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Ilhas gregas têm clima de guerra entre migrantes e neonazistas

A presença de 16 mil migrantes nas ilhas gregas do Mar Egeu, as tensões com os moradores e as campanhas feitas por grupos de extrema direita contra eles compõem os ingredientes de um coquetel explosivo.

Campo de refugiados na ilha de Quios
Campo de refugiados na ilha de Quios REUTERS/Alkis Konstantinidis
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Depois de Lesbos e Samos, a tensão se transferiu há três dias para a ilha de Quios, onde nesta sexta-feira (18) um sírio ficou gravemente ferido por uma pedrada perto do campo de refugiados de Suda.

Na quarta (16) e na quinta-feira (17), alguns homens não identificados atiraram pedras e artefatos incendiários de uma montanha perto do campo, onde vivem 800 migrantes, e destruíram as tendas de 100 deles.

A polícia acredita que se tratam de moradores enfurecidos após dois assaltos ocorridos na quarta-feira, aos quais se seguiram a destruição de casas e carros. Policiais prenderam três adolescentes argelinos e um iraniano de 40 anos.

Quios, que acolhe cerca de 4 mil refugiados, está "em ebulição", disse uma autoridade policial que não quis se identificar.

Consequências para o turismo

A situação é similar em outras ilhas da área, onde há aproximadamente 16 mil migrantes e refugiados. Os habitantes dizem estar incomodados com a chegada em massa e com as consequências negativas para o turismo.

Os migrantes também estão cansados de esperar - alguns já aguardam há meses - uma resposta para seus pedidos de asilo.

Seu receio é que sejam devolvidos à Turquia, como estipula um acordo entre o governo turco e a União Europeia assinado em março para frear a onda migratória.

Por enquanto, a espera os obriga a viver em péssimas condições, agravadas pelo cansaço, falta de dinheiro e a chegada do inverno.

"Em todas as ilhas, vemos que as pessoas estão desesperadas, decepcionadas", diz Roland Schöenbauer, porta-voz na Grécia do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur).

"Só resta a eles um sentimento de revolta", adverte a filial belga do Médicos Sem Fronteiras (MSF).

Deputados neonazistas em viagem

A cada dia, dezenas de refugiados continuam chegando, em sua maioria sírios, afegãos e iraquianos, segundo o Acnur. Desde 2015, um milhão de migrantes, em grande parte sírios, entraram no país.

Nesse contexto, não se pode descartar que as organizações de extrema direita tentem aproveitar a tensão, alerta a autoridade policial.

Esta semana, um grupo de deputados do partido neonazista Aurora Dourada visitou Quios e Lesbos.

Segundo o site do partido, o terceiro mais importante da Grécia, quatro deputados belgas do Vlaams Belang, um partido independentista flamenco de extrema direita, também os acompanharam.

Até agora, a extrema direita estava à margem do debate sobre os migrantes, recebidos em um primeiro momento com demonstrações de solidariedade pelos gregos.

Mas agora seus deputados estão visitando as ilhas e fazendo campanha, também na Grécia continental, onde há outros 45 mil migrantes retidos após o fechamento das fronteiras europeias.

Chegada em massa

O governo está preocupado com as tensões entre a Turquia e a UE, que poderiam provocar outra onda de chegadas em massa. Por enquanto, seu objetivo de esvaziar as ilhas do Egeu de migrantes parece muito distante, e apenas 350 foram até agora para o continente, segundo o Acnur.

As autoridades europeias só enviaram uma pequena parte dos reforços prometidos para ajudar os encarregados gregos a agilizar a verificação dos pedidos de asilo.

Em outubro, o ministro grego de Política Migratória, Yannis Mouzalas, não escondeu sua "fúria" com a UE. "A UE tem que apoiar o acordo com a Turquia, não é só uma questão de solidariedade com a Grécia, é uma obrigação", afirmou.

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