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Linha Direta

Centenário da Revolução Russa inspira nostalgia, mas divide opiniões

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Neste 7 de novembro, a Revolução Russa de 1917 completa oficialmente 100 anos. Esse já foi o maior feriado soviético, mas a data foi tirada do calendário oficial de comemorações há mais de uma década. Os festejos em torno do centenário são discretos e o governo não fala no assunto. Já os comunistas têm organizado alguns eventos desde o último fim de semana. Isso mostra que, cada vez mais, a revolução é um tema que divide na Rússia contemporânea. No entanto, mais do que nunca, a nostalgia está no ar. 

Partido Comunista Russo promoveu manifestação no último fim de semana em frente ao mausoléu de Vladimir Lenin para marcar o centenário da Revolução de 1917 em Moscou.
Partido Comunista Russo promoveu manifestação no último fim de semana em frente ao mausoléu de Vladimir Lenin para marcar o centenário da Revolução de 1917 em Moscou. REUTERS/Grigory Dukor
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Vivian Oswald, correspondente da RFI, especial de Moscou

Houve comemorações do centenário, mas elas têm acontecido em pequeníssimas proporções nos últimos dias, basicamente organizadas pelo Partido Comunista. Na segunda-feira (6), houve uma manifestação em São Petersburgo que acabou reunindo quatro mil pessoas, entre membros do partido na Rússia e estrangeiros do mundo todo. São integrantes de movimentos de esquerda, ou simpatizantes da Revolução de 1917, que viajaram para o país atrás dos festejos. 

Brasileiros que fizeram essa viagem ficaram decepcionados com a falta de importância dada à data na Rússia. Um diplomata que serviu em Moscou na década de 1980 me disse que no tempo em que morou no país eram proibidas as manifestações contra a Revolução, e agora as manifestações favoráreis à data é que devem ser realizadas discretamente.

Nesta terça-feira (7) está prevista uma parada militar na Praça Vermelha em Moscou, em homenagem à ida dos soldados soviéticos para o front para enfrentar os alemães na Segunda Guerra Mundial. Isso é a confirmação de que o Kremlin está interessando em apenas alguns trechos da história pós-revolução. E a vitória na Grande Guerra Patriótica, como chamam os russos, é uma delas. 

7 de novembro não é mais feriado 

Desde 2006, o governo Putin tirou o 7 novembro do calendário das comemorações oficiais. No lugar, criou-se um feriado no dia 4 de novembro para marcar a vitória russa numa obscura guerra contra a Polônia no século XVIII. 

Entre as gerações mais velhas, todos reconhecem a importância que teve o 7 de novembro para a União Soviética, mas esse sentimento diminui entre os mais jovens. Mesmo os nostálgicos têm uma saudade seletiva: em geral, segundo especialistas, sentem falta dos anos 1970, quando a vida tinha um pouco mais de estabilidade e todos pareciam ter o suficiente para sobreviver; quando houve o maior programa de distribuição de imóveis do país. 

Uma pesquisa de opinião feita pelo Instituto Yuri Levada, em abril, mostrou que 48% dos russos viam a Revolução de 1917 como um acontecimento positivo, enquanto 31% a avaliavam de forma negativa e 21% não sabiam responder. 

Mas outras sondagens revelam, ao mesmo tempo, que o número dos que acreditam que os primeiros anos após 1917 foram negativos aumenta consistentemente: subiu de 38% em 1984 para 48% no ano passado. 

Nostalgia está no ar

Neste ano, os russos trocam mais do que nunca cartões eletrônicos e filmes com imagens da União Soviética. Lojas com objetos que fazem lembrar os velhos tempos também estão em alta. De certa forma, até ocupam uma espécie de vácuo imposto pelas sanções econômicas a que a Rússia está submetida há três anos. Nas feiras, Lenin e até Stalin, que tinha sido proscrito nos início dos anos 1960, têm lugar de destaque. 

Ao lado de um shopping luxuoso, um dos símbolos da era capitalista russa que fica a 10 minutos do Kremlin -onde está em um mausoléu o corpo de Vladimir Lenin - o museu do “Arcade” soviético seria mais um estabelecimentos destes que continuam a se multiplicar pela cidade com decoração descolada em edifícios pré-revolucionários. Mas ali há uma atmosfera diferente. São dezenas de fliperamas soviéticos dos anos 1970 a 1990, com as explicações sobre a temática da Guerra Fria. 

Todas as máquinas em exibição funcionam para a alegria dos frequentadores. O bilhete de entrada, que custa 450 rublos (cerca de R$ 26)   o que seria um escândalo na era soviética   dá direito a 20 moedas da época no valor de 15 rublos. 

TVs exibem filmes soviéticos

Por mais que os canais de televisão não estejam falando muito sobre a Revolução de 1917, eles passam muitos documentários e debates sobre as guerras da União Soviética, e repetem uma das paixões russas até hoje: os filmes soviéticos. No Hotel Cosmos - um símbolo soviético ele próprio - construído para a Olimpíada de 1980, exibia em um telão uma das produções preferidas da população: “Ivan Muda de Profissão”. 

Esses filmes, muitos deles quase inocentes, eram feitos para mostrar um lado quase poético da União Soviética e entreter o cidadão. Por sinal, o site da Mosfilm, a produtora soviética que existe até hoje, disponibiliza os clássicos soviéticos traduzidos em inglês para quem quiser assistir.

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