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O Mundo Agora

Marine Le Pen não venceu em regionais, mas seu partido é o maior da oposição

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Finalmente, a classe política francesa tradicional deu um suspiro de alívio. A Frente Nacional, o partido xenófobo de extrema-direita dirigido por Marine Le Pen, não conseguiu ganhar a presidência de nenhuma região francesa. Apesar de ter chegado na frente em várias, no primeiro turno das eleições regionais. Só que Marine Le Pen saiu rindo e comemorando o maior número de votos já alcançados pelo seu movimento, enquanto os políticos socialistas e os republicanos da direita clássica estavam todos com cara de enterro.

Frente Nacional, de extrema-direita, não conquistou nenhuma região francesa, mas despontou como principal força política da oposição
Frente Nacional, de extrema-direita, não conquistou nenhuma região francesa, mas despontou como principal força política da oposição REUTERS/Pascal Rossignol
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Na verdade, eles só conseguiram barrar as vitórias quase certas da Frente Nacional apelando para soluções de desespero. O primeiro-ministro socialista chegou a prever uma “guerra civil”, se a extrema-direita ganhasse uma região. Um argumento um tanto excessivo e considerado irresponsável por boa parte da opinião. Além disso, pediu aos seus eleitores que votassem em massa contra a extrema-direita.

Resultado: em várias regiões, a direita ganhou com os votos da esquerda e os socialistas ficaram sem nenhum assento nas respectivas assembleias regionais. Um sacrifício e tanto. Quanto à direita republicana, ela ficou que nem barata tonta. Alguns tentando atrair os eleitores da extrema-direita com discursos radicais sobre a soberania nacional e a rejeição dos imigrantes. Outros defendendo uma coligação com os centristas e até uma aliança de fato com os socialistas contra o partido de Marine Le Pen.

No final, a direita republicana ganhou sete regiões, em parte, graças aos votos socialistas. E os socialistas ganharam cinco regiões, graças à forte presença das listas da extrema-direita, que dividiu os votos da direita clássica. Ninguém teve vontade de sair comemorando. E a senhora Le Pen teve toda a razão de dizer que, para ela, foi uma “derrota vitoriosa” e que a Frente Nacional, sozinha contra todos, tornou-se o maior partido de oposição do país.

Na verdade, a ressaca dessa confusão eleitoral vai ser pesada. Depois da proclamação dos resultados, todos começaram a abrir o jogo para a eleição presidencial de 2017 e para o programa político desse último ano de governo do presidente François Hollande. E o problema é que se forem por esses caminhos anunciados, quem vai ganhar força é a extrema-direita. Os líderes do PS estão convencidos que podem governar e ganhar as eleições apelando para o medo.

Perdida, classe política tradicional adota retórica da extrema-direita

O governo atual, incapaz de resolver o problema do desemprego e da estagnação econômica, adotou um discurso de chefe de guerra: guerra contra o terrorismo, estado de sítio interno, exaltação da autoridade do Estado, exército na rua e restabelecimento dos controles nas fronteiras. Não há dia em que não apela para o patriotismo dos franceses e para o orgulho de ser francês e cantar a Marselhesa. Só que tudo isso está no próprio programa da Frente Nacional há anos. E Marine Le Pen pode tranquilamente ironizar afirmando que quem tinha razão era ela e que os outros só estão tentando copiá-la. Nada melhor para convencer novos eleitores.

Quanto à direita, ela praticamente implodiu na noite do voto. Todos os candidatos à candidato a presidente da República em 2017 lançaram seus próprios programas. Uns prometendo uma guinada para a mais direita ainda, esperando esvaziar a força da Frente Nacional. Uma tática que o presidente do Partido Republicano, Nicolas Sarkozy, vem seguindo há anos e que sistematicamente sai pela culatra, aumentando o número de votos de Marine Le Pen e seus amigos. Outros propondo uma guinada para o centro, para tentar conquistar os votos dos centristas e socialistas mais moderados desencantados com a falta de competência e de visão do governo de François Hollande. Mas, com isso, eles contribuem para dividir a direita clássica, o que também abre caminho para a extrema-direita.

Na verdade, uma parte cada vez maior dos eleitores franceses não confia mais numa classe política envelhecida e ossificada, que faz as mesmas promessas a cada eleição sem cumprir nenhuma. Não é por acaso que um número cada vez maior esteja atraído pelo populismo nacionalista da família Le Pen, nem que seja para mostrar que estão furiosos e que querem mudanças radicais.

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