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Planeta Verde

Saco plástico nunca mais: franceses se adaptam à nova legislação, agora nas feiras

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Há exatamente oito meses, em 1° de julho de 2016, a distribuição de sacolas plásticas foi proibida no comércio em todo o território francês.  A medida, que já era aplicada em vários supermercados de Paris e no interior, foi então generalizada e os lojistas foram autorizados a esgotar seus estoques de sacos plásticos, que deveriam ser substituídos definitivamente por biodegradáveis.

Sacolas plásticas do estoque ainda são permitidas pela nova legislação nas feiras da França.
Sacolas plásticas do estoque ainda são permitidas pela nova legislação nas feiras da França. RFI/Márcia Bechara
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A partir de 1° de janeiro de 2017, a legislação se intensificou, com a proibição sendo estendida à venda de frutas, legumes e queijos, o que atingiu também as feiras livres e quitandas. A RFI Brasil esteve na feira livre da rue de la Convention, no 15° distrito da capital francesa, para acompanhar como vem sendo a adaptação de feirantes e consumidores à nova legislação.

Para Isabelle, moradora há mais de 15 anos do bairro, a medida é importante e demanda um esforço de conscientização por parte dos consumidores. “Não sei se os hábitos dos franceses realmente mudaram de modo geral, mas eu pessoalmente tomo mais cuidado, é verdade”, afirmou. “Mas eu notei que em certos lugares, não nos mercados, mas nas grandes superfícies e lojas, eles oferecem sacos plásticos biodegradáveis 'entre aspas', mas eu não tenho certeza que essa seja uma boa coisa para a natureza, porque dentro existem micropartículas que não desaparecem nunca e que se espalham por todos os lugares, então também não pode ser uma coisa boa. O melhor mesmo são os sacos de papel ou ter um saco plástico mais firme que possamos reutilizar sempre”, declarou.

O feirante e açougueiro Jacques, que leva sua carne para a rue de la Convention há dez anos, é otimista em relação à mudança de hábitos dos franceses: “sim, os hábitos dos franceses estão mudando. As pessoas ainda têm dificuldade de trazer suas sacolas, mas pouco a pouco eles começam a trazer. Eles trazem uma sacola, ou um saco grande de plástico duro, às vezes trazem carrinhos, leva tempo, mas estamos voltando a fazer como antes”, concluiu.

Feirante mostra as novas sacolas biodegradáveis, exigidas pela lei francesa a partir de 1° de janeiro de 2017.
Feirante mostra as novas sacolas biodegradáveis, exigidas pela lei francesa a partir de 1° de janeiro de 2017. RFI/Márcia Bechara

Mudança de hábito

“As pessoas começam a tomar consciência de que, para o planeta, não podemos mais usar sacos plásticos, é preciso parar de usar plástico, mas nesse momento ainda precisamos usar um pouco porque ainda temos clientes que não vêm com suas sacolas. E também porque a carne transpira um pouco, ela produz um caldo de sangue, então precisa de um saco, mas biodegradável, é o tipo de saco que utilizamos agora e é muito eficaz. É um pouco mais caro, mas as pessoas utilizaram menos agora, porque elas virão com suas próprias sacolas agora”, finalizou Jacques.

Joelle, moradora do bairro há cerca de 25 anos, não abre mão do peixe fresco da feira, mas faz questão de trazer sua própria sacola. “As coisas mudaram um pouco, agora não esqueço mais a minha sacola. Eu tento fazer com que eu não precise de sacos plásticos e trago sempre a sacola. Pouco a pouco, acho que as pessoas vão se habituar, nem que seja por necessidade. Eu acho que é necessário pensar a respeito, com certeza é importante parar de utilizar esses sacos que são jogados fora regularmente e que lotam as lixeiras. É preciso tomar conta do nosso planeta, sabemos disso”, afirmou.

Já a barraca de René é uma das maiores do local e famosa pela qualidade do peixe fresco. Ele é feirante do 15° distrito de Paris há mais de 50 anos, e ainda desconfia das mudanças trazidas pela nova legislação. “Ainda não paramos de usar sacos plásticos, porque ainda temos em estoque. Mas os sacos biodegradáveis vão custar três vezes mais caro, e então seremos obrigados a faze os clientes pagarem por eles... Como os supermercados que cobram pelos sacos biodegradáveis, aqui na feira será igual”, disse o poissonier.

“Ali eu ainda tenho um pouco de estoque, aqueles cor-de-rosa, mas todos os sacos que estão dentro do caminhão, terei que cobrar por eles... É claro que para o planeta será melhor, mas ainda somos obrigados a usar sacos plásticos. As beterrabas, por exemplo, não podemos coloca-las em sacos de papel, porque elas mancham, você é obrigado a colocá-las no plástico, a mesma coisa com o peixe. Como colocar o peixe no papel? Não é possível”, declarou René.

Segundo a associação associação France Nature Environemment, a França é um dos países europeus que mais utiliza embalagens descartáveis, atrás apenas de Portugal. A cada ano, 17 bilhões de sacolas descartáveis são distribuídas no país. A nova legislação, anunciada pela Ministra da Ecologia francesa, Segolène Royal, tem por objetivo mudar definitivamente esta realidade, numa tentativa de preservação do meio ambiente.
 

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