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Brasil-Mundo

Jovem mineiro se destaca no mundo da moda na Dinamarca

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O talento de um jovem mineiro começa a ser notado no competitivo mundo da moda da Dinamarca. Felipe Coelho, de apenas 23 anos de idade, já teve suas criações apresentadas num desfile no hotel mais luxuoso do país na presença de Mary, a princesa herdeira da Dinamarca. Agora, ele se prepara para lançar seu próprio site de comércio eletrônico, que terá roupas feitas com tecidos fabricados de forma sustentável no Brasil.

O designer mineiro Felipe Coelho.
O designer mineiro Felipe Coelho. Foto: Arquivo Pessoal
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Margareth Marmori, correspondente da RFI na Dinamarca

Felipe nasceu em Montes Claros e chegou à Dinamarca em 2016 como aluno de bacharelado do Senac de São Paulo graças a um programa de intercâmbio com a Escola de Design e Tecnologia de Copenhague. Poucos meses depois de chegar ao país, ele foi um dos três alunos escolhidos para representar a escola no desfile no Hotel D’Anglettere, que era parte de uma competição de jovens talentos do norte da Europa. Felipe já tinha pensado em participar da competição, mas desistiu da ideia quando soube que ela era apenas para estudantes em final de curso.

“Só que aí, cinco meses depois que eu tinha mudado para cá, ainda intercambista, em janeiro, eles [a direção da escola] me mandaram um e-mail falando que queriam que eu participasse do evento. Para mim foi um choque porque eu não estava esperando, justamente por ter conversado com eles sobre isso, por não ser um aluno formando e porque ainda estava um ano distante da minha formatura. Isso foi em torno de três semanas antes do evento e eles queriam que eu usasse algumas peças que eu tinha, criasse uma composição e fosse participar. Eu disse, não, não tem como ir para a quarta maior semana de moda do mundo, apresentar para a princesa da Dinamarca os meus produtos de faculdade, e propus a eles montar uma coleção nova nessas duas semanas,” ele conta.

Sustentabilidade

Felipe encarou dias intensos de trabalho e conseguiu terminar a coleção a tempo para a competição que, embora não tenha vencido, lhe abriu novas portas. Meses depois, ele foi convidado a expor seus produtos gratuitamente numa famosa feira de design da Dinamarca e vem participando de eventos privados para divulgar e vender sua primeira coleção, que é inspirada no Japão.

Felipe ainda trabalha nas instalações da faculdade, mas pretende em breve abrir seu próprio ateliê em Copenhague. Ele explica que suas confecções continuarão sendo feitas com tecidos brasileiros e serão produzidas dos dois lados do Atlântico, como ele explica:

O design e a modelagem, a pesquisa, tudo é feito na Dinamarca. Os produtos que são vendidos na Dinamarca são confeccionados na Dinamarca, enquanto os produtos vendidos no Brasil são produzidos no Brasil. A mão de obra aqui na Dinamarca é muito mais cara e se eu conseguir produzir no Brasil, eu também consigo reduzir o preço do produto para os brasileiros”.

Além da qualidade e beleza, o mineiro também espera que seus produtos sejam reconhecidos pelo respeito ao meio ambiente e aos direitos dos funcionários envolvidos no trabalho. Felipe trabalha em parceria com a empresa paulista Gvallone que, ele explica, fornece os tecidos sustentáveis que ele usa em suas criações.

Criação do brasileiro Felipe Coelho.
Criação do brasileiro Felipe Coelho. Foto: Hedda Rysstad

Crítica ao consumismo

Na produção, Felipe busca reaproveitar materiais e diminuir o descarte de resíduos. A preocupação ambiental é um dos motivos pelos quais ele optou por trabalhar sem estoque, mantendo apenas uma amostra da coleção, que é usada para fotografias e eventos. Só depois de ser encomendada é que uma peça de roupa é confeccionada de acordo com as medidas e pedidos para ajustes do cliente.

Mas, na opinião do designer, o impacto ambiental da indústria da moda não é o único problema do setor. Felipe não poupa críticas ao setor, que é considerado o segundo mais poluente do mundo e é frequentemente associado a denúncias de trabalho escravo.

“O problema não é só o descarte, não é só o lixo que está sendo gerado, mas essa é uma indústria que é podre por trás desse glamour, da propaganda e dos desfiles. É uma indústria cheia de abusos, desde da plantação, da matéria-prima, até a produção têxtil, o design, enfim, é tudo muito podre mesmo. Foi por isso que eu comecei a trabalhar com sustentabilidade. Em primeiro lugar, porque o mundo precisa, a gente precisa parar, precisar reduzir. Isso é conflitante porque, apesar de eu estar lançando o meu produto, quero que meu produto venda, mas que venda com limites porque não quero promover o consumismo.”

Versatilidade

A preocupação do designer em não promover o consumo exagerado ajuda a explicar a versatilidade e durabilidade das peças que ele cria. Em sua primeira coleção, as peças são unissex, podem ser usadas em ocasiões diferentes e algumas podem até ser vestidas pelo avesso.

Felipe veio para ficar apenas seis meses na Dinamarca, mas acabou sendo aceito como aluno da Escola de Design e Tecnologia de Copenhague, onde vai terminar seu bacharelado em abril.

O mineiro sente muitas saudades do Brasil, mas planeja continuar na Europa para levar sua empresa adiante. Ele também pretende frequentar um mestrado, mas está enfrentando dificuldades para viabilizar o curso porque não tem condições financeiras para pagar e porque a grande maioria das bolsas de estudo disponíveis são oferecidas exclusivamente a europeus.

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