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França/passeata

Como se organiza uma passeata em Paris?

As manifestações do movimento Passe Livre no Brasil vêm sendo marcadas por confrontos cada vez mais violentos entre a polícia e os manifestantes. Nesta quarta-feira (13), o protesto contra o aumento da tarifa acabou mais uma vez em confusão e as discussões para viabilizar protestos pacíficos agora voltaram à estaca zero. E na França, como são organizadas as passeatas?

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Os protestos do movimento Passe Livre, no Brasil, acontecem sem que as autoridades sejam informadas dos trajetos, o que está previsto na Constituição. Em um comunicado divulgado nesta quarta-feira (13), a Secretaria de Segurança Pública afirmou que, sem antecipação, a polícia é quem decidirá o percurso feito pelos manifestantes, para evitar “vandalismo”. Novas passeatas acontecem nesta quinta-feira (14), em locais que não foram divulgados.

Em Paris, onde as manifestações são mais frequentes, a Secretaria de Segurança Pública tem um setor especialmente dedicado à questão, que regulamenta passeatas ou outros tipos de eventos, sejam eles festivos, esportivos, comerciais, caritativos ou culturais. O objetivo, segundo o órgão, é garantir “a ordem, a segurança e a tranquilidade públicas”, evitando, por exemplo, problemas no trânsito.

Todos os projetos são examinados pelo secretário da segurança pública. O dossiê, de cinco páginas, deve apresentar detalhes como o número de participantes e os trajetos. As manifestações autorizadas pela Secretaria de Segurança Pública, tem o apoio logístico da instituição, responsável pela segurança dos participantes, prevenção de tumultos e pelo bloqueio temporário das ruas no momento da passeata.

Estado de emergência

Desde os atentados de 13 novembro e a instauração e prorrogação do estado de emergência, que poderá durar até o final de fevereiro, as manifestações estão oficialmente proibidas, com algumas exceções (decisão, aliás, que deu origem a vários protestos.) A proibição não impede, como é o caso do Brasil, que ocorram grandes protestos na França que também acabam em tumulto.

Um dos exemplos recentes é a manifestação do dia 29 de novembro que aconteceu na Praça da República, onde milhares de pessoas se reuniram, apesar da proibição da Secretaria de Segurança Pública, para denunciar o “estado de emergência climática”, um dia antes da abertura da abertura para a Conferência para o Clima (COP 21). Mais de cem pessoas foram presas, houve intervenção da tropa de choque e a polícia chegou a jogar bombas de gás lacrimogêneo na multidão
 

Em julho de 2014, uma manifestação a favor da Palestina, que reuniu mais de 7000 manifestantes segundo a polícia, também gerou diversos tumultos. A tropa de choque teve de intervir mais uma vez para evitar os confrontos entre os manifestantes e os membros da comunidade judaica de uma sinagoga na rue de la Roquette, perto da praça da Bastilha.
 

Brasileira fala sobre experiência de organizar passeatas em Paris

A professora brasileira Carla San Felici, membro do núcleo do PT em Paris e coordenadora do Conselho de Cidadãos, já viveu várias vezes a experiência de organizar uma passeata nas ruas de Paris. A última delas, a favor do governo, aconteceu no dia 20 de agosto, ao mesmo tempo em que ocorreram as manifestações no Brasil.

Carla conta que na França não há espaço para improvisação. “Como estamos aqui, a maneira de mobilizar é diferente. Tudo depende do contato político existente aqui. Temos relações formais com outros partidos franceses e movimentos sociais. Geralmente o prazo pelo pedido pela Secretaria de Segurança Pública é de 15 dias.”

A brasileira conta que na ocasião, pela primeira vez, teve que passar por uma entrevista com um representante do serviço secreto francês, que temia que a violência das manifestações no Brasil ocorressem também na França. “Foi um encontro mais formal do que mais de costume. Eles tinham medo que o protesto saísse do controle. Queriam saber quantas pessoas viriam e que tipo de gente estaria presente”, diz. “Me parece normal, precisamos ter o distanciamento necessário para ver o que está acontecendo no Brasil”.

Para Carla, as manifestações na França são bem mais organizadas em relação ao Brasil. “É um outro processo democrático, de construção de espaço e de cidadania. Existe mais controle, mas a liberdade acaba exigindo mais controle, para que não aconteça o que vemos hoje no Brasil. Mas acho que a sabatina do serviço secreto francês é uma resposta a tudo que vem acontecendo, de uma violência extrema, no nosso país".

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