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Linha Direta

Entrevista na TV de líder de extrema direita condenado por racismo causa polêmica em Portugal

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A entrevista de Mário Machado, líder da organização portuguesa de extrema direita Nova Ordem Social e condenado por crimes de racismo, a um programa do canal de televisão TVI provoca grande polêmica no país.  O governo português criticou a emissora pelo espaço concedido ao extremista.

Mário Machado em entrevista a Manuel Luís Goucha
Mário Machado em entrevista a Manuel Luís Goucha Captura de vídeo
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De Luciana Quaresma, de Lisboa para a RFI

Mário Machado foi convidado a participar do programa “Você na TV” do canal TVI e sua aparição desencadeou uma forte repercussão também na opinião pública.

Conhecido por fazer apologia ao nazismo e defender a ditadura de Salazar (1932-1974), Machado foi condenado em 2012 a 10 anos de prisão vários crimes, entre eles o de discriminação racial. Ele foi condenado também por agressão a várias pessoas quando integrou um grupo de skinheads responsável por ataques a negros em um bairro de Lisboa no final dos anos 1990. O episódio resultou na morte de Alcino Monteiro, cidadão de Cabo Verde, brutalmente espancado.

Os telespectadores se indignaram com o tempo que foi dado ao entrevistado no programa televisivo e expressaram sua revolta nas redes sociais. Rapidamente a polêmica se espalhou aos jornais, televisão e meio político.

O ministro da Defesa, João Cravinho, atacou a rede de televisão na sua conta no Twitter a se referir a uma atitude incendiária. “"Vivemos tempos complexos e é preciso ter a noção que uma atitude destas por parte da estação em causa não é muito diferente de quem ateia incêndios pelo prazer de ver as labaredas", diz o texto.  

O Sindicato dos Jornalistas (SJ) considerou a atitude da rede de televisão “irresponsável”.

A Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) de Portugal  confirmou o recebimento de várias queixas contra a participação de Mário Machado e revelou que as participações serão avaliadas pelos serviços da órgão, nos trâmites habituais.

Programa suspenso

Diante da polêmica, a direção de programas do Canal TVI decidiu suspender o programa. O apresentador do “Você na TV”, Manuel Goucha, célebre no país, anunciou que o motivo da decisão foi  “quebra de confiança”. Goucha tentou rebater as críticas argumentando que, apesar de não concordar com as "ideias do convidado", defende a importância dos debates televisivos.

Segundo ele, diante das afirmações “perigosas” com as quais ele não pactua, tentou criar um espaço para uma conversa e que isso faz parte de uma sociedade democrática.

O Diretor de Informação do canal, Sérgio Figueiredo, fez questão de salientar que “a direção de informação da TVI e a TVI consideram que o modelo de sociedade que Mário Machado defende é repugnante, alertando que é algo que representa um perigo para a sociedade mas que, no entanto, a TVI defende a democracia acima de tudo.

Figueiredo criticou o Sindicato dos Jornalistas, acusando seus dirigentes de serem “falsos moralistas” e rebateu as críticas do ministro da Defesa. Ele afirmou que “João Cravinho integra um Governo que ainda há pouco tempo recusou pedir à organização da Web Summit que retirasse o convite a Marine Le Pen“, a líder da extrema direita francesa.

Reação de Ong antirracismo

Em um comunicado enviado às redações e postado nas redes sociais, a organização SOS Racismo mostrou total indignação com o convite feito pela rede de televisão TVI ao líder de extrema direita.

A Ong afirma que a atitude nada mais é do que” branquear a violência e normalizar o racismo” ressaltando que a Constituição portuguesa proíbe manifestações que pregam o fascismo, o nazismo e o racismo.

A Organização fez um apelo "às entidades responsáveis pela supervisão da comunicação social para que tomem as medidas necessárias para impedir que se transforme numa caixa de ressonância da ideologia racista no país”.

Segundo a entidade, dar espaço à ideologia fascista e racista, seja em que circunstância for, “não é nenhum exercício de liberdade de expressão” e, sim, contribui para enfraquecer os alicerces do Estado de Direito Democrático e “constituiu uma afronta aos valores de liberdade, dignidade e igualdade”.

 

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