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AF447/BEA

Falhas nas indicações de velocidade atrapalharam pilotos do AF447

A BEA, a agência civil francesa que investiga acidentes aereos, divulgou nesta sexta-feira as primeiras conclusões sobre o acidente com o voo AF447, que caiu no dia 31 de maio de 2009 no oceano Atlântico. O comunicado também confirma que o comandante de bordo não estava no cockpit quando os incidentes começaram a ser registrados na aeronave, provocados por falhas nos sensores Pitot.

Coletiva do BEA (Birô de Investigações e Análises), escritório francês que investiga a segurança na aviação civil
Coletiva do BEA (Birô de Investigações e Análises), escritório francês que investiga a segurança na aviação civil Reuters
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A queda do airbus 330 durou três minutos e meio, resultado de uma perda de sustentação abrupta. Depois do desligamento do piloto automático, a ordem de um dos co-pilotos, que estava no comando da aeronave, foi executar uma manobra de recuperação, que possibilitasse uma elevação do nariz da aeronave para evitar o acidente. A altitude, nesse momento era de 38 mil pés. Contrariamente ao que foi divulgado pela imprensa francesa, os pilotos tentaram desviar de uma área de turbulência virando à esquerda. Esse é um resumo de alguns dos fatos que precederam a tragédia ocorrida na noite do dia 31 de maio de 2009, com o voo AF447.

De acordo com as gravações do CVR (Cockpit Voice Recorder), divulgadas parcialmente pelo BEA, pouco antes do início dos incidentes, entre 1h59 e 2h01 (GMT), o comandante de bordo conversava com os co-pilotos. Um deles avisa que a aeronave deverá passar por uma zona de turbulência nos próximos minutos, "mas infelizmente não poderemos aumentar a altitude porque a temperatura está diminuindo mais rápido do que o esperado." Neste momento, os pilotos tentam entrar em contato com a torre de controle em Dakar, sem sucesso, e o comandante deixa a cabine.

Por volta das 2h06, os co-pilotos avisam os comissários de bordo que o avião passará por uma zona de forte turbulência. Dois minutos depois, um dos co-pilotos sugere virar um pouco à esquerda. As turbulências aumentam. O desligamento do piloto automático é registrado por volta das 2h10. O co-piloto assume o comando, tenta "embicar" a aeronave, e o alarme de perda de controle do aparelho soa duas vezes seguidas. Os parâmetros mostram uma queda brutal de velocidade da aeronave do lado esquerdo, e em seguida no instrumento de resgate (ISIS). A incongruência nas velocidades dura menos de um minuto. O piloto tentar manobrar o avião puxando o nariz para baixo à direita, e à esquerda. Os co-pilotos tentam acordar o comandante, por volta das 2h10, e o alarme de perda de controle voltar a tocar.

De acordo com ocomunicado do BEA, é neste momento, em poucos segundos, que todas as indicações de velocidades se tornam inválidas, dificultando a reação dos pilotos.  Por volta das 2H12, 2 minutos antes da queda da aeronave, novas velocidades são coerentes voltam a ser registradas, e o alarme de perda do aparelho é reativado. O co-piloto tenta embicar mais uma vez a aeronave. O comandante volta para a cabine em torno de 2h11, três minutos antes da queda. As velocidades registradas se tornam inválidas, segundo o comunicado, e o alarme de perda é interrompido.

O drama tem início. O avião faz semi-círculos de cerca de 40 graus, e co-piloto tenta embicar o avião pela última vez, durante 30 segundos. As gravações do cockpit indicam que, por volta das 2h12, os pilotos indicam que não tem mais nenhuma "indicação válida." O co-piloto tenta, em vão, fazer "ações de pique", ou seja, empurrar o nariz do avião para baixo. A potência do motor é de quase 100%. Os pilotos tentam controlar a aeronave. Um dos co-pilotos diz nas gravações: " você tem os comandos." Aos exatos 2h14min e 28 s, os registros param, o avião sofre uma perda bruta de sustentação (deep stall) e cai no oceano. A queda durou 3 minutos e 30 segundos.

A nota da agência também destaca que, "a composição da tripulação estava em conformidade com os procedimentos do operador", e a massa e o centro de gravidade estavam dentro dos limites operacionais. Os motores também estavam funcionando normalmente, e estavam sob controle da tripulação, confirmando a tese de que problemas graves no Airbus não poderiam explicar o acidente.O BEA não especificou se essa incongruência das velocidades foi resultado do congelamento dos sensores Pitot, que medem a velocidade do avião, como se suspeita.

Famílias reagem ao comunicado

A Associação dos Familiares das Vítimas do voo 447 reagiu ao comunicado. Para o diretor-executivo da associação, Marteen Van Sluys, "houve uma preocupação nítida ao se produzir o incompleto relatório de hoje em não se apontar nenhuma culpa direta aos pilotos. A pressão dos sindicatos de pilotos franceses surtiu efeito", disse. Para o presidente da associação, Nelson Marinho, o comunicado explica "as circunstâncias, mas não as causas."

A Air France também indicou que deverá adotar medidas em acordo com as autoridades e a Airbus para evitar que outros acidentes semelhantes aconteçam. Já a Airbus indicou que o relatório é um passo importante para entender as causas da catástrofe. As duas companhias, acusadas de homicídio involuntário pelas famílias dos passageiros. Nesta quinta-feira, um relatório encomendado pelos advogados dos parentes das vítimas mostrou que falhas de segurança no avião, principalmente em relação aos sensores Pitot, contribuíram diretamente para a catástrofe.
 

 

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