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Debate em Universidade de Paris mostra pessimismo com futuro de Dilma

A crise política no Brasil esteve no centro de um debate, na quinta-feira (24), na Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais de Paris (EHESS). A proposta foi discutir se o Brasil está à beira de um golpe de Estado ou se enfrenta manifestações democráticas contra a corrupção.  

2 historiadores, um sociólogo e um doutorando analisaram a crise no Brasil.
2 historiadores, um sociólogo e um doutorando analisaram a crise no Brasil. Tatiana Marotta
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Colaboração de Tatiana Marotta, especial para a RFI Brasil

Cerca de 100 pessoas, sendo a maioria de brasileiros, se reuniram e lotaram uma das salas da EHESS. Duas historiadoras, um sociólogo e um doutorando analisaram, em francês, a crise no Brasil. De acordo com a coordenadora do evento, Maud Chirio, historiadora especialista sobre o Brasil, o objetivo foi enriquecer o debate sobre a situação brasileira diante de “um discurso mediático simples” e também de “demonstrar uma preocupação” com a crise do país. “O encontro enfrentou críticas dos dois lados, os ‘pró’ e os ‘contra’ o impeachment”, disse Maud Chirio durante a abertura o evento.

Analistas demostram pessimismo quanto ao futuro do Brasil

Depois de um breve resumo sobre a atual crise enfrentada no Brasil, em um contexto, segundo ela, triplo - econômico, judiciário e político. Maud Chirio concentrou sua análise nos aspectos legais. Diante do questionamento sobre o direito dos deputados de destituir a presidente Dilma Rousseff, a historiadora respondeu que a possibilidade existe. “Trata-se de uma dissolução do executivo pelo legislativo. Quando dois terços do Congresso estão a favor do impeachment, legalmente é possível”, explicou.

Segundo Maud Chirio, ainda não há elementos que comprovem irregularidades cometidas pela presidente Rousseff. No entanto, segundo a especialista, o movimento de destituição ganhou força com a queda de popularidade da presidente nos últimos três anos. “A falta de legitimidade da presidente em vários setores vem desde os movimentos de junho de 2013”, afirmou. O Brasil, segundo ela, encontra-se em uma situação inédita e o futuro do governo e do país é cheio de incertezas.

Essa também é a percepção da historiadora Armelle Enders, que se mostrou pessimista sobre o futuro da presidente. “Há uma espada de Dâmocles na cabeça da Dilma Rousseff. Ela não tem muita margem de manobra”, disse. “No início, as mobilizações de junho de 2013, ilustravam um descontentamento com um serviço público inexistente e degradado. Não era anti-PT, mas com o tempo, o movimento se tornou cada vez mais de direita e o PT virou o alvo”, avaliou.

Enders disse que o país assiste a uma polarização que tem como origem a rejeição da classe média que, segundo ela, foi a que mais sofreu o impacto da crise econômica. “Como se trata de um país da conciliação, podemos imaginar que poderá haver um grande entendimento político. Mas os que pensam que irá acabar com a corrupção vão se decepcionar”, afirmou.

Cobertura midiática perigosa

Em sua exposição, o sociólogo Dominique Vidal afirmou que um dos motivos da organização do debate é a maneira como a imprensa francesa divulga a atualidade no Brasil. “Geralmente, quando o Brasil é mencionado, apenas se concentra nos fatos, sem fazer referência aos progressos foram registrados no país durante o governo do presidente Lula, por exemplo”, constatou.

Segundo Vidal, apesar da oposição de muitos órgãos de imprensa com o governo petista, a postura não impediu a vitória nas urnas. “Sempre agiram assim e nunca impediram o PT de vencer as eleições”, afirma. De acordo com o sociólogo, a “imprensa sempre costuma ser mais dura com a esquerda do que com a direita”.

Ao analisar a cobertura da crise no Brasil, Antônio Gasparetto, fundador do Movimento Unidos Pela Democracia, estimou que a imprensa brasileira atua com a intenção de “manipular as multidões, que se tornaram marionetes”.

Golpe ou golpe de Estado?

Para Dominique Vidal, ainda não se trata de uma revolta popular pois “o movimento é limitado e reúne poucas pessoas”. No entanto, o especialista se mostrou prudente em relação às denúncias de que um golpe está sendo preparado contra o governo da presidente Dilma.

“Golpe de Estado? Não, porque tudo o que está acontecendo está em conformidade com a Constituição”, afirmou. “Não é como em 1964 quando militares falavam de revolução”, comparou.
“O Brasil está passando por um processo politicamente interessante, que eu considero uma experiência democrática. Cada parte que está lutando e argumentando tenta definir o caminho para construir uma sociedade mais justa e menos corrupta”, concluiu Vidal. Ele se mostrou menos pessimista do que os outros debatedores e disse esperar que a presidente Rousseff termine seu mandato.

Já Antônio Gasparetto, ao comentar sobre a gravidade da crise e o pedido de impeachment da presidente, considerou uma ofensiva da oposição para voltar ao comando do país. “A destituição é uma tentativa do PSDB de recuperar o poder”, afirmou.

O fundador do Movimento Unidos Pela Democracia analisou três cenários para o fim da crise. Uma saída capaz de “selecionar corrupções possíveis”, outra fascista, e a terceira, democrática, desencadeando um debate sobre uma verdadeira reforma política no país. “Infelizmente, a saída democrática tem a menor possibilidade de vencer”, estimou.

Quanto ao impeachment, Gasparetto explicou sua posição contrária ao processo: “Não há uma acusação devidamente comprovada, que possa destituir uma presidente em função de ação de outros políticos, que são muito mais corruptos do que ela, comprovadamente”.

O debate contou com a participação do deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ). Ele se encontra em Paris a convite do ministério das Relações Exteriores para falar de sua atuação na área de Direitos Humanos. Wyllys disse ter aceito falar sobre o tema para trazer ao público francês uma “narrativa” diferente do que está sendo apresentada também na França sobre crise no Brasil. Ele se referiu ao processo de impeachment da presidente da República como uma tentativa de “golpe frio”.
 

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Reportagem de Tatiana Marotta, sobre crise política no Brasil

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