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Linha Direta

Britânicos votam hoje em eurodeputados que podem ter mandato relâmpago

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Às vésperas de deixar a União Europeia em definitivo, o Reino Unido, ironicamente, vai às urnas nesta quinta-feira (23) para eleger os deputados britânicos que vão compor a nova legislatura do Parlamento Europeu. O país vive um caos político: a confusão é tal que virou motivo de piada entre a população.

Piada em pub britânico diz para o cliente escolher a cerveja sabendo que vai receber outra coisa.
Piada em pub britânico diz para o cliente escolher a cerveja sabendo que vai receber outra coisa. V. Oswald
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Vivian Oswald, correspondente da RFI em Londres

Os britânicos e os holandeses serão os primeiros a votar nas eleições europeias que vão até domingo. No Reino Unido, pode ser que os 73 eurodeputados eleitos essa semana tenham um mandato de menos de cinco meses. Se os britânicos de fato saírem da União Europeia no dia 31 de outubro, como previsto, eles terão de deixar seus assentos até esta data, o que transforma a eleição em uma situação esdrúxula.

Os candidatos estão em campanha e tudo isso custa tempo e dinheiro mas, ao mesmo tempo, o governo e o Parlamento britânico ainda não chegaram a um entendimento sobre os termos do Brexit. Pode ser que o país se veja obrigado a uma ruptura drástica e que a separação seja feita sem um acordo com a União Europeia. Pode ser até que ela nem aconteça.

O fato é que os partidos não se entendem sobre uma saída para o caos. Como se não bastasse a confusão que já vem de vários meses, esta semana é forte em Londres o boato de que a primeira-ministra, Theresa May, pode cair a qualquer momento, por causa da sua condução à frente do processo do Brexit.

May apresentou na terça-feira (21) uma nova proposta para aprovar o acordo que fechou com a União Europeia para o divórcio. Mas uma separação em bons termos, sem maiores rupturas, já foi apresentada ao Parlamento britânico três vezes – e foi rejeitada nas três.

A premiê pretende reapresentá-la pela quarta vez, com algumas nuances. A principal é que o projeto prevê explicitamente que o Parlamento decida se quer submeter tudo a um novo referendo popular. Ou seja, consultar a população mais uma vez se quer realmente deixar a União Europeia, em uma proposta que, ao que parece, não convenceu os parlamentares. Nem o partido dela chega a um consenso sobre o tema. No Partido Conservador, existe um punhado de correligionários que querem o lugar da chefe de governo em 10 Downing Street.

Mandato relâmpago

Em princípio, os novos parlamentares terão apenas cinco meses de mandato, mas na prática esse curto período nem dará tempo de realizar projetos. Logo após a eleição, os 751 parlamentares europeus se reúnem para decidir quem será o novo presidente da Casa, criam as comissões, passam pelo recesso do verão, para só então dar início aos trabalhos. Isso só deve acontecer por volta de novembro, quando, em tese, os britânicos já nem terão mais direito a seus assentos. Apenas uma parte das vagas do Reino Unido serão redistribuídas – 27 no total – para outros países do bloco. França e Espanha serão os países mais beneficiados.

A situação impacta diretamente na política interna britânica. Espera-se que essa eleição dê um novo recado de insatisfação dos britânicos e imponha nova derrota ao Partido Conservador. Eles estão no poder desde 2010 e foram eles que conduziram o desastrado processo do Brexit.

Para resolver disputas internas do partido, os conservadores realizaram o referendo de junho de 2016, no qual a população optou pelo Brexit. De acordo com as últimas sondagens, o partido de primeira-ministra Theresa May tem apenas 13% das intenções de votos. Os trabalhistas têm pouco mais de 20% de apoio popular.

O descrédito nos dois maiores partidos britânicos, que se alternam há séculos no comando do Reino Unido, significa que os eleitores estão identificados com a nova legenda oportunista criada pelo líder de extrema direita Nigel Farage. Seu novo Partido do Brexit tem nada menos que 34% das intenções de voto.

Campanha contra a extrema direita

As pesquisas criaram pânico entre os dois grandes partidos. Nas mídias sociais, há campanhas de grupos que pedem para que a população se una contra o avanço da extrema direita. “Não acorde com algo de que você se arrependa. Não acorde com Farage”, diz uma das peças que estão sendo veiculadas pelo People’s vote, grupo que defende a realização de um novo referendo.

Analistas afirmam que a eleição europeia desta semana está sendo vista pelo eleitor como uma espécie de segundo referendo do Brexit. É justamente nisso que aposta Farage, que defende que a população “votou, mas não levou” – sua única plataforma de campanha.

Uma novidade interessante desse pleito é que ele deve determinar o ressurgimento dos liberais-democratas. O partido tinha sido destruído nas últimas eleições gerais. Foi punido por ter participado do governo de coalizão do conservador David Cameron, o primeiro-ministro conservador responsável pelo referendo do Brexit. Porém, agora, eles também devem passar à frente de conservadores e trabalhistas.

Na prática, ninguém está contente: nem aqueles que gostariam de permanecer na UE, nem quem votou pela saída. A população vê o processo com exasperação. A falta de uma solução para toda a confusão levou as pessoas a deixarem de acompanhar o noticiário sobre o Brexit. Elas dizem que estão estressadas e deprimidas, segundo pesquisas de opinião. Os britânicos cansaram do assunto.

O descrédito é tal, que o imbróglio é motivo de piadas. Em um pub nas proximidades do Parlamento britânico, em Londres, os donos oferecem a promoção do “Acordo do Brexit da cerveja”: diga à atendente o que você quer beber e ela vai te servir outra coisa!”.

Na quarta-feira (22), os britânicos que viviam na França também viveram uma situação insólita. Fora do país, eles recebem as cédulas para votar pelo correio. Só que as deles chegaram em cima da hora, para que votassem na quinta. Para economizar, as autoridades usaram um correio que não é o britânico Royal Mail. Pode ser que isso complique a vida do eleitor, que terá pouco tempo para votar.

Há quem diga que, depois do Brexit, os britânicos terão de deixar o Eurovision e a Eurocopa, mas esse é o menor dos problemas nesse momento.

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