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França/atentados

“Polícia pensou que fosse trote”, diz jovem refém nos atentados de Paris

O serviço secreto francês falhou na prevenção dos ataques terroristas de novembro de 2015. Essa é conclusão de um relatório da comissão parlamentar francesa criada para avaliar a gestão do risco terrorista, que também revela problemas na ação da polícia que prejudicou a evacuação das vítimas. O documento foi divulgado nesta terça-feira (5).

O relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito sobre o ataque contra a casa de show Bataclã concluiu que este não poderia ter sido evitado, apesar de ameaças feitas anteriormente.
O relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito sobre o ataque contra a casa de show Bataclã concluiu que este não poderia ter sido evitado, apesar de ameaças feitas anteriormente. MATTHIEU ALEXANDRE / AFP
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Naquela noite de 13 de novembro em Paris, uma sexta-feira, a jovem francesa Caroline estava no Bataclan quando três kamikazes armados invadiram o local, em pleno show do grupo Eagles of Death, e começaram a atirar, aterrorizando a plateia durante cerca de duas horas.

Caroline tentou chamar a polícia, em vão. A policial do outro lado da linha pensou que fosse um trote. “Ela pediu para eu falar mais alto. Expliquei que eu era refém e os terroristas estavam atrás da porta e eu não podia falar mais alto", disse, em entrevista à RFI. A policial respondeu: ok, mas você está bloqueando a linha para uma verdadeira emergência”, conta Caroline. “Insisti que não podia falar mais alto, mesmo erguendo um pouco minha voz. Todo mundo em volta me olhou e pediu para eu ficar quieta porque estava colocando todos em risco em volta. A policial então desligou o telefone na minha cara dizendo: azar o seu!”, conta.

Depoimentos como o de Caroline mostram que a polícia francesa foi pega de surpresa no dia do ataque. A comissão parlamentar de inquérito, por exemplo, identificou problemas no momento de evacuar as vítimas do Bataclan. Segundo o documento, as equipes de resgate não puderam entrar na casa de shows, cujo acesso foi interditado pela polícia. Nas 39 propostas feitas no relatório, a comissão propõe a instauração de “colunas” para retirar as vítimas em caso de futuros ataques.

“Por isso preconizamos a criação de uma função intermediária, bombeiros que possam entrar no perímetro de segurança antes do fim da operação policial, mesmo que haja reféns”, diz o deputado George Fenech, que presidiu a a CPI.

Estado de emergência é questionado

O relator da comissão, Sébastien Pietrasanta, também questiona as medidas tomadas depois dos atentados. “O estado de emergência surtiu efeito mas apenas durante um certo tempo”, declarou. A eficácia da operação “Sentinela”, que prevê um contingente de 10 mil soldados na França para assegurar a segurança no território, também é questionada. A comissão pensa que seria melhor reforçar o dispositivo Vigipirate, de prevenção direta dos atentados.

O relatório também elogia a atuação das forças de elite de intervenção no dia dos atentados, “rápida, eficaz e colaborativa”, descreve o texto. O documento questiona, entretanto, a manutenção de várias forças conjuntas de intervenção na gestão dos ataques e no monitoramento de indivíduos suspeitos e com passagem pela polícia. Paralelamente, o documento reconhece que os agentes franceses já estavam a par de duas ameaças contra o Bataclan, mas mesmo assim, diz Pietrasanta, o ataque à casa de shows não poderia ter sido evitado.

Segundo ele, isso significaria que os agentes do serviço secreto deveriam conhecer de cor todos os alvos potenciais citados pelos extremistas interrogados pela polícia. Em termos de prevenção, os deputados defendem a criação de uma agência nacional de informação, sob a tutela do primeiro-ministro, Manuel Valls. O modelo seria igual ao do NTC, o Centro Nacional Antiterrorista americano.
 

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