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França/terrorismo

A luta contra o jihadismo na França começa nas escolas, diz ministra da Educação

Em entrevista exclusiva à redação francesa da RFI, a ministra da Educação francesa, Najat Vallaud-Belkacem, explica quais medidas foram adotadas para coibir a radicalização islâmica nas escolas da França. “As pessoas não podem se sentir excluídas ou estigmatizadas, alimentando o ódio contra o próprio país”, diz.

A ministra da Educação francesa Najat Vallaud-Belkacem
A ministra da Educação francesa Najat Vallaud-Belkacem RFI
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RFI - Como alguns jovens se radicalizam a esse ponto?

Najat Vallaud-Belkacem : Como ministra da Educação, eu penso no papel da escola: esses jovens radicais passaram pelos nossos estabelecimentos escolares. Eles aprenderam -ou pelo menos nós deveríamos ter ensinado- os valores da França. Mas de repente se envolvem nesse tipo de projeto mortal. A melhor resposta para isso é a adoção de medidas que impeçam a radicalização. Trabalhar para que cada criança se sinta fazendo parte desse país. Trabalhar para que esse sentimento de exclusão não alimente o ódio. É claro, como disse o primeiro-ministro, que não podemos desculpar tudo com esse tipo de explicação. Mas acredito sinceramente que temos uma responsabilidade no Ministério da Educação, em outros serviços públicos e na sociedade como um todo: agir para que certas pessoas não se sintam excluídas, alimentando o ódio contra seu próprio país.

RFI – O primeiro-ministro francês Manuel Valls chamou isso de Apartheid Social.

NB - Por exemplo. Passamos nosso tempo na escola transmitindo valores de igualdade, fraternidade e liberdade. Mas existem crianças e jovens que não vivenciam isso no cotidiano, porque frequentam, por exemplo, estabelecimentos segregados. Vivem em ghettos e têm a impressão de não ter nenhuma perspectiva. São crianças que não vão aderir espontaneamente aos valores da República, e que, além disso, vão alimentar uma desconfiança em relação às instituições e seus representantes. Isso é terrível, porque é a partir desse sentimento que nasce a negação e o ódio. O tema da diversidade social, e a luta contra a segregação e os ghettos deve ser uma prioridade da classe política.

RFI - Quais medidas devem ser tomadas para evitar a radicalização?

NB - Já trabalhamos muito na prevenção e na detecção da radicalização nos estabelecimentos. A escola é um laboratório, e é também o melhor lugar para identificar se um jovem ou adolescente está à deriva. Não há nada melhor do que prevenção. Criamos cursos de Educação Moral e Cívica e de Educação à Mídia e à Informação. O objetivo é ensinar os alunos a desconfiarem daquilo que leem na Internet, e a confrontar opiniões diferentes, sem cair na violência. Essa é a melhor maneira de prevenir essa tentação do radicalismo. Outra medida essencial é a identificação de casos problemáticos. Enviamos aos chefes de estabelecimentos guias e ferramentas para diferenciar a radicalização de um simples mal-estar adolescente.

Se identificamos traços de radicalização em um aluno, há um protocolo de ações. Para começar, um mediador especialista no assunto, agora presente em cada escola, entra em contato direto com o chefe do estabelecimento. Uma célula ligada à Secretaria de Segurança Pública vai acompanhar a situação desse aluno, de sua família, e verificar que não há nada grave por trás desse comportamento. Além, claro, de um acompanhamento escolar mais próximo para evitar que ele não se radicalize. Na maior parte do tempo, isso nos leva a constatar que a radicalização acontece pela Internet.

RFI - Como lutar contra a propagação do jihadismo na Internet?

NB - É um ponto essencial e um desafio. Vivemos em um novo mundo. Houve um tempo em que o único vetor de informação, do conhecimento e do saber eram o professor e os pais. Os vetores agora são múltiplos. As crianças e alunos têm acesso a informações que na realidade não passam de uma “desinformação massiva”. Convencê-los disso e ajudá-los a entender a questão é uma tarefa muito complexa para nossos professores. Por exemplo, quando aparece uma teoria do complô, com informações falsas, na Internet, é inútil argumentar contra. O que devemos fazer é explicar como surge essa teoria, ajudar a compreender seus mecanismos, para que os alunos aprendam a “desconfiar” quando forem confrontados a algo do tipo. Faz parte da Educação Moral e Cívica.
 

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