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Papa Francisco, Viagem, Países Bálticos

Papa homenageia judeus exterminados da Lituânia

O papa Francisco evocou, neste domingo (23), diante de 100.000 fiéis católicos, o extermínio dos judeus da Lituânia, cometido pelos nazistas, 75 anos depois do fim do gueto de Vilnius. O pontífice afirmou que as novas gerações precisam se lembrar do passado para não ceder a discursos similares que voltaram à atualidade.

Papa Francisco escreve uma nota em livro de visitantes no Museu das Ocupações e Lutas por Liberdade, em Vilnius, na Lituânia, 23 de setembro de 2018
Papa Francisco escreve uma nota em livro de visitantes no Museu das Ocupações e Lutas por Liberdade, em Vilnius, na Lituânia, 23 de setembro de 2018 Alessandro Di Meo/Pool via REUTERS
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"Há 75 anos, esta nação presenciava a destruição definitiva do gueto de Vilnius. Assim, tinha fim a aniquilação de milhares de hebreus, que já havia começado dois anos antes", lembrou o papa, em tom grave, antes da oração do Ângelus, em um parque de Kaunas, a segunda cidade do país.

No segundo dia de sua viagem pelos países bálticos, o sumo pontífice pediu o "discernimento para detectar a tempo qualquer novo surto dessa atitude perniciosa, qualquer ar que dilua o coração das gerações que não viveram aquilo e que, às vezes, podem correr atrás desses cantos de sereia".

Depois da oração do Ângelus, Francisco disse que iria rezar à tarde diante do monumento às vítimas do gueto de Vilnius, a capital do país. "Penso, nesses últimos dias, particularmente na comunidade judaica", acrescentou.

Sofrimento da população

Pouco antes, em outra missa que reuniu uma multidão, o papa também evocou os sofrimentos da população, sob o jugo, primeiramente, dos nazistas e, depois, do regime soviético. "As gerações passadas terão deixado gravado a fogo o tempo da Ocupação, a angústia dos que eram levados, a incerteza dos que não voltavam, a vergonha da delação, da traição", afirmou. "Kaunas sabe disso. A Lituânia inteira pode testemunhar com um calafrio diante da simples menção da Sibéria, ou dos guetos de Vilnius e de Kaunas", completou.

No mesmo momento, cerca de 20 judeus reunidos na sinagoga de Vilnius, a centenas de quilômetros, enumeravam com tristeza o nome de alguns sobreviventes do gueto, onde morreram 70.000 pessoas.

A visita do papa a este país de menos de 2,9 milhões de habitantes, católicos em sua maioria, emocionou Kaunas. "Ele nos traz esperança. Que esperança? A de um amanhã melhor", disse Edyta, uma mulher de 30 anos.

Jerusalém do norte

Chamados "litvaks", os judeus lituanos formavam, até os anos 1940, uma comunidade de mais de 200.000 membros que fizeram florescer a literatura iídiche e a vida religiosa. Muitos políticos, como o ex-premiê israelense Ehud Barak, personagens da cultura como o escritor Amós Oz, artistas e empresários têm raízes lituanas.

O extermínio cometido pelos nazistas - com alguns colaboradores lituanos - afetou praticamente todos aqueles que haviam transformado Vilnius na "Jerusalém do Norte". Os poucos sobreviventes foram, em muitos casos, ajudados por amigos lituanos. Hoje, não restam mais do que 3.000 judeus no país.

Quando falam da Segunda Guerra Mundial, os lituanos adotam o plural para falar de duas Ocupações: a alemã e a soviética. A Polícia política de Moscou, a KGB, assumiu a prisão da Gestapo e a usou até os anos 1980 para deter e interrogar os religiosos que se negavam a aceitar a perseguição contra o clero e os fiéis.

Foi o caso de Sigitas Tamkevicius. Detido em 1983, ele foi duramente interrogado pelos investigadores da KGB, que queriam interromper a todo custo a redação e a difusão de um boletim não autorizado sobre as perseguições dos católicos, o "Crônica". O periódico circulava de forma clandestina para o Ocidente e era lido pelas emissoras de rádio que emitiam sua programação do exterior.

Após a homenagem silenciosa às vítimas do Holocausto, o papa Francisco visitou a cela de Tamkevicius na antiga prisão, transformada em museu.

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