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França/Liberdade de imprensa

Países muçulmanos criticam nova charge de Maomé em Charlie Hebdo

A publicação da edição histórica do semanário satírico Charlie Hebdo com um novo desenho de Maomé na capa, uma semana após o atentado contra a redação do jornal, provoca reações de condenação em países muçulmanos. Um tribunal da Turquia ordenou o bloqueio de sites que reproduzirem a capa de Charlie, considerada ofensiva aos fiéis. Autoridades religiosas do Egito, Irã e Palestina também se manifestaram. 

O primeiro-ministro francês, Manuel Valls, exibe seu exemplar da edição histórica de Charlie Hebdo.
O primeiro-ministro francês, Manuel Valls, exibe seu exemplar da edição histórica de Charlie Hebdo. AFP PHOTO PATRICK KOVARIK
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A tiragem excepcional de 1 milhão de exemplares de Charlie Hebdo, em homenagem aos 12 mortos no atentado, esgotou em poucos minutos. A edição "dos sobreviventes", como está sendo chamada, foi traduzida em cinco línguas: inglês, espanhol e árabe, para as versões digitais, e também em italiano e turco na versão impressa. A capa traz uma caricatura do profeta Maomé com uma lágrima, segurando o cartaz "Je suis Charlie" ("Eu sou Charlie") e o título: "Tudo está perdoado".

Ao contrário da imprensa francesa e europeia, a maioria dos grandes jornais de países muçulmanos da África e da Ásia não reproduzem a capa de Charlie Hebdo em respeito à proibição, para os muçulmanos, de representar o profeta. Rara exceção é o jornal turco de oposição Cumhuriyet, que publica boa parte da edição especial.

O líder religioso dos palestinos Mohammad Hussein denunciou um novo insulto aos muçulmanos, mas rejeitou o recurso à violência.

O site de informação conservador iraniano Tabnak afirma que Charlie insulta novamente o profeta. O ministro das Relações Exteriores iraniano, Mohammad Jawad Zarif, afirmou que o diálogo de seu país com os países ocidentais seria mais fácil "se a sensibilidade dos muçulmanos fosse respeitada". A declaração aconteceu pouco antes de Zarif iniciar uma reunião, em Genebra, com o secretário de Estado americano, John Kerry, sobre um futuro acordo nuclear entre o Irã e as grandes potências. 

A principal autoridade do Islã no Egito, Shawqi Allam, disse que a charge "é uma provocação injustificada aos 1,5 bilhão de muçulmanos em todo o mundo". A principal autoridade sunita, Al-Azhar, baseada também no Cairo, declarou que a caricatura "vai atiçar o ódio".

O grupo Estado Islâmico considera "extremamente estúpida" a publicação das novas caricaturas.

A união mundial das autoridades religiosas muçulmanas diz que a publicação só dará credibilidade à tese de que o Ocidente é contra o islamismo. Na França, os responsáveis muçulmanos pediram calma.

Franceses fazem fila nas bancas

Os franceses fizeram fila para comprar o semanário desde as primeiras horas da manhã. Para atender à demanda, a tiragem inicial de 1 milhão de exemplares foi ampliada para 3 milhões e depois para 5 milhões, que chegarão às bancas até o dia 19 de janeiro. Com a distribuição de Charlie esgotada, muitos franceses compraram outro semanário considerado alternativo e satírico, "Le Canard Enchainé", que também sofreu ameaça na sexta-feira (9) de que seria o próximo alvo dos terroristas.

O cartunista Luz, autor da capa histórica, explicou a escolha: "Não era a capa que muitas pessoas gostariam que fizéssemos. Mas é a capa que nós decidimos fazer. Não é a capa que os terroristas gostariam que fizéssemos, porque aqui não tem terroristas. Só um homem que chora, Maomé... Sinto muito, nós voltamos a desenhá-lo, mas o Maomé que desenhamos é um homem que chora antes de qualquer coisa."

A capa de Charlie Hebdo não poderá ser vista em todo o mundo ocidental. Nos Estados Unidos, onde a sátira religiosa é tabu, e na maioria dos jornais britânicos, a charge não será reproduzida. No entanto, Washington fez questão de afirmar o "apoio absoluto ao direito de Charlie Hebdo publicar o desenho".

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