Bélgica supera divergências internas para torcer contra o Brasil
Publicado em:
Ouvir - 05:46
A Bélgica se prepara para enfrentar a Seleção Brasileira pelas quartas de final da Copa do Mundo, na sexta-feira (6). O país, tradicionalmente dividido pelas divergências políticas, está unido na torcida pelos "Diabos Vermelhos".
Letícia Fonseca, correspondente da RFI em Bruxelas
Quando os Diabos Vermelhos entrarem em campo na sexta-feira, os belgas devem deixar a eterna rivalidade entre flamengos e valões de lado e torcer unidos pelo país. Nas ruas da capital Bruxelas, bandeiras enfeitam as fachadas na esperança de que a equipe nacional se classifique para a semifinal.
Depois da virada impressionante contra o Japão, que deu a vitória ao time europeu, a febre dos fãs aumentou. Eles estão muito confiantes na seleção do país, que desde o início desta Copa não perdeu nenhum jogo. Tanto que o lema dos torcedores dos "Diabos Vermelhos" - como é chamada a equipe belga - é “a vitória ou nada”.
O futebol está unindo a Bélgica neste momento. Porém, não há dúvida de que esse fenômeno deve durar apenas até o final da Copa do Mundo.
Bélgica, um país sui-generis
Com uma área pouco maior do que o estado de Alagoas, a Bélgica é um país sui-generis. Tem três idiomas oficiais: francês, holandês e alemão e desde sua criação, em 1830, convive com divisões históricas e barreiras linguísticas.
Além das duas regiões – Flandres e Valônia – a capital Bruxelas, com pouco mais de 1,2 milhão de habitantes, é o principal elo de ligação entre as duas comunidades e a única região bilingue. Considerada uma das cidades mais cosmopolitas do mundo, Bruxelas tem moradores de 163 nacionalidades.
A parte sul do país, a Valônia, é francófona; era no passado um centro de indústrias pesadas e mineração carvoeira. Hoje, a região está mergulhada em uma crise econômica, com altos índices de desemprego.
Já Flandres, ao norte, onde se fala holandês, corresponde a cerca de 70% do PIB belga. Dinâmica e moderna, a maioria dos flamengos defende a idéia de uma Confederação, com a Bélgica se transformando em uma associação de Estados soberanos.
Rivalidade entre o norte e o sul do país
A Bélgica nasceu no século XIX como Estado-tampão entre franceses e holandeses. A Inglaterra, grande potência mundial da época, apoiou o pleito da criação deste novo país para evitar uma possível anexação da região à França, grande rival dos ingleses.
O país vive em um aparente apartheid linguístico. Com exceção de Bruxelas, no norte, só se fala holandês e, no sul, francês.
No passado, a Valônia era a região mais rica do país e Flandres era vista com desdém pelos valões. Atualmente, a situação é inversamente o contrário. O idioma francês é hoje, e foi no passado, a língua da monarquia e das elites burguesas belgas. Embora o conflito entre o norte e o sul se refira, sobretudo, ao idioma, há interesses econômicos por trás.
Diversidade linguística influencia o time da Bélgica
Este perfil multicultural do país também pode ser encontrado na equipe de futebol belga. Entre titulares e reservas, 12 jogadores são flamengos, 6 são valões e 5 nasceram em Bruxelas. Praticamente todos são de famílias de origem estrangeira. O técnico dos Diabos Vermelhos, Roberto Martínez, é espanhol.
Para não dar preferência a apenas um dos idiomas oficiais da Bélgica, a seleção decidiu adotar o inglês como língua comum. Tanto no campo quanto nos vestiários, o time inteiro se comunica em inglês.
Vários jogadores belgas conviveram com brasileiros nos clubes por onde passaram. E alguns, como o artilheiro Lukaku e o meia Axel Witsel, são fluentes em português.
NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.
Me registro