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Moda

Considerada machista, campanha de Saint Laurent causa polêmica

Uma nova campanha publicitária da marca francesa Saint Laurent provocou uma onda de protestos e pedidos para que ela seja retirada. As poses das modelos mostradas nas fotos foram consideradas "degradantes" para as mulheres. Mas esse não é o primeiro escândalo envolvendo a grife.

Propaganda da grife Saint Laurent é acusada de ser "degradante" e "humilhante" para as mulheres.
Propaganda da grife Saint Laurent é acusada de ser "degradante" e "humilhante" para as mulheres. Reprodução twitter
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Os dois visuais publicitários foram divulgados recentemente ruas de Paris, em plena temporada de desfiles das coleções outono-inverno 2017-18. Em uma das imagens uma modelo com casaco de pele, meias arrastão e rodas de patins fixadas em sapatos de salto aparece deitada, com as pernas abertas. Em outro, a modelo – vestida com um body e sapatos também com rodas – aparece inclinada sobre um banco.

As imagens foram consideradas explicitamente sexuais e provocaram um movimento de contestação nas redes sociais, principalmente às vésperas do Dia Internacional da Mulher. A associação feminista francesa "Osez le feminisme" (Ouse o feminismo) pediu a retirada da campanha, alegando que a publicidade era formada por elementos sexistas. “Tem hiperssexualização, conversão da mulher em objeto, posição de submissão. Simbolicamente, é muito violento", disse a porta-voz da associação, Raphaelle Remy-Leleu. "Como alguém pode hoje em dia pensar que vai conseguir vender com isso? Me pergunto se não tiveram a intenção, com a ideia de criar um escândalo para que se fale (da marca)", disse.

Denúncias também foram enviadas diretamente à Autoridade Reguladora Profissional de Publicidade (ARPP), que pretende se pronunciar sobre o caso na próxima sexta-feira (10). O diretor da entidade, Stéphane Martin, não indicou sua posição sobre o assunto, mas afirmou que, “houve um erro incontestável”. “Não acredito que as clientes (da marca) queiram se ver associadas a essas imagens", disse, lembrando que a ARPP proíbe as representações "degradantes e humilhantes".

Esse não é o primeiro escândalo da marca Saint Laurent

Essa não é a primeira vez que uma campanha publicitária gera polêmica no mundo da moda. Entre Dolce & Gabbana, que chocou em 2007 com fotos acusadas de simular um estupro coletivo, e o período "porno-chic" da grife Gucci sob a direção de Tom Ford, os exemplos são numerosos. 

No caso da Saint Laurent, o escândalo faz parte da história da marca. Há dois anos, a autoridade reguladora britânica proibiu uma publicidade pela extrema magreza de uma modelo, que chegava a mostrar suas costelas. Na época, a grife era dirigida pelo estilista francês Hedi Slimane, o mesmo que transformou a moda masculina durante sua passagem pela Dior, antes de reciclar a Saint Laurent (da qual ele suprimiu o Yves do nome). Apesar de não propor nada de novo na moda, suas peças – que as más línguas diziam ser inspiradas do fast fashion – e as imagens polêmicas fizeram as vendas da marca explodir.

O belga Anthony Vaccarello, que ao assumir no ano passado a direção artística da marca prometeu um "glamour sexy", apresentou seu desfile na terça-feira passada (28). Mais uma vez inspirada dos anos 1980, a coleção abusada de minissaias, lantejoulas, transparências e do couro.

O estilista também chamou a atenção desde as suas primeiras campanhas, nas quais não havia praticamente nenhuma peça de roupa, com modelos seminus. As campanhas seguintes também traziam uma pegada sensual, como as imagens de Anja Rubik às margens do rio Sena.

Estilista nu e ironia sobre a guerra

Mas bem antes da chegada de Slimane ou de Vaccarello, a grife marcou a história da moda por criar imagens fortes. Em 1971, o próprio Yves Saint Laurent posou nu diante da câmera de Jeanloup Sieff para a campanha do seu primeiro perfume. A fotografia transformou a representação do homem na publicidade.

No mesmo ano, a grife provocou escândalo com coleção batizada “Liberação” ou “40”, em alusão à maneira como as mulheres se vestiam durante a Segunda Guerra Mundial. Detestadas por boa parte da crítica na época, as peças fazem parte dos livros de história da moda não apenas pela dimensão polêmica, mas também por terem influenciado as ruas durante praticamente toda a década de 1970, quando os jovens se interessaram pelo vintage, inspirados no conceito de retrô lançado por Saint Laurent.

Guy Bourdin passou por ali

A polêmica sobre a campanha da marca Saint Laurent também ofusca outro aspecto: o de que na moda pouca coisa se cria e muito se recicla. Basta analisar com um pouco de atenção as imagens que causaram polêmica esta semana para perceber claramente os vestígios de alguns fotógrafos do passado.

É quase impossível olhar essas duas imagens sem pensar em nomes como Guy Bourdin, que continua sendo uma referência na moda desde a década de 1970. Na época ele também foi muito criticado por produzir fotos nas quais as modelos apareciam com cabeças cortadas, com pernas abertas ou até mesmo caídas, seminuas, com sangue falso escorrendo da boca. Mas até hoje os livros sobre a obra do francês estão presentes nos estúdios publicitários para “inspirar” gerações de fotógrafos e estilistas.

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