentava dados falsos sobre a sua passagem pelo ministério da Economia em relação à venda de empresas e que ela falava “grandes bobagens”. Ele também a chamou de arrogante quando Le Pen disse que poderia ensiná-lo o funcionamento do sistema judiciário, já que é advogada, durante um acalorado debate sobre a legitimidade dos juízes.

Quando o tema foi terrorismo, o duelo esquentou ainda mais. Le Pen acusou Macron de ser apoiado por radicais islâmicos da União das Organizações Islâmicas da França (UOIF), que, segunda ela, prega o ódio contra os judeus, os gays e os ateus e defende a lapidação das mulheres adúlteras. “Você é complacente com os radicais islâmicos”, disparou.

Macron negou veementemente que tivesse relação com a entidade e disse que, como presidente, puniria qualquer organização que pregasse esse tipo de discurso.

Ele acrescentou que é Le Pen que está fazendo o que os terroristas desejam: levar a França a uma guerra civil, separando as pessoas pela origem e pela religião. A candidata é conhecida por seu discurso xenófobo e islamofóbico. Ela revidou dizendo que essa acusação não passava de "programa do medo", ao que o centrista replicou: "A grande sacerdotisa do medo está na minha frente".

Sobre as propostas da candidata da Frente Nacional para combater o terrorismo, como a retirada da nacionalidade francesa dos terroristas com dupla nacionalidade e a expulsão dos estrangeiros com ficha S (suspeita de radicalização), Macron disse: “Você propõe, como sempre, o pó de pirlimpipim".

Duas moedas

Macron tratou de destacar a "fragilidade" do programa da líder da extrema direita, especialmente em relação à sua política econômica protecionista e à promessa de abandonar a zona do euro, apesar de a proposta não aparecer nos últimos dias entre as prioridades de Le Pen.

"O euro é a moeda dos banqueiros, e não a moeda do povo. Essa é a razão pela qual devemos abandoná-la", afirmou Le Pen, defendendo o uso de duas moedas no país: o novo franco, internamente, e o euro, para as transações internacionais das grandes empresas.

"Elas não poderão pagar em euros de um lado e remunerar seus funcionários em francos do outro. Isso não faz sentido!", revidou Macron, fiel defensor da União Europeia, que advoga uma zona do euro com orçamento  e ministro das Finanças próprios.

Em outro momento do debate, Le Pen afirmou que, não importa quem ganhar, "a França será dirigida por uma mulher, Angela Merkel ou eu", após acusar Macron de não fazer nada sem a "benção" da chanceler alemã.

Já um episódio emblemático da campanha, a visita dos dois candidatos no mesmo dia à fábrica da Whirlpool, em Amiens (norte da França), no dia 26 de abril, foi revivido por Macron. Os trabalhadores da indústria entraram em greve contra a ameaça de transferência da produção para a Polônia

Ele acusou Le Pen de "se aproveitar do desespero dos trabalhadores" e de fazer selfies "durante 15 minutos no estacionamento" apenas para publicidade eleitoreira. Ela respondeu que jamais se esconderia em um encontro com os sindicalistas - sobre a reunião de Macron no mesmo dia na fábrica.

No total, doze temas relacionados com economia, segurança, educação e política externa foram abordados durante o debate, que durou duas horas e meia.

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