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Quatro milhões de menores franceses foram vítimas de incesto

Quatro milhões de franceses, o que corresponde a 6% da população, sofreram abusos sexuais dentro da própria família na infância ou na adolescência. Os dados foram revelados nesta quarta-feira (16) pela Associação Internacional das Vítimas do Incesto (Aivi), depois de uma pesquisa realizada pelo instituto Harris Interactive.

No vídeo da Associação Internacional das Vítimas do Incesto (Aivi), menino associa Natal ao encontro com um membro da família de quem é vítima de agressões sexuais.
No vídeo da Associação Internacional das Vítimas do Incesto (Aivi), menino associa Natal ao encontro com um membro da família de quem é vítima de agressões sexuais. Divulgação/Aivi
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De acordo com o estudo, 27% dos entrevistados dizem conhecer ao menos uma vítima de incesto na infância ou na adolescência. Desses, 22% afirmam ter sido vítimas agressões sexuais dentro de suas famílias.

Segundo a diretora da pesquisa, Isabelle Panhard, se o resultado desse trabalho for transferido ao conjunto da população da França, a estimativa é que 6% dos franceses tenham sido vítimas de incesto enquanto menores de idade. O número é ainda maior quando a amostra das mulheres é analisada separadamente: 9% das garotas do país sofreram esse tipo de violência.

Ao jornal Le Figaro, Panhard também explicou que a decisão de realizar o trabalho online visava facilitar ouvir as vítimas dessas violências. A última pesquisa realizada sobre a questão, por telefone, em 2009, chegou à conclusão que 2 milhões de franceses haviam sido abusados sexualmente por familiares na infância e na adolescência. "Isso não quer dizer que o número de vítimas aumentou em seis anos. É mais fácil reconhecer ter vivido essas situações em um questionário na internet do que por telefone", sublinha.

No total, 929 pessoas foram ouvidas pelo instituto Harris nos dias 28 e 29 de outubro de 2015 em um questionário na internet.

Problema de saúde pública

Ressaltando as consequências para a saúde do indivíduo que viveu traumas durante a infância, "desde 2002, a Organização Mundial da Saúde recomenda aos Estados tratar as violências sexuais como um problema de saúde pública", diz Panhard.

A Aivi batalha para que a França implemente um plano governamental contra o incesto envolvendo crianças e adolescentes. Apesar de a Assembleia Nacional ter reinserido a noção de incesto no código penal no último dia 18 de novembro, o texto não reconhece que ao menor vítima de violências sexuais não cabe a decisão de permitir o ato - um retrocesso que enfurece as associações de proteção às crianças e adolescentes.

Junto aos dados divulgados pelo estudo, a Aivi lança hoje uma campanha de sensibilização. No vídeo divulgado nas redes sociais, um garoto demonstra aversão ao Natal. Para o protagonista da gravação, essa época do ano geralmente tão aguardada pelas crianças é associada ao encontro com um membro da família de quem é vítima de agressões sexuais.

Legislação sobre incesto na França

Devido à falta de informação sobre a questão, a maioria dos franceses ignora que qualquer cidadão é autorizado a denunciar casos de incesto envolvendo menores de idade, mesmo sem ter provas.

Já para os médicos a situação é mais delicada. Ao contrário dos Estados Unidos e do Canadá, onde a denúncia é obrigatória, na França, os médicos correm risco de serem processados. É o caso da pedopsiquiatra Catherine Bonnet, que após ter assinalado às autoridades a suspeita de incesto de um de seus pacientes, foi penalizada pela Justiça e só pôde recuperar sua licença médica anos depois.

"Poucos médicos sabem reconhecer efeitos do incesto na saúde e que uma denúncia pode salvar a vida de uma criança", disse Bonnet, em entrevista ao jornal Le Figaro. Ela sublinha um avanço da nova lei, que introduziu a noção da proteção civil, penal e disciplinar dos profissionais de saúde, em caso de um alerta às autoridades.

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