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O Mundo Agora

Rússia desafia OTAN com um dos maiores exercícios bélicos desde o fim da Guerra Fria

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A Rússia vai realizar um megatreino militar nas fronteiras com a Europa do Norte e do Leste. O "Zapad 2017" é um dos maiores exercícios bélicos desde o fim da Guerra Fria: dezenas de milhares de homens, equipamentos de última geração e até armas nucleares.

Navio militar russo durante exercício militar no Mar Báltico na região de Kaliningrado. 26/09/13
Navio militar russo durante exercício militar no Mar Báltico na região de Kaliningrado. 26/09/13 Reuters
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O território coberto pelas manobras vai desde a Bielorússia até o enclave russo de Kaliningrado entre Polônia e Lituânia. Uma clara ameaça aos bálticos, poloneses e escandinavos. Uma demonstração de força para tentar impressionar – e acovardar – os membros da Aliança Atlântica.

Até agora, Moscou e Minsk não se dignaram a notificar as manobras à Organização de Segurança e Cooperação na Europa, nem a convidar observadores da OTAN, como exige o acordo de 2011 sobre as medidas de confiança e transparência militar no Velho Continente.

Como se Vladimir Putin quisesse provar que tem forças suficientes para intimidar os vizinhos europeus e o resto da aliança ocidental. E que está pouco se lixando para as formalidades do direito internacional.

Multiplicação das provocações

O "Zapad 2017" está preocupando os estados-maiores ocidentais. Até agora ninguém acredita a sério que possa ser um pretexto para uma nova ofensiva do Exército vermelho, como aconteceu na Ucrânia. Mas com Putin nunca se sabe: os bálticos, os finlandeses e os poloneses sabem perfeitamente, por experiência histórica, que não dá para facilitar com o Kremlin.

Sobretudo agora quando os Estados Unidos, a maior potência ocidental, estão nas mãos de um presidente que sempre criticou a OTAN e só recentemente aceitou publicamente a responsabilidade de defender outro membro da aliança em caso de agressão. Aliás, a Rússia, nos últimos anos, vem multiplicando as provocações aéreas e marítimas no mar Báltico, criando um clima de tensão permanente.

Uma situação que levou a OTAN a melhorar a sua logística e infraestrutura e a mandar quatro batalhões multinacionais para reforçar a defesa coletiva e a dissuasão nessa frente oriental da aliança.

Mas por enquanto, apesar dos tambores de guerra, as intenções de Moscou são mais políticas do que militares. Os objetivos mais importantes de Putin continuam sendo não só dividir os europeus e os americanos, mas também fragmentar a própria União Europeia.

O novo tzar do século XXI sonha em restabelecer uma zona de influência russa na Europa do Leste (como na época da Guerra Fria). E para isso é necessário liquidar ou enfraquecer a construção europeia.

O Kremlin prefere muito mais tratar com Estados soberanos europeus cada um com sua própria política externa, do que com um bloco europeu unido. Sobretudo nesse momento em que o relativo distanciamento americano está favorecendo o velho projeto de uma Europa da defesa e de uma integração econômica e financeira ainda mais estreita.

"Fake news" no Facebook

O Facebook acaba de revelar que empresas russas compraram espaço na rede para “inventar” cidadãos americanos que divulgavam notícias falsas para ajudar a campanha de Donald Trump. A Rússia vem utilizando armas cibernéticas e propagandísticas sofisticadas para se intrometer nos processos eleitorais nos Estados Unidos e em vários países europeus. A estratégia é apoiar movimentos ultranacionalistas, xenófobos e antieuropeus com vistas a sabotar os projetos de maior integração europeia.

As manobras "Zapad 2017" fazem parte dessa ofensiva. Criar um clima de insegurança na Europa do Leste e do Norte só pode exacerbar as tensões políticas entre os países membros da União Europeia – entre os que se sentem diretamente ameaçados e a turma dos “deixa-disso”, que está mais longe ou que tem interesses econômicos na relação com os russos.

Mais uma vez, Putin utiliza uma demonstração de força para ganhar alguns peões no tabuleiro geoestratégico. Mas de novo o tiro está saindo pela culatra. A ameaça russa está convencendo os europeus a acelerar a Europa da defesa, e a OTAN está renascendo das cinzas. Só que a Europa tem que viver de novo nesse ambiente de guerra. Nem fria nem quente: morna.

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