A alguns dias das eleições europeias, imprensa francesa analisa "epidemia populista" no Velho Continente
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As revistas francesas Le Point e L’Obs dedicam as suas edições desta semana à ascensão do populismo na Europa. Matteo Salvini, na Itália, foi o símbolo escolhido pela primeira revista, que cita também Marine Le Pen, Viktor Orbán e Steve Bannon para designar o que eles chamam de “A incrível Internacional Nacionalista”, ironizando, é claro, a Internacional Socialista do passado.
“Viver sob o populismo” é a manchete da L’Obs, que menciona a Itália, mas também a Polônia e a Hungria na capa. A foto do milanês Matteo Salvini está estampada em ambas as capas. Chamado de “fenômeno” ou de “o homem forte da Europa”, o ministro do Interior e número 2 do governo italiano é apresentado em foto com uma arma na mão, para ilustrar a sua lei sobre legítima defesa.
"Um italiano médio"
A revista o descreve como alguém que é alvo de caricaturas, piadas ou adulações e que tem como força o fato de transformar o fútil em política. “Um italiano médio, sem frescuras, que assume sua barriga, suas obsessões e sua barba de três dias, que dirige um Fiat 500 e relaxa bebendo cerveja”. Com isso, sua popularidade continua em alta, a despeito de suas “palhaçadas”.
Conhecido pelos seus compatriotas como Matteo, sem o sobrenome, ou ainda “Teo” ou “Il Capitano”, ele cultiva a proximidade com o povo, distribuindo beijos em praças públicas, ao mesmo tempo em que se mostra duro com o “inimigo”, sugerindo uma escavadeira contra um acampamento de ciganos ou a castração química para estupradores. Para os imigrantes, ele é claro: “Fora!”.
Seu discurso populista ecoa, sem floreios, no Twitter e nas lives do Facebook. Apesar de seus adversários o classificarem como um neofascista, os historiadores do fascismo, mesmo que hostis ao ministro do Interior, distinguem o salvinismo do fascismo e o descrevem como um populista de direita.
“Epidemia mortal”
Com a proximidade das eleições para o Parlamento Europeu, no dia 26 de maio, a imprensa europeia está focada em entender o fenômeno do populismo e como ele se instala no cotidiano das pessoas. A L’Obs enviou jornalistas aos países citados para entrevistar pessoas pró e contra seus “regimes”. Alguns dos adversários tinham medo de dizer seus nomes e atividades e serem perseguidos por governos conhecidos como pouco democráticos.
“Milhões de europeus são governados hoje por líderes nacional-populistas. Alguns se acomodam, outros resistem a este novo modelo totalitário”, escreve L’Obs sobre o que ela define como “uma epidemia mortal que está conquistando o Velho Continente”.
“Ela [a epidemia populista] chegou na Hungria em 2010, depois na Polônia, na Áustria e na Itália, no ano passado. Os sintomas se espalharam até a Bulgária. Esta doença, que já contaminou 150 milhões de europeus, é o modelo de governo inventado por Vladimir Putin: a democracia iliberal”, escreve L’Obs sobre este sistema nacionalista e ultraconservador, de tendências autoritárias, “mas que continua a buscar legitimidade nas urnas”.
Segundo a “L’Obs”, o resultado das eleições do dia 26 de maio mostrarão o “grau de infecção” do continente europeu.
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