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Jihadistas/França

França cria relatório com depoimentos de jihadistas que voltaram da Síria

Intitulado "Recrutamento, percurso e atividades de combatentes franceses", um documento criado pelo ministério francês da Justiça reúne informações de franceses que desistiram de fazer a guerra santa na Síria e voltaram ao país. O texto, revelado pelo jornal Le Monde que chegou às bancas nesta segunda-feira (19), faz parte de vários documentos relativos à radicalização de jovens que o governo vem reunindo e investigando.

Reprodução vídeo do  jihadista francês Maxime Hauchard.
Reprodução vídeo do jihadista francês Maxime Hauchard. Reprodução vídeo BFMTV
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O novo documento, preparado pelo ministério da Justiça, conta com detalhes de como os franceses que partem para a guerra santa fazem para chegar à Síria, da rotina nos campos de treinamento, as funções desempenhadas e quem são os jovens que conseguem voltar à França.

Reunindo relatos, o ministério da Justiça descobriu que três quartos dos franceses que partiram para a Síria fazer a guerra santa foram integrados ao grupo Estado Islâmico. As primeiras formalidades são, de acordo com o documento, prestar sermão e ter seus documentos de identidade confiscados. Logo depois, eles são enviados aos campos de treinamento, onde devem passar de um ou dois meses.

No local, eles devem levantar às 5h30 para rezar e fazer o treinamento físico. Eles também passam por um condicionamento psicológico (de resistência à fome e ao frio), além de receberem aulas de religião e exercerem a função de guardas noturnos do campo. Depois da formação, os aprendizes são reunidos em batalhões, chamados de katibas, separados pela língua materna. Assim, franceses e belgas, francófonos, são reunidos no mesmo grupo.

Responsabilidades

Muitos franceses relataram ter subido na hierarquia; alguns assumem a chefia de grupos, outros são integrados à polícia islâmica. Uma boa parte se torna enfermeiro ou recebe tarefas menores, como fazer a limpeza, as refeições ou trabalhos manuais. Raros são os jihadistas franceses que reconheceram participar dos combates, a maior parte deles relata, no máximo, ter trabalhado na "segurança". Um deles contou ter participado de uma missão de proteção de uma cidade xiita, na qual seu grupo matou todas as pessoas com quem cruzou.

Outro jihadista francês, "particularmente marcado por sua experiência" relatou ter participado de decapitações e ter ele mesmo segurado a cabeça de um prisioneiro degolado. Outros foram testemunhas de amputações e torturas filmadas em praça pública onde, de duas a três vezes por semana, "cabeças de pessoas acusadas de pecar eram cortadas e expostas", descreve o documento.

De volta à França

A grande questão, para o governo francês, é de saber distinguir os jihadistas que cortaram definitivamente os laços com os radicais na Síria e no Iraque e os que voltam ao país a fim de continuar sua missão. Nos últimos meses, o grupo Estado Islâmico tem raramente permitido seus combatentes europeus voltar a seus países de origem.

Um francês entrevistado recentemente pelo serviço antiterrorista descreveu a Síria como "uma fábrica de terroristas", formados para atacar a França e a Europa em um futuro próximo. Uma das estratégias do grupo Estado Islâmico, descobertas através das investigações dos ex-extremistas, seria a de enviar seus combatentes a diferentes países europeus ao mesmo tempo, na tentativa de dificultar sua identificação pelas autoridades.

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