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Espanha/ ETA

Fim do ETA: independência pela violência é via em extinção

A autodissolução da organização separatista basca ETA deve levar à "reconciliação", consideraram integrantes do Grupo Internacional de Contato pela Paz no País Basco, em um ato realizado na localidade francesa de Cambo-les-Bains, nesta sexta-feira (4). O ato consolida a dissolvição do grupo armado independentista, proclamada na quinta-feira (3). Especialistas na organização avaliam que os separatistas entenderam que, após 59 anos e mais de 850 mortes, o caminho da violência não resultará em avanços nas suas reivindicações políticas: será preciso passar pela via democrática.

Mediador mexicano Cuauhtemoc Cardenas entrega a Declaração de Arnaga, ao lado de Bertie Ahern, Michel Camdessus, Jonathan Powell, Anaiz Funosas e Gerry Adams, no evento internacional para avançar na resolução do conflito no País Basco, em Cambo-les-Bains .
Mediador mexicano Cuauhtemoc Cardenas entrega a Declaração de Arnaga, ao lado de Bertie Ahern, Michel Camdessus, Jonathan Powell, Anaiz Funosas e Gerry Adams, no evento internacional para avançar na resolução do conflito no País Basco, em Cambo-les-Bains . REUTERS/Vincent West
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"Hoje é um dia de celebração, mas não acabou", declarou o advogado sul-africano Brian Currin, integrante do grupo de contato, ao inaugurar o encontro internacional "para avançar na resolução do conflito no País Basco". A autodissolução do ETA é também "um compromisso para participar do processo democrático" na Espanha, o que implica "a necessidade de reconciliação", explicou.

A organização clandestina anunciou o “desmantelamento de todas as suas estruturas” e “o fim de toda atividade política”. Em entrevista à RFI, outro membro do grupo de contato, o cientista político Alberto Spektorowski, destacou que “a fase da violência acabou”.

“Agora, começa uma parte muito dolorosa, porque se trata da memória histórica e que será uma discussão política na qual veremos uma mistura de muitos sentimentos”, constata Spektorowski. “É essa discussão que vai acontecer agora, na qual a Espanha não parece disposta a colaborar – pelo menos não abertamente”, observa o cientista político.

Rajoy mantém a firmeza contra ex-integrantes

Nesta sexta-feira (4), o presidente do governo espanhol, Mariano Rajoy, prestou uma homenagem a todas as vítimas do ETA e reiterou à organização separatista que, apesar de sua dissolvição, não haverá impunidade para seus crimes. “A investigação dos crimes do ETA continuará, seus delitos continuarão a ser julgados e as condenações continuarão a ser executadas”, advertiu. Uma das principais reivindicações do grupo é que os cerca de 300 detidos sejam transferidos para penitenciárias no País Basco, para se aproximarem de suas famílias.

Anthony Sfez, pesquisador da Escola de Altos Estudos Hispânicos e Ibéricos, afirma que, com a autodissolução, o ETA não renuncia ao objetivo histórico da independência, mas sim às armas e à violência. O independentismo basco permanece forte, ressalta, à RFI. “O uso da violência passou a ser considerado como incapaz de gerar uma mobilização dos cidadãos bascos. Trata-se, portanto, de uma tentativa de iniciar uma reivindicação pela via pacífica e democrática, como vemos na Catalunha”, explica o especialista no conflito basco.

Perdão difícil

Sfez lembra que a rejeição ao ETA só aumentou, inclusive entre os bascos, na medida em que o grupo intensificou os atentados após a transição democrática na Espanha, e não durante o período da ditadura franquista (1936-1977). “Morreram policiais, políticos, mas também muitos civis e bascos, em plena instauração da democracia. Isso explica o fato de que, hoje, o perdão ainda é uma etapa muito difícil nesse processo”, afirma. “Cada família pode chegar a esse perdão, se desejar. Mas é certo que a Justiça não vai dar esse presente para os membros do ETA que estão presos.”

Após quase seis décadas de atentados, sequestros e extorsões, o grupo proclamou na quinta-feira (3) o "final de sua trajetória" em uma declaração lida pelo veterano dirigente Josu Ternera, foragido desde 2002 e suspeito de cometer um atentado que deixou 11 mortos em 1987.

As associações de vítimas da organização, que não estiveram presentes no ato no País Basco francês, expressaram sua insatisfação com a forma como a dissolução foi feita. O Coletivo das Vítimas do Terrorismo (Covite) pede a colaboração do ETA para elucidar os 358 crimes que, conforme suas contas, não foram elucidados até hoje. O coletivo quer ainda que o grupo condene publicamente a violência e pare de homenagear ex-integrantes que cumpriram pena e foram libertados da prisão.

Com informações da AFP

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