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O Mundo Agora

2018 foi um ano em que partidos extremistas “saíram do armário”

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É difícil acreditar num feliz ano para a Europa. No primeiro mundo rico e poderoso, é a região mais ameaçada por catástrofes anunciadas. Nunca é confortável estar imprensado por duas grandes potências. Vladimir Putin nem se dá ao luxo de esconder o seu objetivo: dividir a União Europeia. Quebrar o processo de integração continental para voltar aos Estados nacionais brigando e competindo entre si.

Sede do parlamento europeu, em Estrasburgo. Eleições em 2019 irão renovar os parlamentares do bloco.
Sede do parlamento europeu, em Estrasburgo. Eleições em 2019 irão renovar os parlamentares do bloco. Diliff by Wikimedia Commons
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Claro, é bem mais fácil recriar uma zona de influência e impor o próprio poder numa Europa fragmentada, feita de Estados fracos incapazes de se entender. As armas utilizadas pelos russos são diabólicas e modernas: provocações militares, ofensivas permanentes nas redes sociais propalando mentiras, boatos e “fake news”, e apoio direto aos partidos nacionalistas de extrema direita e extrema esquerda para sabotar as democracias europeias.

Inquietante é que os Estados Unidos de Donald Trump estão adotando a mesma linha. Washington parece preferir uma Europa de pequenos e médios Estados-nações sem capacidade de se entender. Nada melhor para impor as suas regras e interesses econômicos: um “fortão” negociando com um bando de fracos é bem mais confortável do que defrontar um bloco econômico poderosíssimo.

Trump anda denunciando tanto a Aliança Atlântica, que organiza a segurança coletiva da Europa desde 1949, quanto as tentativas – ainda infrutíferas – dos governos europeus de criar uma capacidade militar e uma doutrina estratégica comuns.

Pior ainda: o magnata-presidente e o seu ideólogo Steve Bannon, também estão incentivando descaradamente as forças políticas europeias de extrema direita que querem desmanchar a União Europeia – na Inglaterra do Brexit, na Itália de Salvini, na Hungria de Orban, na França da  Frente Nacional de Le Pen, partido rebatizado como Reunião Nacional, ou na Alemanha do partido AfD.

Bannon, que utiliza as redes sociais de maneira sofisticada, quer montar uma frente de movimentos nacionalistas e xenófobos no Velho Continente. O anúncio da retirada das forças americanas na Síria também coloca os europeus numa posição difícil. Sem as americanos, o país e a região inteira podem descambar para mais guerras e mais terrorismo. E a Europa está na primeira linha para amargar os efeitos colaterais de uma nova explosão de violências.

Desafios para Europa

Na verdade, a situação do Velho Continente é pior do que durante a Guerra Fria, quando os Estados Unidos precisavam de um aliado forte e apoiavam a integração econômica dos países europeus democráticos. Hoje Washington e Moscou, juntos, jogam contra.

A questão central é saber se os governos e os povos europeus são capazes de enfrentar o desafio. E isso depende sobretudo da estabilidade interna de cada país e da possibilidade de manter, democraticamente, uma maioria pró-europeia em cada eleitorado.

2018 foi um ano em que os partidos extremistas saíram do armário e conseguiram convencer parte dos eleitores. Pouquíssimos chegaram a ser chamados para formar governos.

Mas muitos aumentaram consideravelmente os seus votos. As próximas eleições para o Parlamento Europeu, em maio próximo, serão decisivas. Elas vão decidir se ainda existe um bloco centrista pró-europeu com bastante força para manter, relançar e modernizar a União.

Coletes amarelos enfraqueceram Macron

Até pouco, muita gente tinha esperanças na liderança do presidente francês Emmanuel Macron, grande defensor da Europa unida frente aos nacionalistas xenófobos. Mas a revolta da pequena classe média dos “coletes amarelos” tirou o gás eleitoral do chefe de Estado francês.

Mas nem tudo são más notícias. Nos últimos tempos, várias eleições parciais na Europa viram os ecologistas e partidos mais centristas se manterem ou ganharem boa dose de votos.

Nos países mais autoritários da Europa do Leste – Hungria, Polônia ou Sérvia – manifestações populares começaram a contestar os governos. E os movimentos pró-europeus franceses, estão longe de ter desaparecido. É como se uma reação de bom senso estivesse começando a se organizar.

Há meio século que as Cassandras vaticinam o “fim da Europa”. E cada vez o Fênix renasce das suas pseudo-cinzas. Não dá para enterrar já a União Europeia. Feliz Ano Novo e bom 2019 para todos os ouvintes e amigos.

 

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