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Linha Direta

Para UE, segundo turno da eleição francesa é entre Europa e extrema-direita

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O segundo turno da eleição presidencial francesa é decisivo para a União Europeia. Bruxelas cruza os dedos e aposta na vitória do candidato centrista pró-UE, Emmanuel Macron, contra a representante da extrema-direita, Marine Le Pen, no segundo turno, no dia 7 de maio.  

A maioria dos governos europeus, decidiu apoiar e apostar na vitória de Macron no segundo turno.
A maioria dos governos europeus, decidiu apoiar e apostar na vitória de Macron no segundo turno. REUTERS/Benoit Tessier TPX IMAGES OF THE DAY
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Letícia Fonseca, correspondente da RFI em Bruxelas

Logo que os primeiros resultados do primeiro da eleição francesa foram confirmados, o mundo político em Bruxelas se apressou em felicitar o ex-ministro da Economia da França, Emmanuel Macron, candidato centrista que dividirá o pleito com Marine Le Pen, da Frente Nacional, no dia 7 de maio.

A primeira reação veio do presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, que cumprimentou Macron e desejou "ânimo para o que segue" na disputa com Le Pen. Já a chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, elogiou a performance de Macron. “Ver as bandeiras da França e da União Europeia saudando o resultado de Macron mostra a esperança e o futuro de nossa geração”.

Vale lembrar que Macron tem 39 anos e Mogherini, 43, sendo portanto da mesma geração. O chefe do negociador-chefe da UE para o Brexit, o francês Michel Barnier, declarou o apoio a Macron e afirmou que “a França deve permanecer europeia”. Nos últimos dias, Bruxelas tem tentado reforçar a mensagem de que as eleições francesas não estão sendo vistas como crise, e sim uma oportunidade para o exercício da democracia. Mas o establishment e Juncker nunca esconderam a preferência por Macron.

Às vésperas do primeiro turno na França, Juncker, garantiu que mesmo se a eurocética Marine Le Pen for eleita, o bloco irá sobreviver. A declaração de Juncker vai na contramão da opinião de especialistas, que asseguram que se a líder da extrema-direta entrar no Palácio do Eliseu, o golpe poderá ser fatal para a União Europeia. Bruxelas nunca apoiou os Le Pen, nem o pai e muito menos a filha, que defende a saída da França da zona do euro e a renegociação do país na UE. E para o desespero do bloco a consolidação da extrema direita na França é um fato que não pode ser negado.

Alemanha confiante na vitória de Macron

A Alemanha confia na vitória de Emmanuel Macron. A chanceler alemã Angela Merkel, através de sua porta-voz, desejou boa sorte ao candidato pró-europeu no segundo turno. O chefe da diplomacia da Alemanha, Sigmar Gabriel, disse ter certeza que Macron será eleito presidente. "Estou certo de que ele varrerá a extrema direita, o populismo e os antieuropeus”.

Outro apoio a Macron veio do ex-presidente do Parlamento Europeu, Martin Schultz, que disputará as eleições legislativas com Merkel em setembro próximo. Nos 60 anos de história da União Europeia, a participação franco-alemã foi fundamental nas decisões do bloco. E será ainda mais agora, com o Brexit - a saída de Grã-Bretanha da UE.

Com isso, tanto o próximo presidente da França, como o vencedor das eleições alemãs, terão papeis decisivos no futuro da Europa. No início da campanha eleitoral na França, Merkel estava apoiando o candidato conservador François Fillon. Porém, o escândalo de corrupção envolvendo o político e sua família fizeram Berlim mudar de direção. Macron, que não era levado a sério, passou a ser a opção favorita. Em março, ele se encontrou com Merkel em Berlim, e logo depois foi aprovado publicamente pelo governo alemão.

Disputa entre extrema-direita e UE

Na verdade, o segundo turno será uma disputa entre a extrema direita e a UE. Durante a campanha e a votação do primeiro turno não foram apenas os franceses que mantiveram o fôlego em suspenso, a Europa também. O resultado das eleições presidenciais na França vai influenciar o futuro de todo o continente. Por isso, a maioria dos governos europeus decidiu apoiar e apostar na vitória de Macron no segundo turno. O primeiro-ministro dinamarquês, Lars Løkke Rasmussen afirmou que “a Europa precisa de uma França com abertura de espírito”.

O primeiro-ministro belga Charles Michel fez sua declaração de apoio a um projeto europeu otimista e rumo ao futuro”. Os candidatos vencedores do primeiro turno das eleições francesas Emmanuel Macron e Marine Le Pen têm programas opostos em quase todos os pontos. Enquanto a líder da extrema-direita tem um discurso xenófobo e defende a saída da França da zona do euro, Macron representa o candidato pró-europeu, que não pretende questionar os tratados do bloco, prometendo dar fôlego novo à União Europeia.

Especialistas acreditam que o cenário de 2002 deve se repetir. Na época o pai de Marine, Jean-Marie Le Pen foi para o segundo turno contra o ex-presidente francês Jacques Chirac, que teve uma vitória esmagadora contra Le Pen. Tudo indica que agora, quinze anos depois, o cenário se repita no domingo, 7 de maio. Uma votação massiva em Macron para barrar, mais uma vez, a chegada da Frente Nacional ao poder.

Eleição presidencial francesa repercute na imprensa europeia

Todos os grandes jornais europeus destacaram a vitória de Macron e Le Pen na edição desta segunda, 24. O duelo do segundo turno é destaque na imprensa francesa. "Macron-Le Pen: as duas Franças", diz a manchete da capa do Le Monde. O jornal ressalta que pela primeira vez na história da V República os dois principais partidos do país, Os Republicanos (LR, na sigla em inglês) e o Partido Socialista (PS) foram eliminados no primeiro turno. Já o Libération estampa a foto de Macron com a frase "a um passo do Eliseu".

De acordo com o jornal, o segundo turno na França será um confronto entre o social liberalismo e o nacionalismo, entre a abertura e a reclusão, entre a Europa unida e a França solitária. Já o conservador Le Figaro afirma que a derrota do candidato centro-direita do LR, François Fillon, representa um fracasso histórico para a direita na França. A mídia europeia saudou a performance de Macron, ainda que alguns jornais apontaram para a ameaça de um segundo turno com a extrema-direita. Para o britânico The Guardian, o candidato centrista representa “a melhor esperança de um grande país, profundamente perturbado”.

O Financial Times vê no segundo turno “a coroação de Macron”, porém ressalta que o ex-ministro da Economia da França “terá que negociar duro para colocar seu programa em marcha”. Na Alemanha, o periódico conservador Frankfurter Allgemeine escreve que “mais de 40% dos franceses votaram em candidatos muito à direita ou muito à esquerda”, e conclui que “a vitória de Macron é muito estreita”. Para a revista alemã de centro-esquerda Der Spiegel, o sucesso de Macron é “uma bofetada na cara o sistema político”. A edição online do espanhol El País diz que “Macron recebe apoio de seus rivais para frear Le Pen”. Na Itália, o principal jornal Corrieri della Sera qualifica a vitória de Macron no primeiro turno como uma “bela surpresa”.
 

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