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“É chocante o contingente de eleitores que apoiam extrema-direita na Holanda”, diz sociólogo

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Os europeus acompanham com muito interesse as eleições legislativas desta quarta-feira (15) na Holanda. Pela primeira vez, a extrema-direita do líder do Partido para a Liberdade (PVV), Geert Wilders, pode chegar à frente da votação, criando um cenário de incertezas sobre a formação do futuro governo e os rumos da União Europeia.

O sociólogo João Bosco Féres.
O sociólogo João Bosco Féres. Arquivo Pessoal
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Mesmo se o partido extremista, que pretende adotar uma política abertamente anti-imigração e anti-islã, ficar à frente e conquistar até 30 das 150 cadeiras do parlamento europeu, como apontaram algumas sondagens, o PVV não tem a menor possibilidade de compor uma maioria para assumir o governo, segundo o sociólogo João Bosco Féres, brasileiro que vive na Holanda há 47 anos.

“Um dos ganhos das últimas semanas dessa campanha eleitoral é que todos os partidos holandeses se negam a formar uma coligação com Wilders. Mesmo se seu partido liderar e tiver 30 cadeiras ou mais, ele não vai conseguir formar um governo porque vai precisar de outros (partidos)”, afirma. “Se isso acontecer, o PVV vai para a oposição e ficará muito limitado. Esse partido é simplesmente incapaz de fazer alianças e é isolado”, acrescenta.

Atualmente governada por uma coalizão liderada pelo Partido Popular para a Liberdade e a Democracia (VVD), do atual primeiro-ministro Mark Rutte, que pretende se manter no cargo, a Holanda poderá servir de termômetro para avaliar a temperatura no bloco europeu, que terá ainda este ano terá eleições na França e na Alemanha. “Uma vitória do partido de extrema-direita teria uma grande repercussão negativa porque seria a primeira pedra do dominó a cair. Teria uma repercussão complicada para a França, Alemanha, Bélgica, e outros”, afirma.

Por outro lado, se as urnas não consagrarem o partido extremista, as eleições holandesas poderão deixar uma grande lição, na leitura do sociólogo. “Os partidos neste momento estão equiparados com cerca de 15 cadeiras cada um. Quer dizer, a próxima coligação terá que ser feita com quatro a cinco partidos. Isso significa que será urgente desarmar esse clima de ódio e ressentimento que existe contra os estrangeiros e contra os refugiados”, afirma.

Dissipar clima anti-imigrantes

O avanço da extrema-direita na Holanda segue uma tendência que cresceu muito na Europa com a crise dos imigrantes e refugiados e potencializada com a exploração do sentimento anti-islã e antimuçulmano, que no caso holandês, é simbolizada pelo candidato Geert Wilders. Entre as suas propostas estão a proibição da entrada de muçulmanos, do alcorão e da construção de mesquitas no país.

No entanto, segundo Féres, a perda de fôlego do partido PVV nas últimas semanas antes do pleito é reveladora também de que o clima anti-estrangeiro tem outras origens e motivações. “A campanha holandesa mostrou que esse sentimento tem raiz na insegurança econômica e social do resto da população, principalmente das camadas mais pobres. O que muitos pensavam que era uma expressão clara de racismo, na verdade tem mais a ver com uma reação aos efeitos do neoliberalismo”, defende.

Urnas podem trazer surpresas

Segundo Bosco, a queda pela preferência do candidato extremista na reta final é consequência também dos erros políticos do próprio Wilders. “Ele fez uma campanha errada. Wilders se apresentou apenas em um debate público com os outros opositores políticos. Ele deixou uma imagem clara que evita a discussão política, o confronto político”, explica.

No entanto, diz Féres, assim como nos Estados Unidos com a eleição de Donald Trump, as urnas podem trazer uma surpresa sobre a real disposição dos holandeses de apoiar os projetos de WIlders, pois é grande o número de eleitores que ainda estão na dúvida. “Pode ser que não aconteça. Mas a revelação mais chocante dos últimos anos é que há um grande contingente de holandeses que concordam perfeitamente com essa perspectiva anti-estrangeiro e antimuçulmano”, lamenta.
 

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