Edição histórica de Charlie Hebdo esgota em poucos minutos
Uma semana depois do atentado contra o jornal satírico Charlie Hebdo, que deixou 12 mortos, uma edição histórica da publicação chegou nesta quarta-feira (14) às bancas e esgotou em poucos minutos. Os franceses fizeram fila para comprar o semanário desde as primeiras horas da manhã. Para atender à demanda, a tiragem inicial de 1 milhão de exemplares foi ampliada para 3 milhões e depois para 5 milhões, que chegarão às bancas até o dia 19 de janeiro.
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Em Paris e em grandes cidades francesas, os primeiros 700 mil exemplares da edição de Charlie Hebdo acabaram em poucos minutos. Leitores fizeram fila e só os que chegaram bem cedo, na abertura das bancas, garantiram o exemplar. Com a distribuição de hoje esgotada, muitos franceses compraram outro semanário considerado alternativo e satírico, "Le Canard Enchainé", que também sofreu ameaça na sexta-feira (9) de que seria o próximo alvo dos terroristas.
Esta edição de Charlie Hebdo, chamada "dos sobreviventes", foi traduzida em cinco línguas: inglês, espanhol e árabe, para as versões digitais, e também em italiano e turco na versão impressa. A distribuição será em 25 países, algo inédito para a imprensa francesa. A capa, divulgada previamente, mostra a caricatura do profeta Maomé com uma lágrima, segurando o cartaz "Je suis Charlie" ("Eu sou Charlie") e o título: "Tudo está perdoado".
O cartunista Luz, autor do desenho, explicou a escolha: "Não era a capa que muitas pessoas gostariam que fizéssemos. Mas é a capa que nós decidimos fazer. Não é a capa que os terroristas gostariam que fizéssemos, porque aqui não tem terroristas. Só um homem que chora, Maomé... Sinto muito, nós voltamos a desenhá-lo, mas o Maomé que desenhamos é um homem que chora antes de qualquer coisa."
Muitos muçulmanos consideram a reprodução da imagem do profeta Maomé uma ofensa. Depois do ataque contra a sede da revista, os irmãos Kouachi disseram que vingaram o profeta.
Reações no mundo muçulmano
O estilo polêmico e ousado do Charlie Hebdo, visto mais uma vez na nova edição, provoca reações de condenação. A principal autoridade do Islã no Egito, Shawqi Allam, disse que a charge da capa de Charlie Hebdo "é uma provocação injustificada aos 1,5 bilhão de muçulmanos em todo o mundo". A principal autoridade sunita, Al-Azhar, baseada também no Cairo, declarou que a caricatura "vai atiçar o ódio". No Irã, o site de informação conservador Tabnak afirma que Charlie insulta novamente o profeta.
O grupo Estado Islâmico considera "extremamente estúpida" a publicação das novas caricaturas.
A união mundial das autoridades religiosas muçulmanas diz que a publicação só dará credibilidade à tese de que o Ocidente é contra o islamismo. Na França, os responsáveis muçulmanos pediram calma.
Ao contrário da imprensa francesa e europeia, a maioria dos grandes jornais de países muçulmanos da África e da Ásia não reproduzem a capa de Cherlie Hebdo em respeito à proibição, para os muçulmanos, de representar o profeta. Rara exceção é o jornal turco de oposição Cumhuriyet, que publica boa parte da edição dos sobreviventes.
A capa de Charlie Hebdo não poderá ser vista em todo o mundo ocidental. Nos Estados Unidos, onde a sátira religiosa é tabu, e na maioria dos jornais britânicos, a charge não será reproduzida. No entanto, Washington fez questão de afirmar o "apoio absoluto ao direito de Charlie Hebdo publicar o desenho".
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