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"Estamos nos esforçando para acreditar no Brasil", diz patronato francês

 A 4a. Edição do Fórum Econômico Brasil-França, encontro anual entre empresários brasileiros e franceses, aconteceu nesta segunda-feira (21) na sede do Medef, em Paris, quartel-general do patronato da França. Durante o evento, empresariado francês se mostrou preocupado com a crise brasileira, mas reafirmou interesse em investir no país.

Paris sediou nesta segunda-feira (21) o quarto Fórum Econômico Brasil-França. O evento, realizado na sede da organização patronal Medef
Paris sediou nesta segunda-feira (21) o quarto Fórum Econômico Brasil-França. O evento, realizado na sede da organização patronal Medef @MEDEF_I
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 A delegação brasileira contou com uma forte representação de 70 pessoas, sendo três ministros (Marcos Pereira, da Indústria, Comércio Exterior e Serviços; Maurício Quintella, dos Transportes, Portos e Aviação Civil, e Wellington Moreira Franco, secretário-executivo do Programa de Parcerias e Investimentos da Presidência da República), além de vários líderes do empresariado brasileiro como Roberto Jaguaribe, presidente da ApexBrasil, Robson Braga de Andrade, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e líderes das federações de indústrias de 10 estados brasileiros.

Do lado francês, nenhum ministro de Estado, mas presidentes das maiores empresas do país como Sanofi Pasteur, Renault, SNCF, Grupo Casino, L’Oréal, Airbus e Alstom, entre outras, além de Matthias Fekl, secretário de Estado ligado à chancelaria francesa, e responsável pelo Comércio Exterior da França; Pierre Gataz, presidente do Medef, e Frédéric Sanchez, presidente do Medef Internacional. O objetivo do encontro foi consolidar as relações comerciais de alto nível entre o empresariado francês e brasileiro, criando novas oportunidades de negócios para os dois países.

Uma potência cheia de paradoxos

Para Robson Braga de Andrade, presidente da CNI, que abriu a participação brasileira no Fórum, “a França é o quarto maior país investidor no Brasil, foram 31,- bilhões de dólares somente no ano passado; existem hoje mais de 25 projetos comuns em curso nas áreas de plástico, defesa, energias renováveis e farmacêuticas, por exemplo. O potencial de nossa relação está no topo da agenda internacional da Confederação Nacional da Indústria”, declarou. Segundo Andrade, “a França opera como um facilitador para o Brasil no bloco europeu e possui os parques tecnológicos mais avançados do mundo. A indústria brasileira está ávida por investimentos em pesquisa e inovação”, ressaltou.

A contrapartida francesa, no entanto, veio num misto de confiança e inquietude: “estamos nos esforçando para acreditar no Brasil, mesmo com a enorme recessão de 2014, o déficit público considerável e a crise moral e política advinda da destituição de Dilma Rousseff”, pontuou Frédéric Sanchez, presidente do Medef Internacional. “Como dizia o escritor Stefan Zweig, ‘o Brasil será no futuro um fator dos mais importantes no desenvolvimento de nosso mundo’. É um país cheio de paradoxos, mas se trata de uma potência dinâmica que nos interessa muito enquanto mercado e parceria comercial”, afirmou Sanchez.

Impostos e acordo de livre comércio: Mercosul e UE

Marcos Pereira, ministro brasileiro da Indústria, do Comércio Exterior e Serviços destacou em seu discurso que “Brasil e França fazem parte das 10 maiores economias mundiais”. “Temos um forte laço que nos une, uma forte influência cultural. Apesar do movimento de retração [queda de 22% nas trocas entre os dois países em relação a 2015], temos espaço para intensificarmos nossas relações, estabelecendo novas frentes de cooperação. O Brasil é hoje o segundo destino de investimentos da União Europeia nas Américas, depois dos Estados Unidos. Torna-se imprescindível diminuir as tarifas de investidores estrangeiros que desejem ingressar nos países do Mercosul e também concluir o Acordo de Livre Comércio entre o Mercosul e o bloco europeu”, declarou. “Potencial é o que não falta”, sublinhou o ministro. “O governo brasileiro trabalha neste momento para melhor o ambiente, diminuir o chamado ‘custo Brasil’ [hoje estimado em 330 pontos] e desburocratizar os procedimentos, por meio do portal único do comércio exterior”, finalizou Pereira.

