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Linha Direta

Matteo Salvini visita Hungria para discutir "pacto europeu" com o nacionalista Viktor Orbán

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O ministro do Interior da Itália, Matteo Salvini, de extrema-direita, reúne-se nesta quinta-feira (2) em Budapeste com seu colega de pasta da Hungria, Sándor Pintér, e com o primeiro-ministro nacionalista Viktor Orbán. Os dois políticos adotam posicionamentos intransigentes anti-imigração, embora com algumas diferenças, e tentam unir forças a três semanas das eleições para a renovação do Parlamento Europeu, de 23 a 26 de maio.

Orbán (esquerda) e Salvini se reuniram em agosto passado em Milão.
Orbán (esquerda) e Salvini se reuniram em agosto passado em Milão. REUTERS/Massimo Pinca
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Adriana Moysés, enviada especial a Budapeste

Para o nacionalista Viktor Orbán, o ministro do Interior e vice-primeiro-ministro da Itália "é um herói", o homem mais importante atualmente na União Europeia, por ter conseguido barrar a entrada maciça de imigrantes pela via marítima, no Mediterrâneo, depois dele ter bloqueado em 2015 a imigração terrestre.

Nessa quinta-feira, está prevista uma visita de Salvini à cidade de Röszke, na fronteira da Hungria com a Sérvia, onde Orbán ergueu em setembro de 2015, no auge da crise migratória, um muro de arame farpado, contendo o fluxo de migrantes que chegava do Oriente Médio. Entre a barreira metálica e a fronteira sérvia, Orbán criou uma zona de retenção onde mantém um grande número de migrantes sírios, afegãos e iraquianos, incluindo mulheres e crianças, em situação precária e sem acesso a seus direitos. São pessoas que poderiam pedir asilo na Europa, mas sequer conseguem ter suas solicitações tratadas por advogados, segundo a ONG humanitária Helsinki Group.

Aliança improvável

Orbán e Salvini compartilham o mesmo objetivo de fechar as fronteiras europeias para impedir novas levas de imigração no futuro. Ambos defendem o retorno dos imigrantes que estão no bloco "para casa", sem fazer distinção entre requerentes de asilo, refugiados, imigrantes legais e os sem documentos. Mas divergem num ponto fundamental: em relação à política de quotas da União Europeia. Enquanto o húngaro não aceita receber nenhum imigrante no solo húngaro, Salvini defende que as quotas sejam respeitadas.  

A três semanas das eleições europeias, essa divergência pode ficar temporariamente em segundo plano. Para Orbán, propor um “pacto europeu” com a extrema-direita de Salvini é uma maneira de mostrar aos eleitores húngaros que ele tem aliados na Europa, em caso de dificuldade.

"Pacto europeu" com Salvini

Em uma entrevista concedida nessa quarta-feira (1) ao jornal italiano La Stampa, Orbán defendeu que os partidos de direita, representados no Parlamento no grupo do Partido Popular Europeu (PPE), trabalhem em cooperação com legendas de extrema direita como a Liga, de Salvini, para garantir a sobrevivência dos conservadores no comando da União Europeia. O premiê húngaro acredita que a centro-direita sairá fragilizada das urnas no fim de maio, perdendo um número importante de eurodeputados, enquanto na Itália, por exemplo, a Liga tem chance de quadruplicar os resultados obtidos nas últimas eleições, em 2014.

As projeções indicam que o PPE deve conquistar a maior parte dos assentos no Parlamento, mas poderá perder a maioria, necessitando formar uma aliança formal ou informal com outro(s) grupo(s) na Casa, para impedir uma paralisação do Legislativo europeu nos próximos cinco anos.

Na entrevista à imprensa italiana, Orbán disse que o PPE cometeria um “suicídio político” se preferisse se aliar à esquerda em vez de aceitar uma aliança com partidos nacionalistas e de extrema direita, como ele sugere. Já faz algum tempo que o premiê húngaro defende essa ideia de que os conservadores precisam ser mais tolerantes na base ideológica, integrando as forças populistas em ascensão no bloco. Mas essa possibilidade é remota. O líder do PPE, o alemão Manfred Weber, já deixou claro que preferia se unir aos socialistas e liberais pró-europeus a formar uma aliança com as forças nacionalistas e de extrema direita.

Populistas continuam divididos

Em abril, Salvini propôs a criação de um grupo com colegas da Alemanha, Dinamarca e Finlândia. Da mesma maneira, a líder da extrema direita francesa, Marine Le Pen, tentou alinhavar uma aliança com colegas da Holanda e da República Tcheca. A verdade é que os populistas têm ocupado a mídia com essa agitação de reuniões e visitas, mas muitos especialistas notam que essas legendas terão dificuldade para cooperar umas com as outras, já que estão centradas em seus próprios interesses nacionais.

Apesar de todos os elogios que a Salvini, o partido de Orbán, o Fidesz, integra a bancada da direita no Parlamento Europeu, e o primeiro-ministro não tem a intenção de migrar para a ala mais radical. O problema é que o Fidesz foi suspenso do PPE em março depois de Orbán ter imposto uma série de reformas autoritárias na Hungria, que violam o estado de direito, a liberdade de imprensa e os direitos das minorias. Ele ameaça se juntar à ala extremista para manter um clima de tensão favorável às suas reivindicações.

Na Hungria, a maior parte dos analistas diz que o objetivo de Orbán é aumentar sua influência nos órgãos dirigentes do bloco, apesar de a Hungria contar, em seu território, com pouco menos de 10 milhões de habitantes. Permanecendo no PPE, Orbán satisfaz seu principal aliado externo, que é a Rússia, empenhada em enfraquecer os europeus. Se o Fidesz migrasse para a ala da extrema direita, que será uma bancada muito menor, ele perderia em poder de influência. 

A questão é que a retórica anti-imigração rende votos. Toda a propaganda do Fidesz e o posicionamento ideológico de conflito que Orbán busca manter com o que chama de “elite imperialista” de Bruxelas são calcados na retórica anti-imigração.

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