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Linha Direta

Podemos está à beira do racha na Espanha

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Na Espanha, dois grupos políticos atravessam momentos de crise. De um lado, a extrema-esquerda vê seu principal partido, o Podemos, enfraquecido e fragmentado por uma intensa disputa interna entre o líder da sigla, Pablo Iglesias, e seu vice, Iñigo Errejón. O outro movimento que vive um momento de turbulência é o dos separatistas catalães. Ao longo de toda esta semana, o ex-presidente da Catalunha, Artur Mas, está sendo julgado desde segunda-feira (6) por desobediência civil e prevaricação por ter organizado uma consulta pública sobre o separatismo, mesmo com proibição da Justiça.

Pablo Iglesias, líder do Podemos, durante a primeira sessão parlamentar em 13 de janeiro de 2016, em Madri.
Pablo Iglesias, líder do Podemos, durante a primeira sessão parlamentar em 13 de janeiro de 2016, em Madri. REUTERS/Juan Medina
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Luisa Belchior, correspondente da RFI em Madri

A crise no Podemos espanhol acontece em um momento em que cresce a direita radical em toda a Europa. O partido de extrema-esquerda, o mais jovem e promissor da Espanha, sofre uma espécie de crise existencial.

Nesta semana, os membros da sigla vão votar para eleger seu líder. O atual presidente e fundador do partido, o deputado europeu Pablo Iglesias, seria o candidato natural da maioria. Só que seu vice, Iñigo Errejon, criou um movimento interno que concorrerá com Iglesias, rachando assim todo o partido e criando fortes tensões.

Errejón tem ideias mais liberais e próximas à centro-esquerda, enquanto o atual presidente da sigla é partidário da ala mais radical.

Risco de derrota de Iglesias

As dúvidas são muitas em caso de derrota de Pablo Iglesias. O que se questiona na Espanha é se, depois desse racha, o partido terá fôlego para continuar, ganhe quem ganhar.

O Podemos, vale lembrar, surgiu na carona do movimento dos Indignados, que tomou as praças de toda a Espanha em 2011. A sigla foi a grande vencedora nas eleições para o Parlamento europeu um ano depois de nascer. Pablo Iglesias chegou a liderar pesquisas de intenção de voto para a presidência do país. Mas, ano passado, terminou em terceiro lugar.

Recentemente, ele foi acusado de receber ilegalmente dinheiro do governo venezuelano. Iglesias nega essas acusações. Podemos é a terceira força hoje no Parlamento espanhol, com 71 deputados, apenas 14 a menos que os socialistas

Julgamento de Artur Mas

O ex-presidente da Catalunha, Artur Mas prestou depoimento na segunda-feira (6), primeiro dia de seu julgamento por desobediência civil e prevaricação. Ele assumiu toda a responsabilidade pela convocação da consulta pública, realizada em 2014, mas negou ter desobedecido ordem da Justiça.

Mas convocou o referendo quando era presidente da Catalunha, cargo que ocupou de 2010 a 2016. O governo espanhol foi então à Justiça, alegando que apenas a administração central poderia organizar uma consulta pública.Os tribunais deram razão a Madri.

No depoimento desta segunda-feira, Artur Más alegou que a sentença não havia deixado claro a extensão da proibição. Por isso, decidiu manter a convocação da consulta popular não vinculante, organizada por centenas de voluntários em setembro de 2014. 

Na ocasião, cerca de 2,3 milhões de pessoas, mais de um terço dos catalães, foram às urnas, montadas com caixas de papelão em escolas e prédios públicos. A grande maioria, 80%, votou pela independência.

Dias depois, o governo espanhol apresentou queixa contra a consulta à Justiça, que invalidou o processo. Mas acusou Madri e até o sistema judiciário da Espanha de impedir a liberdade de expressão do povo catalão. 

O Ministério Público Espanhol denunciou o então presidente catalão por desobediência civil grave e prevaricação. A Justiça aceitou a denúncia e inciou o julgamento, que termina na próxima sexta-feira (10).

Movimento pela independência continua forte

Movimento pela independência da Catalunha continua e está cada vez mais forte. Na segunda-feira, cerca de 40 mil pessoas foram às ruas de Barcelona em apoio a Artur Mas, que caminhou com os manifestantes por mais de uma hora até as portas do Tribunal de Barcelona. Se for julgado culpado, o ex-presidente catalão será impedido de exercer funções públicas durante dez anos.

Independentemente da sentença, que deve sair na sexta-feira, o movimento independentista promete continuar a luta. Em 2015, nas eleições regionais, o Parlamento Catalão passou a ser formado majoritariamente por partidos separatistas, que retomaram o projeto de independência. Eles aprovaram o Estatuto para uma Catalunha independente, que também já foi anulado pela Justiça. Mesmo assim, os deputados já afirmaram que, até setembro, farão um plebiscito, com ou sem aprovação de Madri e dos tribunais.

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