"Unidade! Unidade", pedem espanhóis do Podemos, em plena crise interna

Confrontado a uma crise interna que ameaça a sua  existência, o partido de esquerda espanhol Podemos abriu neste sábado (11), em Madri, o Congresso que vai decidir o seu futuro.

Ao centro, Pablo Iglesias, líder do Podemos, durante manifestação em Madri em janeiro de 2017 Reuters/Susana Vera

O conflito interno do Podemos, a última grande força de esquerda na Europa, coloca o atual líder Pablo Iglesias diante do seu rival, Inigo Errejón. Ambos têm projetos muito diferentes, cuja incompatibilidade causou um racha no partido.

Milhares de militantes foram ao palácio dos congressos de Vistalegre, entonado pedidos de unidade, mas também o seu tradicional slogan, "Sim, podemos". Em resposta aos gritos de unidade, Iglesias discursou que "a divisão trabalha para o inimigo", observando que "hoje não falamos a nós mesmos, hoje falamos para um povo".

Programas opostos e equilíbrio interno do Podemos

Os dois líderes discursaram hoje para defender seus respectivos programas, na véspera da divulgação do resultado da votação interna que irá definir o equilíbrio de poder dentro da formação. Nos últimos meses, as equipes de Errejón e Igrejas tornaram-se grandes rivais e desestabilizaram o partido.

Errejón, de 33 anos, apelou à transversalidade para atrair eleitores de uma esquerda mais moderada, dizendo que devemos inspirar "coragem" e "confiança" para "todo o nosso povo". "A transversalidade não se parece com os velhos partidos políticos, mas assemelha-se às pessoas que trabalham", observou pouco antes Pablo Iglesias (38 anos), que defende seu programa de priorizar a ação na rua.

Entre gritos constantes de "unidade, unidade!", Miguel Urban, líder de uma terceira corrente, anti-capitalista, declarou em um discurso vigoroso que "aqui em Vistalegre não há inimigos", mas que "os inimigos estão fora de Vistalegre e são poderosos".

Em Vistalegre, os militantes vão definir a liderança da terceira força política espanhola, nascida em 2014 no calor da crise econômica e que governa em coalizão várias grandes cidades, incluindo Madri, Barcelona, Zaragoza, La Coruña e Cádiz.

As pesquisas apontam Podemos como segunda força política, mas nas duas eleições legislativas organizadas na Espanha nos últimos 14 meses foi incapaz de superar os socialistas do PSOE, imersos em um crise de liderança.

Os partidários têm até a noite deste sábado para votar on-line nos programas de quatro concorrentes, bem como nos assentos do órgão de diretivo (chamado Conselho Cidadão) e da secretaria-geral.

Iglesias quer seguir como secretário-geral do partido, e só compete com Juan Ignacio Moreno Yagüe, deputado no parlamento regional da Andaluzia. Errejón não quis concorrer a este posto. Iglesias alertou, porém, que renunciará se o seu programa perder, o que abriria uma segunda crise.