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Brasil-Mundo

Músico expande as fronteiras do violão brasileiro na Alemanha

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O violonista Daniel Marques trocou o Rio de Janeiro por Berlim há quatro anos. Mas a geografia musical desse carioca de 39 anos – que já tocou com Hermeto Pascoal, Guinga e Paulo Moura -, desconhece fronteiras. Daniel já se apresentou em mais de 200 cidades, em cerca de 40 países. Uma carreira internacional que combina com a cidade onde ele decidiu morar.

O violonista Daniel Marques trocou o Rio de Janeiro por Berlim há quatro anos.
O violonista Daniel Marques trocou o Rio de Janeiro por Berlim há quatro anos. Flickr/ Daniel Marques de Aguiar
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Por Cristiane Ramalho, correspondente da RFI em Berlim

Poderia ter sido Londres, Paris ou Nova York. Mas a capital alemã foi a escolhida por Daniel Marques. Não por acaso. Afinal, mesmo com um território dominado por uma forte cena eletrônica, permeada por jazz e muita música clássica, Berlim ainda oferece espaço para novas sonoridades, garante o violonista.

“Quando toco coisas como maracatu ou boi bumbá, as pessoas reagem muito bem”, diz Daniel. Para ele, uma das vantagens de Berlim é justamente esse “lado laboratório”, que foge do convencional e se abre para novas expressões musicais.

Formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o músico já tocou com feras como Paulo Moura, Guinga, Gilson Peranzzetta e Hermeto Paschoal. Mas nenhum deles chegou a intimidá-lo, assegura. “O sentimento é mais de frio na barriga. Uma alegria, uma empolgação juvenil, como a de um moleque fazendo um gol. Não tem importância nenhuma pro mundo. Mas para você tem.”

Hoje, Daniel Marques coleciona gols. Virou referência no violão de sete cordas, é arranjador, produtor e guitarrista, já ganhou prêmios e produziu três discos, além de receber elogios da crítica. Também caiu nas graças da realeza sueca, e se apresentou cinco vezes no aniversário da princesa Vitória, filha da rainha Silvia, que é brasileira.

Abrindo novas frentes

Em Berlim, Daniel tem aberto novas frentes. Já deu aulas na Global Music Academy – uma escola voltada para a world music – e produziu duas edições do Festival Brasilian Explorative Music, que abre espaço para experimentações. “Teve bastante gente nas duas edições. Foram três dias de festival, com três apresentações diárias”, lembra.

Nem assim houve uma folga financeira. “Botei uma grana do meu bolso para ir ao festival. No primeiro, tive retorno. No segundo, nem tanto”, diz o músico, que ainda não sabe quando fará uma terceira edição do evento.

“A ideia foi ir além de sonoridades regionalistas como o frevo, o samba e o maracatu, que já têm um espaço consolidado no cosmos brasileiro”. A dívida agora, diz ele, é com um trabalho de criação, seguindo os passos das gerações anteriores: “Queremos fazer uma música brasileira com mais reações químicas, que esteja descobrindo o Brasil constantemente”.

Trio com toque afro-brasileiro

Um Brasil que anda para lá de desafinado, na avaliação do músico, que acabou de voltar de uma temporada de seis meses por lá. “O país está muito perverso consigo mesmo. Como uma cultura extremamente complexa, miscigenada, pode chegar num nível de polarização tão grande? É o sintoma mais latente de que ele está indo na direção errada. Tem um clima de melancolia no ar”, diz o músico.

Dividido entre as aulas de violão, shows e novos arranjos, Daniel investe ainda num projeto inédito: formar um trio com o baterista americano Marlon Browden, que já tocou com Cat Stevens, e com o baixista mineiro Trigo Santana. “Tem um pouco a ver com música afro-brasileira, e eu vou tocar uma guitarra de sete cordas”, antecipa.

Daniel não espera um grande retorno financeiro desta fase na Alemanha. Mas acha que Berlim tem outras vantagens: “Aqui você não ganha dinheiro, não faz carreira. Quem tenta isso, em geral dá com os burros n’água. Mas é um lugar interessante do ponto de vista social. Acho legal poder sair para tocar, para praticar e estar em dia quando surge algo na agenda internacional. Esse contato com o público é fundamental”.

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