“Moralização”, privatizações e “aritmética no lugar da ideologia”

Na mesma linha, o secretário-executivo do Programa de Parcerias e Investimentos da Presidência da República, Moreira Franco, esforçou-se para reafirmar a estabilidade do governo de Michel Temer: “Toda a transição foi feita dentro do maior respeito à ordem legal, graças à estabilidade e à vitalidade das instituições políticas e jurídicas brasileiras. Durante um momento, Brasília ficou como o Vaticano, com dois chefes de Estado; no nosso caso, eles não rezavam pela mesma Bíblia”, ironizou Moreira Franco.” “Houve uma mudança de natureza moral, com boas práticas de governança. Temos vivido um período de moralização das práticas de compliance [termo com origem no verbo inglês to comply e que significa estar em conformidade com leis e regulamentos externos e internos], como aconteceu no caso da FIFA”, garantiu o secretário.

Para Maurício Quintella, ministro dos Transportes, Portos e da Aviação Civil, “a confiança dos consumidores cresce a cada dia”. “Substituímos a ideologia pela aritmética, mudamos a política de concessões, diminuindo o prazo para que empresas estrangeiras possam apresentar propostas. Não temos mais restrições à prática de concessões estrangeiras e o BNDES não terá mais exclusividade nos financiamentos. O objetivo é diminuir o risco do parceiro privado”, declarou o Ministro. “A aviação civil é um setor que deve crescer muito, por exemplo; foram R$ 100 milhões apenas em 2014. Além disso, retiramos a Infraero das futuras concessões, abrindo para novas parcerias. Estamos investindo também na desburocratização do setor portuário, autorizando o uso privado”, reiterou.

Acordos bilaterais nas áreas de tecnologia e arquitetura e o “mito da devastação”

Entre os painéis da mesa de abertura, dois acordos de cooperação internacional foram firmados entre Brasil e França. O primeiro deles, assinado por Marcos Pereira, ministro da Indústria, do Comércio e Serviços, e Muriel Pénicaud, diretora-geral da Business France, incentiva um programa-piloto conjunto de internacionalização de start-ups. O segundo, firmado entre os Conselhos francês e brasileiro de Arquitetura e Urbanismo, visa facilitar o trânsito e o trabalho de profissionais de arquitetura entre os dois países.

Numa das intervenções mais contundentes da delegação brasileira, nesta 4a. Edição do Fórum Econômico Brasil-França, Roberto Jaguaribe, presidente da ApexBrasil, afirmou que “existe uma miopia, que é não reconhecer que a área natural de expansão dos interesses da Europa e da França se situa na América Latina, mais do que em qualquer outro espaço, sobretudo no sul do continente, que concentra na região as relações com a Europa. O Brasil, sozinho, já representa mais de 40% dos investimentos europeus na América Latina. Não ter interesse comercial com a América do Sul é uma ideia político-estratégica míope. Para o leste da Europa, há problemas enormes para expandir. A Ásia poderia ser uma alternativa, mas é uma cultura muito diferente, muito competitiva. Trata-se de uma miopia derivada da percepção sobre a competitividade do Mercosul na produção agrícola”, declarou.

“É verdade, mas é verdade também que houve uma evolução significativa nos custos comparativos, porque a produção agrícola do Mercosul encareceu muito. Além disso, existe uma visão falsa em torno da agricultura brasileira, que ela cresceu às custas de devastação de florestas. Isso é uma mentira, que interessa a muitos propagar. Houve sim devastação no Brasil, muitas vezes menor do que a que ocorreu na Europa, por exemplo. Hoje ainda mantemos 63% da nossa cobertura vegetal nativa. Esses elementos precisam ser esclarecidos para deixarem de ser impedimentos artificiais num entendimento que poderia ser benéfico para os dois países”, finalizou o presidente da Apex.

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