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França/Escândalo Cahuzac

Em audiência, Cahuzac evita falar de contas no exterior

Claramente abatido, o ex-ministro Jérôme Cahuzac, protagonista do maior escândalo da era François Hollande, usou sua audição diante da comissão parlamentar de inquérito para eximir de culpa o presidente e seu governo. E se recusou a responder várias das perguntas para as quais o povo francês mais espera respostas.

Jêrome Cahuzac aguarda o início de sua audiência na Assembleia Nacional, em Paris
Jêrome Cahuzac aguarda o início de sua audiência na Assembleia Nacional, em Paris REUTERS/Gonzalo Fuentes
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Indiciado por esconder uma conta bancária em paraíso fiscal, Cahuzac chegou às 16h30 ao Palácio Bourbon dirigindo uma scooter, de terno cinza e gravata preta. Enquanto tomava notas, o antigo ministro do Orçamento pediu que os deputados não lhe exigissem que expusesse seus "sentimentos pessoais". Falou de sua dor, deixou que a voz embargasse seguidas vezes.

O ex-ministro, um dos principais oradores da entourage de Hollande, escapou de todas as questões diretas sobre os bancos que usou para depositar dinheiro no exterior, sobre as datas de transferências de valores ou ainda sobre suas viagens à Suíça. De acordo com ele, este tipo de pergunta invade a investigação que corre em segredo de justiça, o que extrapola a competência da CPI. Os mais 30 deputados que integram a comissão estudam abrir um processo administrativo, além do judiciário.

Ele também se negou a informar a extensão do conhecimento de seus chefes - o ministro das Finanças Pierre Moscovici, o primeiro ministro Jean-Marc Ayrault e o presidente François Hollande. Para isso, ele alegou que uma "muralha da China" foi construída em volta dele para impedi-lo de obter qualquer informação sobre seu processo.

"Há duas barreiras que nunca ultrapassei", garantiu o ex-ministro: "Nunca jurei pela vida de meus filhos não ter conta no exterior. Também não menti à administração da qual era encarregado, isso me parecia impossível", disse, justificando o fato de não ter respondido ao fisco quando interrogado sobre o dinheiro além-mares.

Os deputados queriam saber se Cahuzac poderia ter se beneficiado de eventuais proteções entre a revelação de suas contas no exterior - feita pelo site de notícias Mediapart, em 4 de dezembro do ano passado - e sua confissão, em 2 de abril. Ele negou, dizendo que não falou sobre isso nem com ministros nem com o presidente François Hollande.

Poucas horas antes de sua audição, Jérôme Cahuzac disse ao canal de TV Europe 1 que se considera "bode expiatório de todas as mazelas políticas" francesas. Ele considera que foi julgado sumariamente, mesmo por aqueles que se dizem seus amigos.

O ex-ministro foi demitido em 19 de março, dia seguinte à abertura de um processo judiciário e três semanas antes de admitir que possuía mais de 600 mil euros em uma conta não declarada no exterior.
 

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