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França/Política

Ataques a Macron e "patriotismo" marcam maior comício de Marine Le Pen

Em seu principal comício na reta final da campanha presidencial francesa, a candidata da Frente Nacional Marine Le Pen concentrou seu discurso realizado nesta segunda-feira (1°), em ataques contra seu adversário Emmanuel Macron, apresentado como inimigo do povo francês por ser um candidato do “mundo das finanças” e da “deslocalização de empresas do país”.

Marine Le Pen, no final de seu comício em Villepinte, na periferia norte de Paris nesta segunda-feira 01/05/2017.
Marine Le Pen, no final de seu comício em Villepinte, na periferia norte de Paris nesta segunda-feira 01/05/2017. Foto: Pierre René-Worms
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Diante de um público estimado em 10 mil pessoas, reunidas no Parque de Exposições de Villepinte, na periferia norte de Paris, a candidata da extrema-direita aproveitou o tradicional feriado do Dia do Trabalho para criticar, principalmente, o programa econômico e social do centrista Macron.

“Ele é o candidato da continuidade mórbida” que faz campanha “sob cadáveres de empregos deslocalizados”, acusou. Marine Le Pen lembrou que Macron ganhou o apoio de ex-candidatos perdedores na corrida eleitoral como François Fillon, do partido Os Republicanos e Jean-Luc Mélenchon, do movimento A França Insubmissa, que anunciou que não vai votar para ela.

Insistindo ser a única que “representa o povo”, Marine Le Pen martelou que o voto em Macron, ex-Ministro da Economia de François Hollande, significa uma continuidade do atual governo, considerado o mais impopular na história política recente do país.

“Macron é cria de François Hollande, um presidente detestado que levou a França ao fracasso”, disse. “Emmanuel Macron é François Hollande que quer continuar no poder”, continuou.

Além da estratégia de colar no adversário a imagem de candidato das elites financeiras, Marine também apontou a falta de experiência eleitoral de Macron como um dos pontos “inquietantes” de sua candidatura”. “Ele nunca foi eleito e seu caráter é preocupante”, alertou.

Durante seu discurso de mais de uma hora, ela defendeu o “patriotismo econômico” e declarou “guerra contra a deslocalização”, referindo-se aos problemas provocados no país pela integração à União Europeia.

A candidata defende uma saída da França do bloco e também a retirada do país da zona do euro. No entanto, ela não falou, durante o discurso, de uma volta a uma moeda nacional francesa, tema de uma entrevista dada a um jornal durante o final de semana.

Rejeitada por uma grande maioria de franceses, segundo pesquisas, a saída da França da zona do euro se tornou um tema delicado para a campanha da Frente Nacional. Dentro do próprio partido, há divergências sobre a proposta, com muitas lideranças defendendo uma negociação rápida com autoridades de Bruxelas, caso Marine seja eleita. Outra corrente interna prefere minimizar o discurso do “Frexit” para angariar votos de eleitores de candidatos derrotados e indecisos na reta final de campanha.

Cerca de 10 mil pessoas ouviram o discurso de Marine Le Pen em Villepinte, periferia de Paris, nesta segunda-feira 01/05/17.
Cerca de 10 mil pessoas ouviram o discurso de Marine Le Pen em Villepinte, periferia de Paris, nesta segunda-feira 01/05/17. Foto: Elcio Ramalho/RFI Brasil

Mudança de tom sobre imigrantes

Acusada de liderar um partido xenófobo e racista, Marine Le Pen também adotou um tom menos radical em seu discurso contra os imigrantes legais no país. “Os estrangeiros que respeitam as leis francesas são nossos convidados”, declarou. No entanto, ela prometeu fechar as fronteiras do país para "controlar o fluxo de imigrantes”.

A candidata também se referiu várias vezes a um tema que relaciona ao problema migratório: o combate ao islamismo radical. “O fundamentalismo cresceu no nosso país sob o governo Hollande. Sou a única capaz de proteger a França”, afirmou, acusando o candidato Macron de ter, entre diferentes apoios, um grupo ligado à Irmandade Muçulmana.

De acordo com Marine, a atual eleição presidencial francesa opõe “duas visões, duas filosofias e duas personalidades muito diferentes”. Prometendo unir o país, ela fez um apelo para que os franceses a elejam para acabar com dois totalitarismos que arruínam a França: “A globalização e a ideologia islâmica”.

