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Interdições do uso do burquíni em praias francesas se multiplicam

Os jornais franceses desta quarta-feira (17) destacam a guerra declarada por balneários franceses ao burquíni. As interdições ao uso desse maiô integral islâmico nas praias de cidades do país se multiplicam, aumentando a polêmica sobre o tema.

Capa do jornal Libération desta quarta-feira, 17 de agosto de 2016.
Capa do jornal Libération desta quarta-feira, 17 de agosto de 2016.
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Les Echos informa que o último prefeito a proibir o burquíni foi Daniel Fasquelle, do balneário Touquet, no norte do país. Mesmo se mulheres cobertas com o maiô integral nunca foram vistas nas praias dessa cidade, ressalta o jornal, o político conservador anunciou na terça-feira (16) sua decisão "para lutar contra o proselitismo religioso".

Aujourd'hui en France diz que em Cannes, na chique Riviera Francesa (Côte d'Azur), as primeiras multas já foram expedidas. O balneário foi a primeira cidade francesa a proibir o burquíni e foi também a primeira a multar três mulheres que ignoraram a interdição.

Elas foram à praia no último final de semana cobertas da cabeça aos pés e foram pegas em flagrante. Cada uma teve que pagar € 38, o equivalente a R$ 140, e ainda teve que deixar o local. As proibições ao burquíni se multiplicaram nos últimos dias, mas o número de cidades que tomou a decisão ainda não ultrapassa dez municípios, calcula o diário.

Respeito à laicidade

Muitos prefeitos alegam o respeito à laicidade e às normas de higiene e de segurança para justificar os decretos. A Liga dos Direitos Humanos entrou com recursos para cancelar as proibições. O coletivo contra a islamofobia na França denuncia um oportunismo político e um modelo de exclusão, escreve Aujourd’hui en France.

Um empresário francês de origem argelina prometeu, como fez quando entrou em vigor na França a lei proibindo o uso do véu integral no país, pagar todas as multas. Ele ressaltou ao diário que é contra o uso do maiô islâmico, mas defende que “em democracia ninguém tem o direito de impedir que alguém use a roupa que quer.”

Em Sisco, na Córsega, a proibição do burquíni foi tomada após uma violenta briga na praia entre famílias de origem muçulmana e jovens corsos. Os moradores da cidade "defendem um conceito nacionalista que rege as regras da vida em sociedade na ilha", relata Le Figaro.

Um habitante ouvido pelo jornal conservador diz que mulheres com maiô integral islâmico nunca tinham sido vistas antes e que isso é “uma provocação". A briga deixou cinco feridos, carros incendiados, e uma investigação foi aberta para descobrir as causas exatas do tumulto.

Clima de tensão em um contexto de ameaça de atentados

Libération tenta desvendar as origens do burquíni e dessa polêmica na França. O princípio de laicidade não é suficiente para banir o maiô islâmico, garante o diário. O texto lembra que o véu integral pôde ser proibido das repartições públicas francesas, em 2010, porque dissimula o rosto. Mas com o clima de tensão provocado pelos atentados jihadistas, os políticos alegam tentar evitar riscos à segurança pública.

Uma jurista entrevistada pelo Libé diz que os decretos partem do pressuposto que “passou a ser insuportável para a população ver um muçulmano exibindo sinais religiosos”. Mulheres, que antes da invenção recente do burquíni tinham que ir à praia de vestido, dizem que o maiô integral “é uma verdadeira libertação”. Dividido em sua análise, Libération salienta, no entanto, que essa roupa “é contrária à emancipação feminina”.

Nesse contexto, as proibições devem se multiplicar, prevê a publicação. Outro efeito apontado é que ao invés de frear, elas favorecem a propaganda jihadista. “Ao atacar os muçulmanos como um todo, nós os rejeitamos da República”, diz o editorial. Libération defende “a integração como único escudo contra o radicalismo islâmico”.

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