François Fillon: o retorno da direita conservadora francesa
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A imprensa semanal francesa desvenda os segredos de François Fillon, o fenômeno que “ninguém viu chegar” nas primárias do partido de direita Os Republicanos. O ex-primeiro-ministro surpreendeu e liderou com folga o primeiro turno da votação, que será definida neste domingo (27).
Se a ascensão se confirmar, Fillon se tornará o candidato da direita nas eleições presidenciais do ano que vem. Ele ocupa a capa de duas das principais revistas da França. L’Obs o descreve como “super-reacionário, ultraliberal e pró-Putin”, enquanto a manchete de Le Point é: “O inacreditável senhor Fillon”.
Discreto, avesso à mídia e sem carisma, o ex-premiê conquistou o eleitorado graças ao desempenho nos debates anteriores ao primeiro turno das primárias.
L’Obs indica que Fillon encarna “a verdadeira direita descomplexada”, uma expressão reivindicada pelo ex-presidente Nicolas Sarkozy. A diferença, sublinha o texto, é que o ex-primeiro-ministro não adota essa posição à base de um discurso agressivo, ao contrário de Sarkozy. Fillon reivindica as origens cristãs da França sem fórmulas vulgares em relação às demais religiões, indica a revista.
Ex-escoteiro e queridinho dos católicos
Nesse contexto, o ex-premiê conta com o fiel apoio da burguesia tradicional católica e conservadora francesa – é o candidato incontestável dos adeptos da Manif pour Tous, o movimento que luta até hoje para reverter a lei sobre o casamento entre homossexuais. Fillon prometeu não voltar atrás nessa permissão, mas gostaria de reescrever o trecho que dá aos casais do mesmo sexo o direito de adotarem filhos.
Ex-escoteiro, como lembra Le Point, ele também se posicionou contra o aborto, um direito adquirido há mais de 40 anos pelas francesas, evocando a sua “fé católica”. O cristianismo, ressalta L’Obs, é um dos elementos que o aproximam do líder russo Vladimir Putin – que, para Fillon, representa um “escudo de um Ocidente cristão cercado”.
Dentro do próprio partido, o ex-premiê tem a imagem de um político fraco, um número 2 que todos pensavam não ter maiores ambições – no entanto, L’Obs indica que, graças ao estilo reservado, a ascensão dele se fez de maneira “lenta, porém segura”. “Fillon não fez barulho, mas foi em frente”, afirma o texto.
Le Point também chama a atenção para essa “ressurreição fulminante”: em diversas ocasiões, ele “quase foi descartado da política”, mas “resistiu a todo as humiliações e agora termina em virada espetacular”.
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