Antes dos ataques ao adversário Macron e de desfilar os temas conhecidos de seu projeto de governo, Marine Le Pen começou seu discurso confirmando a decisão de nomear como primeiro-ministro Nicolas Dupont-Aignant, que abriu o comício explicando sua decisão de se aliar à Frente Nacional. Candidato do partido A França em Pé, e derrotado no primeiro-turno com 4,7% dos votos, Dupont-Aignant garantiu que se aliou à Frente Nacional para devolver a “soberania” à França.

Eleitores: uns convencidos, outros, nem tanto

Com poucos votos entre os eleitores na região onde está a capital francesa, a maioria dos partidários de Marine Le Pen veio de várias cidades do interior e chegou de ônibus fretados pelo partido para o local do comício.
“Ela é uma candidata patriota. A França precisa reencontrar seus valores e seu orgulho”, diz Renaud, que trabalha no setor industrial no interior da França. Ele destaca um dos principais pontos do programa de Marine Le Pen que o seduz, a saída da moeda única europeia. “O euro mata nossas empresas e nossa economia. É preciso retomar o controle de nossa economia e de nossa moeda. É a única que propõe isso”, diz.

Bernard Lecompte, ex-executivo de uma empresa de serviços bancários que veio da região Eure-et-Loir, no leste da França, também aposta na candidata extremista para fazer o país se distanciar da União Europeia. “Quero reencontrar meu país e atualmente a França se encontra amordaçada pela Europa”, afirma. “Quero defender nosso modelo social construído desde 1936. Com Macron, a Europa vai pôr fim ao nosso modelo social. Sou contra a escravidão ‘à la Alemanha’ que traz um trabalhador imigrante para pagar 0,48 centavos de euro por hora de trabalho. É uma escravidão que eu não suporto”, aponta.

Serge Michelini, primeiro conselheiro regional da Frente Nacional em Calvados, norte da França.
Serge Michelini, primeiro conselheiro regional da Frente Nacional em Calvados, norte da França. Foto: Elcio Ramalho/RFI Brasil

Moradora de Tremblay en France, na região onde foi realizado o comício desta segunda-feira, Adeline, desempregada de 31 anos, também é uma eleitora veterana da Frente Nacional. “Já votei nela em 2012 e espero muito dela, se for presidente”. Mesmo sem ser otimista com a vitória da candidata pela “diabolização” que fazem dela, Adeline gostou da mudança de discurso sobre o “Frexit”.

“O discurso dela mudou nos últimos dias. Ela aliviou um pouco e [a saída da zona do euro] não vai ser feita de qualquer maneira. Ela vai consultar o povo francês. Não vai ser imposto. Isso me agrada”, disse, em referência à promessa da candidata de fazer um referendo sobre o assunto.

“Macron não me inspira confiança. Ele vai governar para os ricos que vão enriquecer ainda mais e os pobres empobrecer ainda mais”, diz “Conheço muitas pessoas que era da extrema-esquerda e agora vão votar na Frente Nacional”, diz.

Serge Michelini, aposentado, foi o primeiro conselheiro regional da Frente Nacional de Calvados, no norte da França. Ele fez questão de acompanhar mais um discurso da candidata. “A França que defende Marine Le Pen quer voltar a ser soberana, sem estar ligada à ditadura de Bruxelas. A França não é mais a França. Ela deu as chaves do país à União Europeia e agora queremos as chaves de volta”, afirma. Outro tema que ele destaca é a promessa de maior controle da chegada de estrangeiros ao país.

“A imigração é justamente o contrário de uma oportunidade para a França. A imigração é um dos maiores problemas do país, assim como o desemprego. A Frente Nacional não é um partido racista nem xenófobo. Ele é simplesmente patriótico, defende os valores do nosso país”, insiste.

A jovem Alexandra, de 25 anos, que trabalha no setor de alimentação, passou a se interessar pela política e decidiu votar pela primeira vez, em um país onde o voto não é obrigatório. “Ela propõe lutar contra o desemprego para os jovens”, diz, esperançosa.

A jovem Aurore, de 25 anos, defende a proposta de saída da França da zona do euro.
A jovem Aurore, de 25 anos, defende a proposta de saída da França da zona do euro. Foto: Elcio Ramalho / RFI Brasil

Para o estudante de direito Florent, de 28 anos, a aposta em Marine é uma escolha sem grande convicção. “Sair da União Europeia é uma boa coisa, mas sobre imigração não estou totalmente de acordo com ela. A imigração pode ser uma boa coisa para a França. Nem tudo é bom no seu programa”, avalia.

“Antes não gostava do partido por causa do pai dela. Nunca tinha pensado em votar nela. Mas decidi não por causa do seu programa, mas pelo fato de tentar uma mudança. Não sei se será bom, mau ou péssimo. Vamos ver”, aposta.
 

 

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