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Brasil-Mundo

Pesquisador brasileiro busca na Dinamarca respostas para preservar Amazônia

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Como amostras do solo de um país frio, no norte da Europa, podem ajudar na preservação da Floresta Amazônica? Quem tem a resposta é o engenheiro florestal brasileiro Rodrigo Pinheiro Bastos, estudante de doutorado da Universidade de Copenhague.

Rodrigo Bastos em trabalho de coleta de amostras de solo na Dinamarca.
Rodrigo Bastos em trabalho de coleta de amostras de solo na Dinamarca. Arquivo Pessoal
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Margareth Marmori, correspondente da RFI em Copenhague

Nascido em Brasília e criado em Goiânia, Rodrigo está há mais de três anos na Dinamarca estudando como os esforços para aumentar a cobertura florestal nesse país escandinavo estão provocando alterações no solo.

Na Dinamarca, há várias áreas que foram reflorestadas 100, 200 anos atrás. Um dos pontos centrais do estudo do brasileiro é descobrir se, com o passar do tempo, uma área reflorestada continua promovendo transferência de carbono da atmosfera para o solo. O carbono, quando liberado na atmosfera na forma de gás carbônico, contribui para o aquecimento global.

“A partir do momento em que você refloresta áreas agricultáveis, depois de muito tempo, a gente ainda não sabe se a floresta continua sendo fonte de carbono ou se ela passa a ser também sumidouro de carbono, se ela começa a sequestrar mais carbono da atmosfera ou se ela começa a liberar mais carbono na atmosfera”, explica Rodrigo.

País investe em reflorestamento depois de ter dizimado suas florestas

A Dinamarca é um ótimo campo para esse tipo de pesquisa porque há séculos o país vem tentando recuperar parte de suas florestas, que quase desapareceram no século 18. No ano 2000, o governo criou um plano para que o país volte a ter aproximadamente 20% de seu território coberto por florestas até 2020.

Desde que chegou à Dinamarca, em 2014, Rodrigo percorreu 20 locais diferentes em quase todas as regiões do país para colher material para sua pesquisa. “A gente está fazendo uma comparação pareada. Eu coleto amostras de solo na floresta e na área agricultável do lado da floresta, para comparar essas amostras em profundidade de até um metro, subdividido em diferentes camadas”, conta ele.

A pesquisa também inclui a análise do solo amazônico numa fazenda situada a 220 quilômetros de Manaus, cidade onde Rodrigo fez seu mestrado e morou antes de deixar o Brasil. Lá, o trabalho é feito em parceria com o Instituto de Pesquisas da Amazônia e, segundo Rodrigo, se concentra numa espécie de árvore.

“Na Amazônia, a gente tem o desflorestamento e nesse caso, em uma fazenda particular, a gente estudou uma espécie da Amazônia que é muito conhecida, que é a castanheira da Amazônia ou “Brazil nut”, para o reflorestamento, como ela contribui para a melhoria do solo, da fertilidade do solo, da física do solo.”

Castanheira oferece solução ambiental e econômica

A escolha da castanheira para o estudo no Brasil tem razões ambientais e econômicas. De acordo com Rodrigo, a árvore é ótima para plantio em áreas degradadas porque tolera bem condições ambientais extremas como forte radiação solar, pouca humidade e falta de nutrientes. Além disso, o pesquisador acredita que, como a comercialização da castanha é uma fonte de renda, a castanheira pode dar ao homem condições de permanecer na floresta.

“Se a gente conseguir implementar ou castanheira da Amazônia, ou qualquer outra espécie que dê lucro para o homem, ele vai se estabelecer na terra tirando seu sustento e a gente está conseguindo concluir que plantando castanheira da Amazônia o homem consegue tirar o seu lucro, consegue tirar seu sustento e você consegue proteger e restaurar a área.”

Na área do estudo na Amazônia, Rodrigo analisou quatro tipos de solo: o da plantação de castanheiras, de um pasto e de trechos de floresta virgem e de floresta secundária, que é aquela que voltou a crescer depois da intervenção humana. Os resultados preliminares das observações indicam que o estoque de carbono no solo da plantação de castanheira cresceu mais rapidamente do que o da floresta secundária.

Portanto, segundo Rodrigo, se o objetivo é aumentar o estoque de carbono no solo, reflorestar uma área pode ser mais eficiente do que simplesmente abandoná-la para que a floresta se recupere naturalmente. “A sucessão natural acontece, mas ela acontece muito mais rápido quando tem a ajuda do homem. Não foi o homem que degradou, por que ele não pode ajudar? ”, defende ele.

A intervenção humana também pode ser necessária em áreas com altíssimo nível de degradação, como acontece em áreas de mineração, ou que foram reflorestadas há séculos, como ocorre na Dinamarca.

“A partir do momento que eu sei que florestas muito antigas, uma hipótese, não conseguem mais absorver carbono, então, vamos chegar a um ponto em que, em vez de a gente continuar com essa floresta em pé, a gente faz um desbaste, a gente corta algumas árvores e planta outras para continuar esse fluxo contínuo de absorção de carbono da atmosfera.”

Brasil pode evitar erros da Dinamarca

O doutorado de Rodrigo termina em fevereiro de 2018 e ele vai deixar a Dinamarca com uma impressão muito positiva sobre as condições favoráveis que o país oferece aos pesquisadores. Quanto às políticas florestais, ela acha que o Brasil tem muito a aprender com os acertos e também com os erros da Dinamarca.

“Qual o maior erro que a Dinamarca está pagando muito caro? Eles desflorestaram muito. Chegaram a menos de 4% de florestas. Agora eles estão investindo altos recursos para conseguir reflorestar novamente essas áreas que não têm mais valia ou que produzem muito pouco. Qual é o meu objetivo? Que a Amazônia aprenda com os erros da Dinamarca. A gente não precisar fazer os mesmos erros para aprender. Vamos aprender com quem já passou por isso.”

Embora não descarte a possibilidade de fazer um pós-doutorado no exterior e se preocupe com a retorno ao Brasil, Rodrigo não pensa em viver indefinidamente no exterior. Ele considera como sua missão disseminar seu conhecimento no Brasil e ajudar o país.

“O país está vivendo um momento muito ruim, né, politicamente, economicamente. Mas quem puder, tem que voltar para ajudar, mas vai ser difícil. Mas é o que a gente tem de fazer. Meu sonho é ser professor universitário e disseminar tudo o que aprendi aqui na Dinamarca.”

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