Em Biarritz, Boris Johnson tenta ainda alternativa para um Brexit menos drástico
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Em sua primeira cúpula internacional como primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson testou as águas entre europeus e americanos durante a reunião do G7, em Biarritz, na França. Sem saber como se dará o desenlace do Brexit, marcado para 31 de outubro, não podia se mostrar muito afoito atrás dos Estados Unidos, nem distante da União Europeia.
De Londres, Vivian Oswald, correspondente da RFI
Sempre atento aos olhos da mídia, ele foi literalmente testar as águas. Aproveitou a manhã quente de domingo no luxuoso balneário francês, que recebeu uma estrutura de segurança inédita para a cúpula do G7, e foi nadar na baía de Biscaia, no Oceano Atlântico, antes das reuniões. Foi o único chefe de governo a fazer isso. Boris tem o hábito de sair de bicicleta antes do trabalho em Londres. Na agenda do dia, ele tinha algumas prioridades. Mas, diante da fragilidade interna do Reino Unido e das incertezas sobre o Brexit, tinha de tentar costurar uma boa relação com Trump, sem perder os europeus de vista. Até porque ele ainda tenta buscar uma saída menos caótica para o Brexit.
Perspectivas de um "no deal"
Sem um acordo com a União Europeia, analistas e empresários temem um caos econômico no Reino Unido depois do dia 31 de outubro. Mas as perspectivas não parecem boas. Johnson se encontro com o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk. Este último disse-lhe que ficaria conhecido como Mr. No deal, ou seja, seria responsável por uma saída abruta da União Europeia, sem acordo. O britânico tentou mostrar-se otimista. Mas disse que é preciso estar preparado para um Brexit sem um entendimento. Ele teria dito a Tusk que o Reino Unido deixa da UE com ou sem acordo no dia 31 de outubro.
Dos Estados Unidos, ouviu de Donald Trump que ele, Boris, era a pessoa certa para conduzir o Brexit. O americano também afirmou que o Reino Unido estava prestes a se libertar das suas amarras com os europeus. Trump ainda acenou com uma possiblidade de acordo comercial. Não significa que terá um entendimento, não como gostariam os britânicos.
Contra o protecionismo
Trump afirmou que estava disposto a discutir um "grande acordo" com o Reino Unido. E disse que "tirar a âncora europeia do pé dos britânicos" facilitaria esse entendimento. Boris Johnson, por sua vez, afirmou que os americanos também teriam de se comprometer a tirar várias barreiras protecionistas do caminho. Ele ainda manifestou grande preocupação com a guerra comercial entre Estados Unidos e China.
O protecionismo foi um ponto em que Johnson bateu bastante. Aliás, é um dos pontos de fricção entre os países do G7. O britânico disse que "aqueles que apoiam o aumento de tarifas correm o risco de serem os responsáveis pela queda do crescimento global".
O discurso protecionista acabou tendo o Brasil como alvo, depois que o presidente francês Emmanuel Macron, sugeriu que seu pais não ratificaria o acordo firmado entre o Mercosul e a União Europeia em junho deste ano para pressionar o Brasil a tomar providências contra os incêndios na Amazônia.
Crítica velada a Macron
Boris Johnson foi um dos chefes de governo a defender a ratificação do acordo. Ele disse que "tem todo o tipo de gente que usaria qualquer desculpa para interferir no comércio e frustrar acordos comerciais", e que ele não quer que isso aconteça. O alvo da crítica, sem dar nome aos bois, era Macron. A posição do francês tem sido vista como protecionista. A Alemanha e a Espanha manifestaram sua preocupação com a Amazônia, mas também deram a entender que o acordo está de pé. Macron acabou isolado na tentativa de pressionar o Brasil. Ao final do encontro, contudo, houve consenso sobre ajudar o Brasil e outros países amazônicos afetados pelos incêndios.
De modo geral, o clima da cúpula do G7 em geral foi tenso. Tanto é que se optou por sequer divulgar o tradicional comunicado final para evitar o que ocorreu no ano passado, quando Trump desautorizou o documento e criou certo constrangimento entre os canadenses, que organizaram a cúpula.
Até algum tempo atrás, o G7, o grupo dos países que reúne Alemanha, França, Reino Unido, Itália, Japão, Estados Unidos e Canadá, tinha perdido importância. A grande crítica era que este pequeno grupo já não representava a configuração global contemporânea, que o G20 seria mais representativo. O Brasil, que acabou se tornando um dos focos deste encontro em Biarritz, em função das queimadas na Amazônia, não participa do G7, mas é um dos integrantes do G20.
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