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França

Ditado obrigatório todo dia revolta professores e alunos na França

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O ditado é considerado uma matéria traumatizante para os franceses; os estudantes não gostam e os adultos lembram dele sem saudades. Mas para a ministra da Educação, Najet Vallaud-Belkacem, o velho ditado continua sendo a melhor maneira de se aprender a escrever e a ler. Entre outras novidades, ela acaba de integrar o ditado diário obrigatório ao programa escolar do ano que vem para os alunos do CP, ciclo do primário até a 3ª série, período equivalente à Educação Básica no Brasil.

O ministério da Educação francês decidiu instituir o ditado obrigatório na Escola Elementar.
O ministério da Educação francês decidiu instituir o ditado obrigatório na Escola Elementar. Pixabay.com
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Os franceses erram muito quando escrevem, argumenta a jovem ministra da Educação, justificando a inclusão do ditado diário no novo programa escolar de 2016. O seu ponto de vista criou polêmica nos meios estudantis, ganhou as páginas da imprensa do país e revoltou professores e alunos.

Sébastien Sihr critica severamente a atitude da ministra em querer impor o ditado diário.
Sébastien Sihr critica severamente a atitude da ministra em querer impor o ditado diário. Twitter

Sebastien Sihr, secretário-geral do SNUipp-FSU, o maior sindicato das escolas maternal e elementar, está inconformado com a proposta: "Ficamos muito surpresos com o anúncio da ministra de um ditado cotidiano porque o ditado nunca desapareceu, ele é amplamente aplicado em classe, aliás, os futuros programas não falam em ditado diário, mas em atividade ortográfica regular, o que é legitimo. Apresentando esse programa centrado no ditado ela silencia sobre aspectos mais interessantes e importantes do programa escolar e é uma pena".

O professor Sébastien Sihr lembra que ler, escrever e contar são bases fundamentais já praticadas na escola e que o ditado cotidiano não vai fazer os franceses escreverem melhor. "Todos os dias os alunos praticam atividades de ditado, escrita, matemática, sob formas variadas e e não apenas no modo formal do ditado; os professores promovem atividades que permitem trabalhar essas matérias, que sempre foram prioritárias na escola primária. Ficamos surpresos com o anúncio da ministra pois constatamos um paradoxo: de um lado ela anuncia há meses que quer promover a autonomia pedagógica, do outro ela vem explicar aos professores o que é preciso fazer em aula. Esse paradoxo é inaceitável porque os professores do primeiro grau não precisam ser infantilizados, são profissionais em quem devemos confiar", observa Sihr.

O que pensam os alunos?

Qual será a opinião de quem vai fazer o ditado todo dia? Eduardo Ramalho, de 10 anos, é filho de pais 

Eduardo Ramalho acha que ditado diário vai ser muito cansativo e pode ser substituído por outras atividades.
Eduardo Ramalho acha que ditado diário vai ser muito cansativo e pode ser substituído por outras atividades. ER

brasileiros e nasceu e estuda na França. Ele cursa o último ano do ensino primário e explica, em primeiro lugar ,como é o ditado na escola: "Na nossa escola o ditado funciona assim: a professora copia palavras no quadro, depois a gente escreve no caderno e a gente tem uma semana ou cinco dias pra aprender e depois ela dita em voz alta pra gente escrever".

Eduardo acha que ditado todo dia é demais e ele não é o único. "Não acho muito legal fazer ditado todo dia porque seria muito trabalho só para aprender tudo em um dia, eu não acho muito legal, a gente tem que trabalhar muito e isso não é muito legal para as outras crianças. Eu não gosto de fazer ditado e acho que meus outros amigos também não gostam muito", ele diz, lembrando que o exercício "pode cansar muito o cérebro e isso não é bom".

E o que será que ele sugere no lugar do ditado obrigatório? "É lógico que eu aprendo mais o francês [com o ditado] mas só fazer ditado todo dia é 'perca' de tempo, poderia fazer outras coisas, matemática um dia, ciências no outro, história um outro dia...", reflete o aluno.

"O professor não é criança..."

Jamayê Viveiros acha que o professor tem que ter liberdade para ensinar o seu programa.
Jamayê Viveiros acha que o professor tem que ter liberdade para ensinar o seu programa. LC

Jamayê Viveiros, de 14 anos, está na terceira série, equivalente ao último ano do Ensino Fundamental no Brasil. Ele tem pai brasileiro e mãe urugaia e também nasceu na França.
Ele não curte a ideia de ditado todo dia e defende a liberdade do professor de francês de escolher o seu próprio método. " Acho que o professor não é uma criança, ele tem o programa dele a respeitar, mas daí ele tem o método dele, usa o programa com o método dele... Se ele quer fazer cálculo [matemática] um dia, ditado um outro, é ele quem escolhe, ele tem que cumprir um programa até o fim do ano mas escolhe como ele faz", diz o estudante.

Jamayê pensa que ninguém vai gostar de um ditado imposto todos os dias. Além disso, ele questiona como fazer no dia em que não há aula de francês. "Quem vai fazer o ditado? O professor de uma outra matéria? Não vai ser possível..." ele se pergunta, afirmando que ditado todo dia "é demais".

A iniciativa da ministra francesa da Educação continua causando grande polêmica nos meios estudantis e ainda deve causar muitos debates até o ano letivo de 2016 começar.

 

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