Acessar o conteúdo principal
Brasil-Mundo

Renomado DJ brasileiro deixa São Paulo para começar vida nova em Copenhague

Publicado em:

Para muitas pessoas, reconstruir a vida aos 53 anos de idade em uma cidade desconhecida e em um país onde a população fala um idioma ininteligível pode parecer loucura. Mas esse foi o desafio que o DJ paulista Renato Lopes resolveu enfrentar quando se mudou para a capital dinamarquesa, depois de quase 30 anos trabalhando com música eletrônica em São Paulo.

O DJ paulista Renato Lopes.
O DJ paulista Renato Lopes. Foto: Margareth Marmori
Publicidade

 Margareth Marmori, correspondente da RFI Brasil, em Copenhague

Renato já foi considerado o melhor DJ do Brasil e se consagrou como um dos pioneiros da música eletrônica brasileira. Ele começou a carreira no legendário Madame Satã, foi DJ de clubes noturnos famosos da noite paulistana, como o Nation Club e Sra. Krawitz, e chegou a gravar um remix para a cantora Daniella Mercury.  Um ano e meio atrás, Renato chegou à Dinamarca sem trabalho e sem lugar para morar, mas decidido a construir uma vida nova ao lado do companheiro com quem havia acabado de se casar no Brasil.

Segundo ele, antes de vir para Copenhague, ele nunca tinha imaginado viver na cidade: “A ideia de vir para Copenhague partiu do meu companheiro, do tempo em que nos conhecemos. Ele viveu aqui durante um tempo, por volta de quase um ano, trabalhando com gastronomia. Quando nos conhecemos, enfim, o que era muito comum entre nós dois era a vontade de estar vivendo alguma outra coisa diferente. Ele passou muito tempo fora do Brasil mas nesse tempo em que ele esteve em São Paulo, que foi o período em que a gente se conheceu, ele também não se identificou mais com a cidade, não se encontrou mais lá e queria voltar para a Europa. E eu há alguns anos já estava querendo sair de São Paulo. Eu estava buscando novos horizontes – em trabalho, vivência, cultura - e calhou da gente se conhecer e ter esse mesmo desejo, ideias muito próximas. Eu não tinha ideia de destino e ele veio com essa proposta da gente vir morar aqui”.

Disposição

Para Renato, recomeçar a vida na Europa é uma consequência natural da sua forma otimista de encarar a vida. “O que aconteceu é que eu acho que eu sempre vivi assim na contramão do que era fazer um plano de vida. Do período que eu fui do interior, de Registro, no estado de São Paulo, para São Paulo, a capital, enfim, para fazer faculdade e tudo o mais, e acabei desistindo. Depois de quatro anos trabalhando em banco, eu resolvi investir na carreira de música, porque eu comecei trabalhando pela rádio Eldorado e, lá, por consequência, eu comecei a discotecar e tive a grande sorte de trabalhar no circuito alternativo de São Paulo”.

 

M. Marmori

O DJ ainda luta para se firmar profissionalmente e, para garantir o sustento, tem feito trabalhos temporários, como o de empacotador para uma empresa de correios. Mas ele não reclama.“Eu acho assim, que a partir do momento que eu vim para cá, eu vim disposto a novas experiências e sabendo que haveria limitações por essa questão do idioma e por conhecer uma nova cultura e sociedade. Então eu lido com tudo isso com boa disposição. Trabalhei como assistente de cozinha, assistente de um mercado de produtos orgânicos lá no centro de Copenhague e agora com esse trabalho de empacotamento.

Nenhum desses trabalhos tem ordem criativa, mas ao mesmo tempo o fato dele me proporcionar o meu sustento já é uma grande tranquilidade e me dá uma motivação para poder seguir em frente. Não vejo nenhum desses trabalhos como uma carreira. E também nem sei dizer assim, além da carreira original como DJ e com música, o que vem ainda a acontecer. Mas gosto de estar aberto e poder me proporcionar essas experiências. Se elas vão de fato valer a pena ou não, eu vou descobrir. Pode ser minha dose de loucura de fazer isso tudo agora aos 55 anos, estou para completar 55, mas eu encontro disposição para isso.“

Barreiras

Renato se mantém musicalmente ativo criando remixes que ele disponibiliza em serviços de streaming. Seu último trabalho ganhou o nome do nosso programa – Brasil Mundo - e pode ser ouvido no MixCloud (https://www.mixcloud.com/djrelopes/brasil-mundo-mix/). Ele também aproveita as oportunidades que surgem para trabalhar como DJ e já tocou na comunidade de Christiania e no mercado gastronômico mais popular de Copenhague – o Papirøen. Com essas experiências, ele já consegue avaliar as diferenças entre as noites paulistana e a de Copenhague.

“A noite aqui obviamente é bem interessante. As pessoas são muito interessadas por música. Eu tive muita sorte de tocar em lugares muito legais até agora e ter experiências incríveis e o reconhecimento também do meu trabalho, mas, numa comparação com o que é São Paulo, realmente ela (Copenhague) é bem menor. Em São Paulo sempre foi muito rico, muito intenso, muito variado, mas agora mais ainda. Agora tem todo esse caráter de frente, as questões políticas, da posição de ocupação da cidade, de utilizar para festas espaços públicos que estavam à deriva. Então tem todo um movimento que é muito interessante e estimulante lá, que aqui não se faz tão necessário.

Aqui tem uma outra coisa, outra dinâmica, que é legal, é interessante, é muito mais associada, principalmente, à questão climática. Eu entendo que aqui é no verão que de fato as coisas acontecem e acontecem de maneiras bem interessantes; festivais de rua, as coisas que acontecem na beira do canal. Acho que tem outra dinâmica, obviamente que não deixa de ser interessante. E, para mim, ainda estou tendo contato, construindo também minha rede, minha “network”.

Renato acha que ainda está vivendo o processo de entender a cidade, fazer amizades e vencer barreiras como o idioma que, para ele, não é fácil de aprender. Ainda assim, através da experiência que teve até agora, ele já pode dizer que os dinamarqueses se interessam bastante pela música brasileira.

“Tem um grande interesse pela música brasileira e tem DJs, aqui, tem pelo menos um DJ que é muito inteirado, envolvido com a música brasileira, com a cultura musical brasileira e que se tornou um especialista, que é o Rasmus Schack. Ele tem um programa de rádio, ele promove festas, enfim, e calhou de a gente se conhecer e de eu tocar com ele algumas vezes, e de eu tocar música brasileira, que foi uma oportunidade de desenvolver uma outra coisa que originalmente como DJ eu nunca fiz e aqui eu tive a oportunidade”.

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Veja outros episódios
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.